O sociólogo Boaventura de Sousa Santos considerou esta quinta-feira, em Coimbra, que o «não» irlandês ao Tratado de Lisboa revela as «insuficiências do projecto europeu», nomeadamente o seu «grande défice democrático», escreve a agência Lusa.

«Os irlandeses, de alguma maneira, exprimiram o sentimento de muitos europeus de que o projecto europeu padece de duas insuficiências que podem ser fatais», considerou o director do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

Boaventura de Sousa Santos falava à agência Lusa à margem do colóquio internacional «Caminhos de Futuro - Novos Mapas para as Ciências Sociais e Humanas», que começou esta quinta-feira em Coimbra, assinalando os 30 anos do CES.

Para o catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, o projecto europeu sofre de «um grande défice democrático» e, por outro lado, assiste-se à «destruição do modelo social europeu».

«Os cidadãos não são ouvidos»

«Os cidadãos não são ouvidos e quando são tudo se faz para desvalorizar o que eles dizem, se não for concordante com o que pensam as elites de Bruxelas».

Na sua perspectiva, o modelo social europeu «está a ser destruído pela actual Comissão [Europeia] e a ser substituído por um modelo de capitalismo selvagem, com o aumento exponencial das desigualdades sociais e a perda da protecção social. É esse modelo que os europeus estão a rejeitar. Se fosse irlandês, tinha votado não. É a voz dos cidadãos», considerou ainda o sociólogo a propósito do resultado do referendo sobre o Tratado de Lisboa na Irlanda. O colóquio internacional decorre até sábado na Universidade de Coimbra.