A história do futebol escreve-se com linhas dignas de uma montanha russa. O F.C. Porto apurou-se com sofrimento, aguentou o rombo em noventa minutos de grande nível, tempo suficiente para construir uma goleada. Perdeu (0-1). Apurou-se.

O Sevilha podia seguir em frente? Podia. Sem merecer. O tento de Fabiano foi uma prova de eficácia num onze de qualidade inferior. Segue-se o CSKA de Moscovo. Teve mais sabor assim, gritam os portistas, a plenos pulmões, com um sorriso na face.

Minuto 55. Acordaram os espanhóis. Até então, o Sevilha denotara respeito excessivo pelo poderio do F.C. Porto. Tentara marcar, é certo, sem arriscar o necessário para chegar aos dois golos exigidis. Mérito, pois então, da formação portista.

Com pouco mais de meia-hora pela frente, Gregorio Manzano denotou finalmente ambição. Colocou Fabiano e tirou um lateral. Pode queixar-se de falta de sorte na primeira mão. No Dragão, esteve quase a ganhar a lotaria.

Alvaro e Falcao para o melhor onze

Até então, quase tudo fora pintado a azul e branco. André Villas-Boas recuperou Alvaro Pereira e Falcao, desviando Fucile para a direita. O onze favorito dos adeptos portistas para uma inusitada tarde europeia.

35 mil adeptos nas bancadas, belo número, dezenas de baixas repentinas , postos de trabalho sem dono, uma cidade parada a acompanhar a sua equipa. Ao vivo, pela televisão, rádio ou internet, enquanto não chega a hora de saída do emprego. Tudo vale.

Os relatos chegavam com boas notícias. O F.C. Porto mostrou-se pouco impressionado com a entrada do Sevilha. Aproveitando as fragilidades dos laterais visitantes, os dragões ganharam sede pelo golo e raramente entregaram a iniciativa de jogo. O Sevilha, reforça-se, pouco fez para a conquistar.

Tiro ao boneco e a tudo

Em suma, se o resultado da primeira mão enganava, diga-se então que a equipa de Villas-Boas merecia golear no Estádio do Dragão. Acertou na trave, nos adversários, no guarda-redes, denotou até excesso de pontaria. Criou inúmeras situações de golo, sem precisar dele.

O Sevilha, pela imagem transmitida, procurou apenas deixar aquela imagem de «quase». «Quase conseguíamos». «Se não fosse o primeiro jogo...». Por aí fora. Para um treinador em apuros, aceita-se. Mas esta formação andaluz, ficou mais que provado, está um patamar abaixo dos dragões.

O F.C. Porto foi sério, acutilante e quis vencer. Perdeu, mas saiu por cima. Falcao regressou, fugiu a contactos mas ficou a centímetros do golo. Alvaro Pereira enchera o campo até cometer uma imprudência grave, já depois do tento de Luís Fabiano. Expulsão, tudo em aberto.

Dragão a sorrir com o coração nas mãos

Recuando no filme, eis então o minuto 55. Manzano lança Fabiano. O Sevilha ataca a três. Até então, Kanouté era a principal referência (porquê ter Otamendi a marcá-lo, com défice de centímetros?). Os dragões não quiseram saber, continuaram por cima, em busca do golo. Hulk falhou. O Fabuloso não.

Vinte minutos para o final, 0-1. Luís Fabiano ganha espaço, aguenta a carga e marca. De azul e branco, pouco o fez. Agora, a confiança dá lugar ao susto. Para mais, Alvaro Pereira responde à frustração com uma entrada despropositada, arriscada. Vermelho. Excesso de rigor? Talvez, mas aceita-se.

Adeptos impacientes, Villas-Boas também. O F.C. Porto estivera sempre por cima. Num ápice, fica perto do abismo. Dois minutos, segundo amarelo para Alexis. Howard Webb consegue finalmente expulsar um visitante. Este, por exemplo, já escapara ao vermelho na primeira parte.

O Dragão acabou preso às cadeiras, com o coração nas mãos, a bater forte. Assim, talvez traga mais sabor. Contudo, a injustiça ficou a um pequeno passo, ao alcance de um Sevilha retardatário. Pagou por isso mesmo.