Foi um final de tarde barulhento um pouco por todo o País. Durante 15 minutos, os condutores buzinaram contra o aumento do preço dos combustíveis e do custo de vida. E foi ensurdecedor.

No meio dos condutores, em plena hora de ponta, o PortugalDiário circulou, em pára-arranca, bem devagar, entre o Saldanha e o Marquês de Pombal, em Lisboa, um dos percursos escolhidos para a realização do protesto. Alguns automobilistas buzinavam a medo, de quando em vez para fazerem valer as suas razões, outros colaram a mão à buzina e assim ficaram. Apenas pausas pequenas para meter uma mudança. A um sinal fechado, o buzinão crescia.

O buzinão tem 14 anos

A meio, na Avenida Fontes Pereira de Melo, a organização. Com buzinas e bandeiras negras apelavam e lembravam a contestação. E os automobilistas respondiam com um buzinão. Alguns bem queriam protestar contra a lentidão do trânsito causado por quem não faz bem duas coisas ao mesmo tempo: buzinar e conduzir. Mas, neste caso, buzinar não seria a melhor solução.

Entre os taxistas havia poucas dúvidas. Foi buzinão e mais buzinão. «Eles sentem imenso», explicava Célia Silva, da organização. «Mas os agricultores, os camionistas, os pescadores, os pensionistas e reformados... todas as camadas da população que são mais afectadas estão connosco», acrescentou.

Ao PortugalDiário Célia Silva explicou - quase ao ouvido, mas aos berros, para se fazer ouvir - que «está a ser um grande buzinão que a população está a fazer ao Governo. Como se pode ouvir... Sentimos que há uma grande disponibilidade para a luta».

E de quem é este protesto? «É das pessoas que sentem a perda sistemática do poder de compra», responde aquela dirigente sindical. E o que diz quem está na estrada e buzina? «Isto está demais»; «É tudo cada vez mais caro»; «Este Governo não faz nada, temos de fazer alguma coisa»; «Protesto porque os combustíveis cada vez sobem mais»; «Não sei onde isto vai acabar».

Buzinar também contra as portagens na SCUT

No Porto, os automobilistas aderiram em grande número ao buzinão contra o aumento dos combustíveis, extensivo no Porto à criação de portagens nas SCUT, sendo o barulho das buzinas ainda audível pela cidade meia hora depois do protesto ter terminado.

«Este som demonstra o êxito indiscutível desta iniciativa e reflecte o descontentamento das pessoas», salientou Valdemar Madureira, da organização do protesto, em declarações à Lusa na Rotunda AEP, conhecida como «dos Produtos Estrela».

Neste local, a maioria dos veículos aderiu ao protesto, provocando um enorme ruído que se manteve por largos minutos, acentuado sempre que passava um camião, cuja buzina é bastante mais forte.

Na Rotunda da Boavista, a adesão também foi significativa e envolveu, como a Lusa constatou no local, autocarros e táxis, além de veículos ligeiros e pesados, de passageiros e mercadorias. Verificou-se também uma grande adesão ao protesto em Espinho, onde o ruído das buzinas foi ouvido por toda a cidade a partir das 17:50.

A contestação, promovida pelo Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (MUSP), comissões de utentes, sindicatos e organizações sócio-profissioais, previa a realização de «buzinões» em mais de 70 locais do país entre as 17:45 e as 18:00.