A história é bem conhecida, mas contada pelo próprio Deco ganha uma nova vida. Em 1997, muito antes de se tornar o Mágico do futebol português, Deco chegou a Portugal para jogar no Benfica. Pelo menos era isso que pensava o atleta. Ao aterrar em Lisboa, percebeu logo que o destino seria outro.

«Mal chegámos, eu e o Cajú, apresentaram-nos um diretor do Alverca. Entrámos num Renault 19 e nunca mais chegávamos à Luz, só víamos placas a dizer Alverca. Era o clube satélite do Benfica. Não queria ter saído do Corinthians, um grande clube, e ir para o Alverca era um retrocesso. Mas eu nunca fui muito de reclamar», revelou Deco numa conversa com Ricardo Rocha, antigo internacional brasileiro e atleta do Sporting na época 1988/89 [12 jogos/1 golo].

Mas há outras histórias. Esta, logo à chegada, também merece ser lida. 

«Quando chegámos ao aeroporto de Lisboa, estava lá a Imprensa toda e eu disse ao Cajú, que também tinha viajado comigo: 'nossa, estão aqui à nossa espera'. Estávamos com moral. Afinal estavam todos à espera do Paulo Nunes, a contratação da época.»

O problema com o Benfica, garante Deco, foi Graeme Souness. «O Souness começou a apostar em jogadores mais velhos e não olhava para aquela base que tinha no Alverca. Não era só eu; havia também o Maniche, o Hugo Leal, o Bruno Basto e outros jogadores que fizeram carreiras importantes.»

Na Luz, Deco teve um grande defensor: António Simões. «Lembro-me que o António Simões queria que eu ficasse, e até disse que foi o maior erro do Benfica não ter ficado comigo, mas naquela época o Souness não deu oportunidade e o Vale e Azevedo fazia o que o treinador mandava.»

Deco falou também sobre Messi, colega em Barcelona - «Se lhe passavam a bola, ele fintava todos. Se não passassem, ele ficava parado» - e sobre a influência de Jorge Mendes na sua carreira.

«O Benfica não aproveitou, porque tinha de exercer a opção de compra pelo meu passe. É aí que entra o Jorge Mendes, que foi fundamental. Em dezembro desse ano [1997], tinha propostas de clubes da I Divisão do campeonato Paulista, entre os quais o Ituano e a Portuguesa Santista. Fiquei na dúvida se devia voltar ao Brasil, porque mesmo estando num clube da II Divisão portuguesa, estava a destacar-me», contou Deco. 

«Lembro-me que na semana em que estava para falar com o empresário João Feijó para dizer que queria voltar ao Brasil, marquei dois golos num jogo e o Jorge Mendes ficou impressionado e fomos jantar. Foi o ponto de viragem.»

Deco acabaria por fazer uma carreira brilhante em Portugal com a camisola do FC Porto, transferindo-se em 2004 para o Barcelona.