Pedro Tiba é um fenómeno de popularidade entre os adeptos do Vitória de Setúbal. Sem reclamar o estatuto de homem da casa, vendo o seu local de nascimento (Arcos de Valdevez) a 444 quilómetros de distância, o médio português conquistou as gentes do emblema sadino pela sua qualidade e capacidade de trabalho.

Neste domingo, o jogador de 25 anos brilhou com intensidade na goleada frente ao Paços de Ferreira (4-0) e recebeu a nota máxima do jornalista destacado pelo  Maisfutebol para acompanhar o encontro.

Nuno Travassos deu nota 5 a Pedro Tiba e apresentou o veredicto: «Começa a ser um caso sério nesta equipa do Vitória. Joga pelo meio, aparece pela esquerda e ainda ‘dá uma perninha na direita’. Está na origem do segundo golo, com um túnel a Tony, para depois trocar de flanco e fazer a assistência para o terceiro tento, da autoria de Rafael Martins. Um pulmão inesgotável, que já deixou rendidos os exigentes adeptos sadinos.»

Este é o atual símbolo de um Vitória que sabe olhar para dentro. Na receção ao P. Ferreira, José Couceiro apresentou oito portugueses no onze e utilizou outros três no decorrer da partida. Onze elementos lusos em catorze.

A equipa de Setúbal tem elevado a fasquia da sua aposta em talentos da formação e jogadores oriundos dos escalões inferiores. Rúben Vezo é o rosto mais visível, crescendo no Vitória e saindo em janeiro para o Valência.

Neste domingo, a formação sadina esteve representada por Frederico Venâncio e Ricardo Horta, que vieram dos juniores, para além de Zequinha. O avançado regressou ao clube de onde deu o salto para o FC Porto e marcou um golo com sabor especial.

Outros jogadores como Pedro Queirós, Nélson Pedroso, Miguel Pedro e Pedro Coronas estavam em divisões inferiores antes de assinar pelo Vitória de Setúbal. Nada que se compare, de qualquer forma, com a ascensão de Pedro Tiba.



A III Divisão, a graça no Dragão e a parte má do futebol

Pedro Miguel Amorim Pereira Silva nasceu em Arcos de Valdevez 31 de agosto de 1988. Cresceu no Atlético local, até embarcar numa aventura grega que deu para o torto. «Tinha 18 anos e fui para lá completamente sozinho. Foi muito duro. Ainda por cima, contraí uma lesão grave, para sete meses. Não se portaram bem comigo e colocaram-me a treinar à parte. Saí ao fim de seis meses.»

Decorria a temporada 2007/08 e Pedro Silva, conhecido como Tiba, procurava lançar a sua carreira sénior. Regressou de Kastoria e voltou a sentir a camisola do Atlético de Valdevez. O pesadelo estava longe do fim.

«Após essa má experiência na Grécia, regressei ao Valdevez mas passado algum tempo o clube fechou. Foi uma altura muito difícil. Nunca pensei em desistir, mas claro que tive algumas dúvidas e pensei se valeria a pena, se chegaria aonde queria chegar: à Liga», explica o jogador à Maisfutebol Total.

O médio ofensivo teve de começar de novo. Por baixo. Seguiu-se o Sport Clube Valenciano. «Tive de ir jogar para a III Divisão, foi a solução que encontrei. Lá no fundo, acreditava que podia demorar algum tempo mas que conseguiria cumprir o meu sonho. Felizmente aconteceu.»

Em 2010, ao serviço do Limianos, Pedro Tiba mostrou-se nos grandes palcos. A equipa de Ponte de Lima visitou o Estádio do Dragão para a Taça de Portugal e trouxe cerca de cinco mil adeptos na comitiva. O FC Porto venceu por 4-1, com hat-trick de Walter e, do outro lado, um tento muito festejado de Tiba.



«A sensação de marcar um golo no Dragão é indescritível, foi um momento único. Até os adeptos do Porto gritaram golo», disse o jovem médio, na altura, ao nosso jornal.

Nessa conversa de outubro de 2010, explicou até a sua alcunha: «Em pequeno quando me perguntavam o nome, eu tinha dificuldade em dizer Silva e então respondia: Pedro Tiba». Para além disso, revelou que Rui Costa era o seu maior ídolo.

Pedro Tiba acreditou que esse momento poderia contribuir para a progressão na sua carreira. Porém, manteve-se ao serviço da Associação Desportiva Os Limianos e subiu com a equipa para a II Divisão. Mais uma época e a mudança para o Tirsense, no mesmo escalão. Com 16 golos em 33 jogos, despertou finalmente a atenção dos clubes da Liga.

«Infelizmente, só viram o meu valor aos 24 anos. Agora tenho 25, claro que gostava de ter chegado à Liga mais cedo mas ainda tenho muitos anos de futebol pela frente. Agora estou na Liga mas já passei pela parte má do futebol, por tudo o que acontece nos escalões inferiores, portanto sei dar valor a isto», salienta o jogador.

O caminho sinuoso até ao escalão principal serviu de aprendizagem para Pedro Tiba. Isso reflete-se no seu jogo. «Foi uma base de aprendizagem muito importante. Não esqueço aquilo por que passei. Os salários em atraso, o dinheiro que perdi quando o Atlético Valdevez fechou, as coisas que se passam lá em baixo, etc.»

«Por isso dou sempre o máximo. Sei que agora estou bem mas há muita gente que gostava e luta para estar no meu lugar. Existem muitos jovens e jogadores de qualidade nas divisões mais baixas, é uma questão de cultura e aposta», salienta.

Os dias felizes no Bonfim e o golo que não chega

Pedro Tiba chegou ao Vitória de Setúbal pela mão de José Mota. Após o incontornável período de adaptação, face à mudança da II Divisão para a Liga, fez a sua estreia no onze já com José Couceiro.

«No início senti dificuldades, passei um período de adaptação, mas isso passou e a chegada de José Couceiro também foi importante, é um treinador que me tem ajudado bastante», explica.

O médio português anda perto da barreira dos 1000 minutos no primeiro ano de Liga. «Joguei algumas vezes a extremo mas agora tenho surgido pelo centro, como 8. Sinto-me bem e sim, penso que neste jogo com o Paços fiz uma das minhas melhores exibições. Não só eu como toda a equipa.»

Os adeptos do Vitória já se renderam ao jogador. «É bom ouvir os adeptos a cantar por mim, sentir o carinho deles. Aos poucos, vou gostando cada vez mais de estar aqui. Quero continuar a evoluir e claro que gostaria de fazer o gosto ao pé, está a faltar-me o golo, mas o mais importante é ajudar a equipa a garantir a manutenção», remata Pedro Tiba, em entrevista à Maisfutebol Total.