PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«THE OTHER CHELSEA - A STORY FROM DONETSK» - Jakob Preuss. Cheguei a Donetsk a 26 de junho de 2012. No dia seguinte havia Portugal-Espanha, meias-finais do Euro2012. Tempos alucinantes e alucinados.

O aeroporto era moderno, faustoso, radicalmente distinto do que vi depois. No trajeto até ao centro da cidade abri os olhos perante ruas atormentadas por trânsito, fios de eletricidade inconscientemente soltos por todo o lado, casas paupérrimas ao lado de barracas miseráveis, comércio feito de trocas diretas e contrabando. Assustador.

Tudo voltou a mudar à medida que nos aproximávamos do estádio. Na zona mais civilizada de Donetsk, o cenário adotou drasticamente o ar de uma qualquer capital da Europa ocidental. Edifícios imponentes, prédios belíssimos, uma zona ajardinada a rodear a casa do Shakhtar.

Intrigou-me tamanho antagonismo entre o coração da urbe e tudo o que o rodeava. Informei-me, falaram-me de Rinat Akhmetov. Dono do clube, dono da cidade, símbolo do crescimento desmesurado e desequilibrado de uma região assustadoramente anarquizada.

Akhmetov quis imitar Abramovich e criar o seu Chelsea pessoal. Abdicou da herança soviética e apaixonou-se pelo futebolista brasileiro. Colocou ao leme do Shakhtar Donetsk o romeno Mircea Lucescu. Política, futebol, negócios sujos, esquemas, tudo retratado num belíssimo documentário.

Neste Chelsea, José Mourinho não sobreviveria um mês. Nem os mind games o resgatariam da ditadura de Akhmetov. Abramovich é, afinal, um menino.



PS: «BEFORE MIDNIGHT» - Richard Linklater. Conhecemos Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke) no comboio para Viena. Uma francesa em busca do amor, um americano de ar saloio e falinhas mansas. Apaixonaram-se, dizeram adeus, reencontraram-se anos depois em Paris. Acabaram o segundo filme a dançar ao som de Nina Simone. A trilogia acaba na Grécia, ainda e sempre encenada por Linklater. Isto é cinema de autor (e atores).

SOUNDCHECK:

«DEAD MEN DON'T NEED SEASON TICKETS» - HMHB. O título bem humorado justifica a presença nesta página. A recomendação chegou-me de Setúbal, pelo leitor Paulo Dores. Gostei do nome, achei alguma piada à melodia e à letra. Até onde está disposto a ir um homem para ter lugar anual no estádio?



PS: «TROUBLE WILL FIND ME» - The National. Cada nota pede licença para entrar, reverente, suave e delicada. Sempre sob a rouquidão charmosa de Matt Berninger. Um album novo destes senhores é um acontecimento digno das mais excessivas loas. A melhor música? «Pink Rabbits», talvez. «I Need My Girl» também. Ouçam tudo. Sem pressa.

VIRAR A PÁGINA:

«MANAGING MY LIFE» - Alex Ferguson O Sir mais famoso do futebol decidiu reformar-se e esta é a altura perfeita para lermos (ou relermos) a sua autobiografia. Estão lá todas as histórias de que já ouvimos falar. Contadas pelo próprio escocês. Em detalhe e sem sotaque.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.