O antigo futebolista inglês Paul Gascoigne, uma das referências de Inglaterra nas décadas de 80 e 90, revelou que está nesta altura sem casa, a viver num quarto vago da sua agente Katie Davies, em Poole, na costa sul de Inglaterra, isto enquanto continua a travar a sua batalha contra o álcool.

«Eu costumava ser um bêbado feliz. Já não o sou. Sou um bêbado triste. Eu não saio para beber, bebo sem sair», afirmou o inglês de 56 anos - um dos melhores jogadores da sua geração e que se destacou pelas passagens por Newcastle, Tottenham, Lazio ou Rangers - ao podcast High Performance.

O 57 vezes internacional pela seleção inglesa (apontou dez golos), não tem conseguido dar um rumo firme a uma vida que, depois do futebol, tem sido marcada pelos problemas com o álcool, com o vício do jogo e também, por inerência, com a sua saúde mental.

«As pessoas conhecem o Paul Gascoigne. Mas o Gazza, ninguém conhece. Às vezes, nem eu. Passei muitos anos em baixo, quando rompi os ligamentos e depois a rótula. Perdi quatro anos de futebol. Poderia ter 100 internacionalizações [ndr: por Inglaterra]», disse o antigo atacante.

«Eu tento não ficar em baixo porque o mundo já está em baixo. E, quando estou mesmo em baixo, é quando eu pego numa bebida para me animar», prosseguiu Gascoigne, defendendo que, mais do que aos outros no mundo do futebol, se desiludiu a si mesmo.

«Eu não penso que dececionei algum treinador, jogadores ou adeptos. Se houve alguém que dececionei, foi a mim mesmo. Mas mais o lado da bebida, quando acabei de jogar», referiu Gascoigne, que já foi várias vezes detido por situações relacionadas com o álcool, tendo estado várias vezes em reabilitação.

Gascoigne, que como jogador teve uma reta final de carreira menos fulgurante, com passagens por Middlesbrough, Everton, Burnley, Gansu Tianma (China) e Boston United, de 1998 a 2004/05, falou ainda de aspetos de como o álcool toca no seu quotidiano.

«Se eu quero ter um mau dia, vou ao pub. Se quero que seja um bom dia, pego na cana de pesca e vou pescar. Não é o álcool, é o que vem depois. Olhar para o meu telefone e ver 30 mensagens ou chamadas perdidas. Sei que estou em sarilhos. O último ano não foi brilhante, foi de altos e baixos durante vários meses», expressou.

Revelando que está de volta a encontros de alcoólicos anónimos, Gascoigne diz que uma das formas com que tenta combater o consumo de álcool é com o consumo de café. E que, com frequência, bebe seis cafés antes das dez da manhã.

«Guardo muitas coisas, coisas que devia partilhar, mas fico com medo de partilhá-las com as pessoas. Eu penso que nunca vou crescer, mas não me importo. Estou orgulhoso pelo que dei às pessoas. Dei perto de um milhão de libras a dez instituições de caridade diferentes e liguei-lhes a pedir segredo. Nunca desisti. Acho que a hora em que vou ceder é quando estiver numa caixa de madeira. Tirando isso, vou continuar a lutar», garantiu.