Bombonera? Ali Sami Yen? Olímpico de Atenas? Não, não. Dragão. O clássico bem pode ter começado com canções de embalar que eclodiu em ruído estridente.
Durante 90 minutos, houve artistas em palco, adrenalina e puro 'rock ‘n roll'.
Depois do apito final, porém, a música desafinou.
Houve objetos atirados das bancadas, confrontos entre jogadores, staffs técnicos em campo, expulsões – o administrador da SAD portista, Luís Gonçalves, caiu no relvado, após ser empurrado por Bruno Tabata; Matheus Reis levou um murro de um colete azul. Enfim, um espetáculo com um triste final, após um duelo frenético, mas dentro dos limites enquanto o jogo durou.
Pepe, Marchesín, Tabata, Palhinha e o diretor-desportivo leonino Hugo Viana foram expulsos já após os 90. Salvou-se o bom exemplo de Sérgio Conceição e Ruben Amorim depois de toda a confusão se abraçaram.
Esta noite, o embate entre FC Porto e Sporting terminou em empate e com uma derrota do futebol português.
Dois golos e um ponto para cada lado, deixam o líder com seis pontos de vantagem sobre o campeão nacional.
Houve uma batalha intensa em campo e uma atmosfera fervilhante fora dele. Houve também muito futebol, entre os despiques e confrontos.
Puxando o filme atrás, o líder entrou avassalador e o campeão foi mais feliz.
Sem Porro e sem Pote, Amorim lançou Esgaio e Nuno Santos e manteve o seu 3-4-3 encaixado no 4-4-2 portista, com Taremi a entrar na equipa para fazer pareceria com Evanilson lá na frente.
Depois de um par de ocasiões portistas logo a abrir, o Sporting abriu o marcador aos 8m, num cruzamento de Matheus Reis, após falha de João Mário, a encontrar Paulinho para finalizar na cara de Diogo Costa.
Sofrido o primeiro golpe, o FC Porto continuou a pressionar a saída de bola adversária, num futebol de alta rotação.
Do lado contrário havia, porém, uma equipa que não se atemorizava com o pressing alto no campo ou com o ambiente nas bancadas. O Sporting saía a jogar, ganhava ressaltos, os passes entravam por centímetros e as transições desdobravam-se com eficiência. Foi assim que, perante o constante assédio portista, a equipa de Ruben Amorim ampliou a vantagem. 44 segundos de posse, bola a passar pelos pés dos 11 jogadores e… golaço: de novo Matheus Reis a cruzar, desta vez largo, com Sarabia a tocar ao segundo poste para Nuno Santos fazer na área o 2-0.
Castigo demasiado duro. Mas nem aí a esmagadora maioria dos 48 500 espectadores esmoreceu.
É possível um estádio virar um jogo? No Dragão, isso pode muito bem acontecer. Desta vez, ficou pelo quase.
Quatro minutos depois do segundo baque, começou a recuperação portista, quando Taremi descobriu Fábio Vieira, que rematou colocado para o fundo da baliza de Adán.
Matheus Nunes tornou-se o motor do Sporting e, do lado portista, Fábio Vieira mostra-se que é craque da cabeça aos pés. Esta noite, vagabundo, à direita, à esquerda, nas costas dos pontas-de-lança, foi sobretudo ele a fazer a diferença no plano individual.
Num remate colocado aos 38m reduziu, num cruzamento açucarado aos 78m serviu Taremi para o empate.
Entre uma coisa e outra – e sobretudo depois do apito final –, o jogo entrou numa dimensão ‘Libertadores’: picardias, amarelos, protestos, muitos protestos, com os jogadores a dificultarem o trabalho a João Pinheiro, que se mostrou quase sempre em dificuldades para controlar o jogo.
O segundo tempo praticamente começaria com o segundo amarelo (depois de um primeiro mal mostrado) e consequente expulsão de Coates, que a partir dos 49m deixou o Sporting a jogar com menos um e a olhar para o relógio e muitas vezes até a queimar tempo (houve apenas 43 minutos de tempo útil em todo o jogo).
Amorim pôs trancas à porta com Palhinha e os leões fecharam-se.
Foi pelo talento do virtuoso solista Fábio Vieira que o FC Porto chegou ao empate num jogo em que dominou quase em absoluto. De acordo com a estatística oficial da Liga, os dragões tiveram mais do quádruplo dos remates (17-4), mais do dobro da posse de bola (67%-33%) e 9 cantos contra zero, uma tendência claramente acentuada após a expulsão. Faltas foram mais de 30; cartões mais de duas dezenas: oito expulsões!
O FC Porto esteve perto de matar o jogo já nos descontos, mas Adán acabaria por agarrar 'in extremis' o Sporting à luta pelo título.
Pode dizer-se que os azuis e brancos desperdiçaram esta noite em casa um 'match point'. Mantêm 6 pontos de vantagem a 12 jornadas do fim. Perderam também a oportunidade de chegar à 17.ª vitória consecutiva na Liga. Alcançaram, ainda assim, o 50.º jogo sem perder.
Houve música, mas o dragão não embalou (ainda) em definitivo para o título. No entanto, fica a ideia de que é o conjunto de Conceição aquele que marca o ritmo desta Liga.