5-0! O FC Porto foi dono e senhor do clássico, goleou o Benfica e fez lembrar, mais de 13 anos depois, uma célebre noite no Dragão. Esta foi mais uma.

Foi um clássico de mão cheia para o FC Porto e tal como espelha o resultado. Limpo. Sem azo a discussões.

Galeno bisou na primeira parte, assistiu Wendell para o 3-0 na segunda e, já após a expulsão de Otamendi (viu dois amarelos em dez minutos), Pepê fez o 4-0 e Namaso fechou uma goleada que já não se via desde que, em 2010, o FC Porto de Villas-Boas (e de Otamendi...) goleou o Benfica de Jesus.

Se a grande luta dos treinadores (também) é a questão emocional e a mentalidade, como disse Conceição na antevisão, então a desta noite foi claramente ganha pelo FC Porto.

O dragão puxou da qualidade que tem. E juntou-lhe o lado mental. Tudo junto. Como poucas vezes se viu com tanta clareza esta época. Por fim, pintou o clássico de azul e branco, que dominou e fez mais por merecer ganhar.

O Benfica já tinha tremido várias vezes esta época, mas passou quase sempre entre os pingos da chuva. Passou por exemplo à justa em Toulouse, saiu vivo do dérbi na Taça há três dias. Mas a noite no Dragão foi um descalabro autêntico. E merece uma reflexão.

E se este jogo não era o «tudo ou nada» para Conceição, o FC Porto tirou tudo dele. Coloca-se a seis pontos das águias, que voltam a perder a liderança para o Sporting, que tem mais um ponto do que o Benfica e ainda um jogo a menos face aos rivais.

Não era o tudo ou nada, não. Mas o FC Porto tinha neste jogo um ganhar ou ganhar. Não só na perspetiva do título, como também do segundo lugar. E voltou a mostrar o que tem mostrado no passado recente em muitos jogos com o Benfica: quando está por baixo e joga quase a vida, agiganta-se. Fá-lo nestes nos jogos grandes, como fez com o Arsenal. Embora, esta época, tenha sido apenas a primeira vitória interna nos jogos entre grandes, após duas derrotas com o Benfica e uma em Alvalade.

Com dúvidas dissipadas e Galeno e Evanilson a irem a jogo, Conceição tirou apenas Fábio Cardoso e lançou Otávio ao onze face ao jogo nos Açores, enquanto Schmidt apostou em Morato na esquerda da defesa e Tengstedt como referência na frente, tirando Bah (que nem no banco esteve) e David Neres.

Só que a tentativa de mudar e trazer ao jogo o que de bom se tirou no final do jogo de Alvalade caiu cedo por terra. O FC Porto entrou melhor. Foi ultrapassando a pressão inicial que o Benfica exercia. Francisco Conceição massacrou Morato pelo seu corredor, Di María e Aursnes nem sempre estiveram em sintonia a defender. E o Benfica foi incapaz de encurtar espaços por dentro e por fora, não impedindo que o FC Porto fosse chegando sucessivamente à área de Trubin. Do lado do FC Porto, todos tiveram uma noite sim. De Nico no meio-campo até Pepê mais à frente, passando por Galeno ou Conceição. E os centrais do Benfica também tiveram uma noite para esquecer.

Pepê deu logo um primeiro aviso de cabeça (2m) e Galeno ensaiou, ao minuto 14, o que aí vinha, com uma perdida na cara de Trubin, em resposta a uma primeira aproximação do Benfica por Tengstedt.

Aos 20 minutos, o Dragão explodiu com o golo de Galeno, que rematou solto ao segundo poste após canto de Francisco Conceição. Wendell posicionou-se legalmente junto a Trubin no lance e o ucraniano, quando armou o ataque à bola, já foi tarde.

Como foi tarde a reação do Benfica, sobretudo depois da imagem deixada na primeira hora de jogo em Alvalade na quinta-feira. O FC Porto acertou bem a pressão, não subindo em demasia, controlando bem a profundidade. Rafa e Di María não conseguiram ter espaços, como João Neves ou João Mário não tinham bola como queriam, fruto da intensidade dos dragões. Só entre os 30 e os 35 minutos, quando Di María – tal como ante o Sporting – fugiu da direita para a esquerda, é que houve uma reação. Ficou-se por um remate perigoso de Rafa socado por Diogo Costa e por uma tentativa desenquadrada do argentino.

A superioridade do FC Porto em campo tornaria natural do 2-0. Aconteceu ao minuto 44, quando Otamendi deu de forma proibida o pé esquerdo a Francisco Conceição para um cruzamento que, na área, espelhou a incapacidade do Benfica: Evanilson ganhou o duelo a Aursnes e Galeno a António Silva, para bisar e bater Trubin.

Para a segunda parte, Schmidt tirou Morato e Kökçü e lançou Carreras e Florentino. Mas de pouco valeu. O Benfica ainda entrou com mais atitude na segunda parte, mas o FC Porto foi letal e praticamente acabou com as dúvidas aos 56 minutos, quando Di Maria não baixou para defender e Galeno serviu à vontade Wendell para o 3-0. 

Castigo ou não, Schmidt tirou logo a seguir Di María e Tengstedt, lançou Neres e Arthur Cabral, mas não houve como reagir, sobretudo porque Otamendi viu o segundo amarelo e foi expulso aos 61 minutos, deixou o Benfica com dez e forçou a saída de Rafa para a entrada de Tomás Araújo.

A partir daqui, para o Benfica era só minimizar estragos. Diogo Costa foi um mero espetador e o FC Porto chegou ao 4-0 aos 75 minutos, por Pepê. E, enquanto nas bancadas se pedia «só mais um», o Benfica já só queria sair de uma noite de pesadelo, que acabou com paralelismos com o 5-0 de 2010, quando o recém-entrado Namaso finalizou uma noite de mão cheia em cima do minuto 90.

O FC Porto juntou a mentalidade à qualidade e sai vivo para o resto da Liga, com uma noite de mão cheia. E o Benfica com uma lição para o futuro breve.