Na qualificação de nota 10 de Portugal para o Euro 2024 só há um jogador que esteve em campo em todos os jogos. Bruno Fernandes, que foi também o segundo melhor marcador da seleção e o rei das assistências, assumiu um papel de primeiro plano com Roberto Martínez ao longo da campanha que passou a definir um novo patamar de excelência na história da seleção.

A vitória por 2-0 sobre a Islândia a fechar a qualificação foi a 10ª em outros tantos jogos. É um registo raro, Portugal foi apenas a nona seleção a conseguir um apuramento só com vitórias. Também pode terminar como a melhor seleção da corrida ao Euro 2024. A França, que encerra a participação na terça-feira na visita à Grécia, é a única seleção além de Portugal só com vitórias, num grupo de cinco equipas, tendo nesta altura 27 golos marcados e um sofrido em sete jogos.

A melhor série de vitórias de sempre

No historial da seleção nacional, a campanha do Euro 2024 bateu vários recordes de uma assentada. Foi o primeiro apuramento de Portugal só com vitórias, aquele em que se marcaram mais e se sofreram menos golos. Também teve a vitória mais volumosa de sempre, a goleada por 9-0 ao Luxemburgo. E valeu também a melhor série de triunfos consecutivos da equipa das quinas. O recorde em jogos oficiais já tinha sido superado, mas este passa a ser também o melhor registo em absoluto, ultrapassando uma marca com quase seis décadas – as nove vitórias dos Magriços entre 1965 e 1966, que incluíram cinco particulares e quatro jogos do Mundial 66, até à meia-final perdida com a Inglaterra.

Até aqui, Portugal tinha apenas duas qualificações sem derrotas, as campanhas do Mundial 2002 e as do Mundial 2006. O apuramento para a Alemanha representava o anterior recorde de golos marcados – foram 35, mas em 12 jogos. De resto, apenas por quatro vezes a seleção tinha superado a barreira dos 30 golos numa qualificação. E o melhor registo de golos sofridos era de quatro, em duas ocasiões. Todas essas marcas ficaram agora para trás.

As melhores campanhas de Portugal

Bruno Fernandes, o líder do pelotão

Portugal cumpriu todos esses objetivos depois de uma dupla jornada onde chegou já apurado e em que Roberto Martínez alargou o leque de opções e fez experiências, mas que mantém a tendência: há uma base sólida de escolhas definida desde cedo pelo selecionador e poucos lugares em aberto.

Ao longo da campanha que começou e terminou em Alvalade, do triunfo por 4-0 sobre o Liechtenstein à vitória deste domingo sobre a Islândia, Portugal utilizou 31 jogadores. Ao penúltimo jogo, frente ao Liechtenstein, o selecionador optou por um onze com várias opções alternativas (e muitas ofensivas), o que alterou as contas dos jogadores mais utilizados. Rúben Dias, até então o único totalista, perdeu esse estatuto.

Mas Martínez não abdicou de Bruno Fernandes, que fechou a qualificação como o jogador com mais minutos e o único utilizado em todos os jogos. Os seis golos e as oito assistências, que lhe valem a liderança desse ranking entre todos os jogadores da qualificação, dizem bem da influência do capitão do Manchester United na era Martínez.

Cristiano Ronaldo foi de resto o terceiro jogador com mais minutos na campanha portuguesa. O selecionador não abdicou do capitão, que só falhou um jogo por castigo - por sinal a goleada recorde ao Luxemburgo - e ele respondeu com golos. Muitos, nada menos que 10 em nove jogos. Ronaldo, que terá 39 anos no Euro 2024, só não conseguiu terminar como o melhor marcador em absoluto da qualificação, face aos números incríveis de Lukaku.

Bernardo Silva e João Cancelo são os outros jogadores utilizados em nove partidas, dois dos pilares do onze de Martínez, e completam o top cinco de minutos nesta campanha, que manteve Diogo Costa como indiscutível opção número 1 para a baliza - só falhou os dois primeiros jogos por lesão. A campanha representou também a afirmação de jogadores como Diogo Dalot ou João Palhinha, bem como o reforço de opções para o centro da defesa com António Silva e Gonçalo Inácio. Na frente, João Félix ganhou espaço em relação às alternativas.

Os totalistas nas convocatórias e a «pré-lista» de Martínez

Nos oito primeiros jogos, o selecionador nacional tinha apenas promovido duas estreias, Gonçalo Inácio e João Neves. Frente ao Liechtenstein, deu a primeira internacionalização a mais três jogadores – José Sá, o guarda-redes que teve a sua oportunidade aos 30 anos, seis anos depois da primeira chamada, e ainda Toti Gomes, o defesa que tem sido presença recorrente nas convocatórias de Martínez, mais João Mário, o lateral do FC Porto convocado depois das dispensas de Diogo Dalot e Nélson Semedo. Além disso, promoveu o regresso de Bruma, que voltou a vestir a camisola das quinas ao fim de quatro anos.

Ao longo destes nove meses, Martínez chamou no total 35 jogadores. Entre eles, há indiscutíveis. São 19 os que não falharam uma convocatória: Diogo Costa, Rui Patrício, José Sá, Rúben Dias, Diogo Dalot, Cancelo, António Silva, Gonçalo Inácio, Palhinha, Ruben Neves, Otávio, Vitinha, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Gonçalo Ramos, João Félix e Rafael Leão. Danilo também faz parte deste grupo, tendo falhado a última convocatória por lesão. Presenças regulares, salvo impedimento físico, são igualmente jogadores como Pepe ou Raphael Guerreiro, Nelson Semedo ou Ricardo Horta.

É fácil perceber que não haverá muita margem para acrescentar nomes na lista de 23 para o Euro 2024, num leque de escolhas que permite diversas opções táticas ao selecionador. Ainda que, como disse Roberto Martínez neste domingo, haja uma «pré-lista» que tem como base de trabalho mais de 30 jogadores. O que, como também frisou o treinador, reforça a ideia de que os jogos particulares de março, última paragem antes do Euro 2024 e ainda sem adversários conhecidos, serão decisivos para esclarecer as últimas dúvidas.