Um colega de equipa «taticamente muito evoluído» e um colega de seleção «muito competitivo, que exigia o máximo de si». É desta forma que Quim, outrora guarda-redes, descreve ao Maisfutebol as personalidades de Ruben Amorim e de Sérgio Conceição, respetivamente. Conhece-os bem, sobretudo o técnico do Sporting, com quem partilhou balneário no Benfica, entre 2008 e 2010, e no Sp. Braga, entre 2011 e 2013.

Uma surpresa agradável, diz Quim, realçando a combinação entre a personalidade genuína e o pulso demonstrado nos últimos anos.

«Como jogador, o Ruben era taticamente muito evoluído e sabia orientar os colegas, mas fora das quatro linhas era uma pessoa descontraída, sempre brincalhão. Esta forma de estar, na perspetiva do adepto, seria impensável para um treinador», explica o antigo internacional português.

Hoje no Trofense, como treinador de guarda-redes, Quim segue com atenção o percurso de Amorim e admite que o «salto» para o estrangeiro é «uma questão de tempo». Mérito, sublinha, da postura «arrojada» do técnico leonino.

«Ele apareceu no futebol português, como treinador, no Casa Pia, e depois no Sp. Braga, com uma tática pouco usual, com três centrais e dois alas muito avançados. Mas essa coragem apenas espelha a forma do Ruben ser, é arrojado, uma pessoa para a frentex e com um futebol alegre», salienta. Aliás, prossegue, esta é a chave para conquistar um balneário, uma vez que os jogadores confiam e «sabem a verdade» pelo líder do balneário.

A passagem “flash” por Braga e as conquistas acumuladas no Sporting valem a Amorim, em suma, um cartão de visita «apetecível» entre as principais Ligas europeias, garante Quim.

A longevidade na cadeira de sonho – um futuro previsível

Foi na Alemanha, no verão de 2000, que Sérgio Conceição revelou – quiçá sem se aperceber – algumas caraterísticas que, mais tarde, poderiam valer altos voos enquanto treinador.

«Víamos um jogador muito competitivo, que queria jogar sempre e no treino dava o máximo. Exigia o máximo de si e apelava aos colegas. E isso demonstra o treinador que o Sérgio é hoje. Quem está por fora sente essa agressividade e vontade que incute nos jogadores», diz Quim, que evita comparar o técnico portista a Francisco Conceição. Será precoce e são jogadores diferentes, sublinha, ainda que deixe cair uma perceção: «o Francisco é mais rápido».

E, ao fim de quase seis anos consecutivos no reino do Dragão - com todos os troféus conquistados em Portugal – não seria expectável Conceição rumar a novos desafios? O amor do técnico à «cadeira de sonho» fala mais alto, garante Quim.

«Ele jogou em Itália e já admitiu apreciar a Bundesliga, mas é um treinador, como foi em jogador, à Porto. Um dia poderá sair, mas, tal como o Amorim no Sporting, sente-se bem naquele lugar. De qualquer modo, quando sair será capaz de se adaptar a qualquer campeonato», atira o antigo guardião.

Os clássicos no topo da tabela

Para este domingo e segunda-feira, Quim antevê jogos «imprevisíveis, agarrados taticamente». Doutorado nesta matéria, pelos 483 jogos acumulados por Benfica e Sp. Braga, acredita que estes «clássicos» não serão repletos de oportunidades de golo, mas, antes, decididos pelo «rasgo individual» de criativos e astutos, ora na Pedreira como em Alvalade.

Mas, para Quim, o confronto entre minhotos e águias será particularmente especial: «É nostálgico, são duas equipas que me deram muito. Em Braga, uma segunda casa onde cresci desde os 13 anos, aprendi tudo. No Benfica foram seis anos e conquistei duas Ligas».

E este Sp. Braga de Artur Jorge entra nas contas do título? «Naturalmente», atira prontamente. Ainda assim, ressalva, falta concretizar o «tal clique» de campeão nos momentos chave da época. Quando esse passo estiver completo, os minhotos poderão, então, aliar a consistência à profundidade do plantel.

«Eu vejo um Sp. Braga muito equilibrado, talvez até o plantel mais equilibrado entre os candidatos ao título. O Artur Jorge pode mexer em seis unidades e mantém esse equilíbrio. Mas tudo isto resulta também do crescimento do treinador», explana o agora técnico no Trofense.

E, para abrir o apetite dos taticistas de bancada, Quim vai ao meio-campo e oferece um rebuçado: «Teremos um duelo de gerações [na Pedreira]. O Moutinho com a sua experiência e o Neves com toda a sua irreverência. Será um jogo taticamente fortíssimo».

Coates e Taremi: o espelho do timoneiro

Quanto ao clássico em Alvalade, Quim elege Coates e Taremi como as personificações ideais de Amorim e Conceição, respetivamente. De um lado, o capitão leonino que absorve as ideias do técnico. Na outra extremidade, o avançado portista que merece a confiança do treinador, independentemente da duração do contrato.

«Quando as exibições não são ideais, é muito fácil apontar ao fim do contrato. Mas, o Sérgio deposita muita confiança no Taremi, que já provou ser um grande profissional», argumenta Quim.

Já que falamos sobre o clássico de segunda-feira, o que pensa o antigo internacional de Diogo Costa? Lembra-o algum colega?

«Entre os postes, o Diogo é muito semelhante ao Vítor Baía. Para mim é, atualmente, o melhor guarda-redes português, com muito talento para continuar a evoluir. O nosso campeonato é do seu nível, mas o problema é a falta de capacidade dos clubes para segurarem os seus melhores elementos. Portanto, a saída para um grande europeu será uma questão de tempo», comenta, sem qualquer hesitação.

Por agora, Quim, aos 48 anos, é técnico de guarda-redes no Trofense, que milita na Liga 3. A conversa com o Maisfutebol aconteceu um dia após o triunfo na visita ao Varzim. Com objetivos de carreira claros, não apressa o próximo passo, confiante de que as oportunidades surgirão. Em primeiro lugar, reitera, ambiciona «ajudar e ensinar os mais novos e, assim, continuar ligado ao futebol».