Bruno Fernandes faz uma verdadeira declaração de amor ao Manchester United no testemunho que deu ao Players Tribune publicado esta sexta-feira em que começa por endereçar uma mensagem aos adeptos do clube de Old Trafford, na véspera da final da Taça de Inglaterra, antes de contar toda a história que o levou a assinar pelo clube há quatro anos. «Um sonho cumprido».

O Manchester United vai defrontar o vizinho City este sábado, no Estádio de Wembley, na final da Taça de Inglaterra e Bruno Fernandes faz questão de começar mesmo por aí, dirigindo-se diretamente aos adeptos. «Quero dizer algumas palavras do coração antes desta final da Taça de Inglaterra. Sei que não tem sido uma época fácil para vocês. Não temos estado ao nível que vocês merecem. Nem sempre conseguimos equiparar o apoio que vocês nos dão. Como capitão, sinto isso mais do que ninguém, e não é uma responsabilidade que me foi dada. Este clube é mais do que qualquer coisa simpática que possa dizer na comunicação social, é um clube com o qual me preocupo profundamente», começa por enunciar.

Bruno Fernandes recua depois quatro anos para falar do dia em que soube que ia para o Manchester United, quando o telefone tocou, por volta das dez da noite, quando estava a adormecer a filha, na altura, com três anos. Àquela hora só podia ser uma notícia importante e Bruno Fernandes fechou-se num armário para ouvir o empresário. Na altura já se tinha falado de uma proposta dos Spurs e Bruno Fernandes nem queria acreditar quando o empresário lhe falou no United.

«Estás a brincar?», perguntou. O empresário explicou-lhe que estava feito, era só o Bruno dizer que sim. «Nem respondi. Comecei a tentar reter as lágrimas. Sabem aquela sensação em que estás a tentar travar para a outra pessoa não perceber que estás a chorar e nem consegues falar?», pergunta o jogador.

O internacional português explica, depois, que a Premier League era um sonho de criança e que, na época anterior, já tinha estado muito próximo do Tottenham. «Disse à Ana que sentia que já estava a viver um sonho no Sporting. Mas isto era mais do que um sonho. É o Manchester United», recorda.

Bruno Fernandes recua depois ainda mais uns anos para recordar um início de carreira difícil em que a namorada, a atual companheira, lhe pagava as idas ao cinema ou os jantares fora. Relata também os primeiros tempos difíceis em Itália quando o diretor desportivo da Udinese lhe disse que não contava com ele. Tempos complicados que obrigaram Bruno a crescer mais depressa.

O jogador vai ainda à infância e aos tempos em que, num Natal, recebeu uns ténis de futsal da Nike que tinham sido feitos «à medida de Ricardinho» e que os utilizou até os «literalmente matar». Quando não podia sair de casa, jogava futebol na velhinha Sega ou na PlayStation e recorda ainda de cor os craques que comprava no Championship Manager. «Facu. Roberto larcos. Castolo. Koko. Minanda. Eram as lendas da Master League. Eu levava o Man Red à glória sempre que não podia estar a jogar no parque», destaca.

Mas era definitivamente no parque, perto de sua casa, no Porto, onde Bruno era mais feliz. «Foi um dos primeiros parques a ter um campo com relva artificial em Portugal e era mesmo perto da minha casa. Jogávamos cinco para cinco e dizíamos: "Hoje sou o Cristiano!". Outro amigo dizia, "sou o Messi! Sou o Deco! Sou o Figo"», recorda ainda. Foi nesse parque onde tudo começou.

«Quando era miúdo já tinha essa visão de um dia jogar no United. Obviamente, todas as crianças nascidas em Portugal durante aquele período do Cristiano Ronaldo, na altura do Euro2004 e da Liga dos Campeões de 2008 [ganha pelo United] tinha o sonho louco de jogar no United. Mas para mim não era um sonho louco. Para mim era uma etapa de uma longa caminhada. Uma caminhada muito, muito longa. Mas não ia parar até acontecer».

É neste ponto que Bruno Fernandes regressa à tal chamada do empresário, há quatro anos, foi o «sonho realizado».

Bruno Fernandes conta depois todas as sensações que sentiu no primeiro jogo em Old Trafford, fala da primeira vez que (não) ouviu o cântico que lhe foi dedicado pelos adeptos e fala, uma vez mais, da forma como comemora os golos, com a mão junto ao ouvido, o mesmo gesto que a filha Matilde fazia quando os pais lhe pediam para ir arrumar os brinquedos.

A Matilde já tem sete anos e agora há também o pequeno Gonçalo, de três anos, que às oito da manhã, no banco traseiro do carro, entoa um dos mais populares cânticos do Manchester United em plenos pulmões.