O Presidente brasileiro e o primeiro-ministro português defenderam esta terça-feira, no final da IX Cimeira Brasil-Portugal, uma nova ordem no sistema económico global, com maior intervenção dos Estados e reforma das instituições políticas e financeiras internacionais.

«Chegou a hora da política», afirmaram Lula da Silva e José Sócrates, citados pela agência «Lusa», exigindo uma nova regulação dos mercados face à crise global, principal tópico desta cimeira luso-brasileira.

Lula da Silva e Sócrates destacaram que têm a mesma visão estratégica em relação à crise e à necessidade de enfrentá-la, tema que dominou os discursos proferidos na Capela da Misericórdia, dentro do Museu da Misericórdia, no centro histórico de Salvador (Baía).

«A primeira prioridade é restabelecer a estabilidade no nosso sistema financeiro como resposta de curto prazo para mitigar os efeitos da crise. Mas não temos o direito, tanto político como moral, de deixar tudo na mesma. Há, portanto, uma agenda de mudança no mundo», assinalou o primeiro-ministro português.

Na avaliação de José Sócrates, esta crise assinala a derrota daqueles que advogavam o pensamento único e condenavam a intervenção do Estado na economia, além de mostrar a necessidade de uma nova ordem económica global mais justa e com instituições mais representativas, seja no âmbito político como financeiro.

O Presidente brasileiro disse que «o Estado volta a ter um papel extraordinário».

«Chegou a hora de os políticos entrarem em acção em defesa das populações. Não podemos admitir que o sistema financeiro internacional brinque com a sociedade, trocando apenas papéis que perpassam, às vezes, até dez instituições», destacou Lula da Silva, acrescentando que a crise tem duração e consequências ainda imprevisíveis.

Mais regulação

Os dois líderes defenderam igualmente a retoma das negociações da Ronda de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e das negociações comerciais entre a União Europeia e o Mercosul neste momento de crise internacional.

«A resposta à crise não pode ser mais proteccionista. O que deve haver é mais regulação», sublinhou o chefe do Governo português.

José Sócrates admitiu não imaginar o que seria de Portugal se não estivesse na Zona Euro e destacou o papel de Lisboa no âmbito da União Europeia e do Brasil no G-20, grupo dos países em desenvolvimento, para que haja uma «resposta à altura» para a crise.

Dentro de duas semanas, em Washington, realiza-se uma cimeira do G-20 para discutir medidas para enfrentar a crise e propostas de reformas no sistema financeiro internacional.

Sócrates voltou a apoiar a reivindicação brasileira de ter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e também uma maior participação do Brasil nas instituições financeiras que vão agora contribuir para uma regulação mais eficaz.

Comércio entre Portugal/Brasil crescem 72%

No mesmo encontro, Lula e Sócrates destacaram o excelente nível das relações entre os dois países, cujo comércio registou um crescimento de 72,1 por cento entre 2005 e 2007, para 2 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros), com expansão também dos investimentos portugueses no Brasil e vive-versa.

Segundo o Palácio do Planalto, os investimentos portugueses no Brasil estão na ordem dos 8,6 mil milhões de dólares (6,7 mil milhões de euros) e os brasileiros em Portugal rondam os mil milhões de dólares (790 milhões de euros).