As forças políticas portuguesas com assento no Parlamento Europeu têm expectativas diferentes para a Cimeira de líderes da UE, quinta e sexta-feira em Bruxelas, dominada pela rejeição do Tratado de Lisboa no referendo irlandês.

Enquanto as duas principais delegações, do PS e PSD, esperam que o Conselho Europeu comece a discutir o caminho para uma solução que permita «salvar» o Tratado de Lisboa, que poderá passar por negociar cláusulas específicas com Dublin, o CDS-PP entende que o assunto não deve monopolizar a reunião e PCP e Bloco de Esquerda defendem que os chefes de Estado e de Governo devem respeitar o voto irlandês e «enterrar» o Tratado.

«Espero que o Conselho encontre uma solução para este novo impasse, porque a Europa não pode de maneira nenhuma mergulhar de novo numa crise institucional», afirmou a líder da delegação socialista, Edite Estrela, que considerou «urgente que as autoridades irlandesas, em conjunto com o Conselho, encontrem uma solução para este problema».

A solução, disse, «sem pretensão de ter a receita» para a questão, poderá passar por negociar com a Irlanda as questões específicas que desagradam aos irlandeses, tal como sucedeu em 2001, quando o mesmo país rejeitou numa primeira consulta o Tratado de Nice, vindo a aprová-lo em novo referendo um ano depois, «após introduzida uma adenda».

A mesma ideia é defendida pelo coordenador da delegação do PSD, Carlos Coelho, que defende acima de tudo «que a vontade da Irlanda não impeça os restantes países de seguir em frente», pois não podem ser 100.000 votos (a diferença registada entre o não e o sim na consulta da passada semana) a «determinar a marcha da vontade de 500 milhões de habitantes».

«Tratado morreu»

Já Luís Queiró, do CDS-PP, disse esperar que a questão do processo de ratificação do Tratado, «embora importante», não monopolize as discussões dos líderes europeus e «não signifique o regresso do Conselho a olhar para o seu próprio umbigo e para a crise institucional», já que «não se deve perder de vista os problemas que realmente preocupam os cidadãos, como a subida dos preços dos combustíveis».

Quanto à questão do referendo, Queiró sublinhou que é preciso «respeitar a decisão do eleitorado irlandês, pois as regras eram essas, e, nesse quadro, encetar um período de negociações com a Irlanda».

Já PCP e Bloco de Esquerda defendem que o processo «morreu» com o resultado da consulta irlandesa.

«Espero que o Conselho decida aquilo que tem de decidir, ou seja, que dê por enterrado o Tratado», afirmou a eurodeputada comunista Ilda Figueiredo, acrescentando que «se não for esse o caminho, significa que o Conselho tem um desrespeito completo pela decisão no referendo na Irlanda e só respeita as regras democráticas quando elas lhe são favoráveis».

Por seu turno, Miguel Portas espera, «infelizmente», que continue «a falta de bom senso» no Conselho, a avaliar pelas recentes declarações dos chefes de Governo dos 27, e que estes decidam prosseguir com «um processo que, mais que bloqueado, está morto» e que só pode ser salvo com a construção de uma Europa com características muito diferentes, ou seja, «deixando países para trás».