Foi há 12 anos que o nome de Seba Coates se revelou ao mundo e entrou na agenda do futebol português, então associado a Benfica e FC Porto. Ele na verdade só chegou bem mais tarde, em janeiro de 2016, para começar a escrever história com letra grande no Sporting. Agora, o uruguaio que já se sente parte da família, o capitão que liderou a equipa na conquista do primeiro campeonato nacional em 19 anos, entrou no top 10 de futebolistas com mais jogos de verde e branco e igualou Anderson Polga como o estrangeiro que mais vezes vestiu a camisola do Sporting, recorde que deverá superar ainda esta semana. Assinalou o momento com mais um golo, na vitória sobre o Dumiense para a Taça de Portugal, ele que é já um dos defesas mais goleadores de sempre no clube.

E a história não acabou. Aos 33 anos, Coates tem contrato com o Sporting até final da temporada, mas o processo de renovação está em curso e Rúben Amorim dá-o como praticamente garantido. Ficando, Coates reforçará ainda mais o seu estatuto na história do clube.

De olho no clube dos 400 e no recorde de defesa mais goleador

Nesta altura, os 342 jogos que soma igualam Anderson Polga e também Pedro Barbosa no nono lugar entre os jogadores com mais partidas pelos leões. Se superar a barreira dos 400 jogos entra num clube restrito, onde cabem apenas seis referências do Sporting: Oceano (401), Azevedo (408), Manuel Fernandes (433), Vítor Damas (444), Rui Patrício (467) e o recordista Hilário, com 475 jogos. Quanto aos golos, Coates soma 33, o que o deixa no topo entre os defesas, atrás apenas de Lúcio Soares, com 35, e de João Morais, o autor do famoso golo de canto que valeu a Taça das Taças de 1964, que marcou 69 golos, com a particularidade de jogar muitas vezes mais adiantado na ala.

«A verdade é que nunca esperei atingir esta marca», disse neste domingo Coates, sereno e discreto como sempre, depois de ter recebido uma saudação especial de Polga, em jeito de passagem de testemunho.

O miúdo «educado e pacato» que valeu dez vezes mais que Luis Suárez

Se Alvalade se tornou a segunda casa, foi em Montevideu que tudo começou para Coates. O central nunca escondeu a forte ligação ao Nacional, o clube onde se revelou. Foi lá que chegou com 13 anos, um miúdo de origens escocesas, alto, com potencial e porte de cavalheiro, já com as características de líder «low profile» que o distinguiriam no futuro. «Um rapaz educado, pacato, mas um líder», como o definiu um dos seus primeiros treinadores nesta reportagem do Maisfutebol.

Era promessa do futebol uruguaio, chegou à seleção e foi a Copa América de 2011 que o revelou ao mundo. O Uruguai foi campeão, Coates foi considerado o melhor jovem do torneio. Nessa altura, entrou no radar do Benfica, então orientado por Jorge Jesus, numa altura em que se falou também do interesse do FC Porto. Mas já tinha estatuto para outros voos e assinou pelo Liverpool. Um negócio de oito milhões de euros, o maior de sempre do Nacional – dez vezes mais do que um tal de Luis Suárez uns anos antes, quando trocou o clube uruguaio pelo Groningen.

Finalmente com Jorge Jesus, mas no Sporting

Em Liverpool não conseguiu afirmar-se, somou apenas duas dezenas de jogos em duas temporadas. Voltou temporariamente a casa, cedido ao Nacional a tempo de integrar a seleção do Uruguai no Mundial 2014. Depois rumou ao Sunderland, primeiro por empréstimo e a seguir em definitivo. Num percurso marcado igualmente por problemas físicos, também não conseguiu a afirmação plena no Stadium of Light. E foi então que rumou a Portugal.

Em janeiro de 2016, Jorge Jesus conseguia finalmente contratar Coates, mas para o Sporting. Chegou por empréstimo e estreou-se poucos dias depois de aterrar em Lisboa, a 8 de fevereiro. Fez dupla com Paulo Oliveira nesse nulo frente ao Rio Ave que complicou as contas do Sporting, então líder do campeonato, e a partir daí assumiu a titularidade.

Continuou cedido na temporada seguinte e em fevereiro de 2017 assinou em definitivo pelo Sporting, já depois de ter voltado a ser noticiado o interesse do Benfica, o que até justificou um desmentido das águias. Coates falou sobre isso nesta entrevista ao Maisfutebol.

Da decisão de ficar depois de Alcochete à braçadeira de capitão

Tornou-se a primeira referência da defesa dos leões, época a época, independentemente dos parceiros ou do sistema. Viveu altos e baixos, em campo e fora dele. Viveu o pesadelo da invasão da Academia de Alcochete em maio de 2018 e, entre as principais referências da equipa, foi dos poucos que não avançou para a rescisão. Em dezembro desse ano falou sobre essa decisão. «Estávamos todos muito magoados pelo que se tinha passado. Fui para o Mundial, falei muito com a minha família e cheguei à conclusão que havia muita gente que não tinha sido responsável pelo ato de uma minoria. Também havia um clube que me tinha aberto as portas e que me tinha tratado muito bem», disse em entrevista ao jornal O Jogo: Precisava de dar outra oportunidade ao clube.»

Com a saída definitiva de Bruno Fernandes no início de 2020, Coates assumiu a braçadeira de capitão. Com ela, foi o líder em campo na caminhada até à conquista do título nacional em 2021.

Líder e goleador, o melhor jogador da Liga no ano do título

O jogador mais utilizado por Rúben Amorim nessa época, foi referência de solidez e tranquilidade, a que juntou golos providenciais – sete, entre eles o bis na difícil vitória em casa do Gil Vicente a arrancar a segunda volta, ou o golo que valeu três pontos frente ao Santa Clara. Foi eleito melhor jogador do campeonato naquela que foi a sua melhor temporada em Alvalade.

O central que tantas vezes virou ponta de lança em momentos de aperto esteve lá sempre. «Nas fases boas e nas fases más», como disse ao Maisfutebol depois da conquista do título.

Aos 33 anos, o jogador que esteve em três Mundiais e soma 51 jogos com a camisola do Uruguai começou a perder espaço na sua seleção com a chegada de Marcelo Bielsa, mas ainda é um pilar do Sporting, com um lugar especial na história.

Coates ainda não fala sobre o final da carreira. Diz apenas, como disse em janeiro, que só ficará enquanto sentir que está «a ajudar o Sporting». Se depender de Rúben Amorim, o final de Coates não está para breve, mas será em Alvalade. E quando deixar de jogar o capitão terá as portas abertas para continuar no clube, como disse o treinador neste domingo: «É um exemplo para todos. Vejo-o ainda a dar muito como jogador e vejo-o a ficar principalmente num clube formador. Vejo com bastante naturalidade aproveitar alguém como o Seba.»