Caiu um grande na Taça, mas outro ficou. O Vitória de Setúbal continua a construir bonitas estórias na prova, agora com um triunfo sobre o Sporting, que mais uma vez deixou o Bonfim eliminado.

Houve surpresa? Sim e não. Não, porque a História diz que o Vitória só por uma vez foi derrotado pelos lisboetas, em casa, para a Taça de Portugal. Sim, porque, apesar dos números, as realidades dos dois clubes são tão diferentes quanto os orçamentos de cada.

Ainda assim, não se pode dizer que os setubalenses sejam um tomba-gigantes. Isso fica para quem não tem passado na competição, para quem não está habituado a ser feliz no Jamor, ou sequer a vê-lo. Em cem anos de vida, o Bonfim resiste, está de pé, e a alma sadina também, liderada por um coração de leão.

Zeca mudou, Zeca inspirou, Zeca marcou

O Sporting entrou em campo com o onze ideal. Valdés estava no lugar de Vukcevic e a haver adeptos que se insurgiam contra a equipa apresentada seriam, certamente, muito poucos. Eram estes onze que davam confiança, eram estes onze que tinham trazido a equipa para um patamar mais alto, depois da derrota em Gent.

Aliás, é bom recordar o jogo na Bélgica. Foi o último em que o leão esteve em desvantagem primeiro. Houve ainda o desaire com o V. Guimarães, sim. Mas em moldes diferentes e depois de 70 minutos muito bem conseguidos até àquela expulsão de Maniche. Só que o Bonfim apresentou um desafio diferente. O jogo começou dividido, Postiga teve a primeira grande ocasião, complementada de um remate potente a seguir.

Mas chegou o 1-0 e o jogo punha à prova o leão. Que Sporting ia haver? Haveria reacção ou ainda há mais caminho a percorrer, do aquele que se pensava, na construção da equipa? O leão ficou aturdido e a resposta estava dada pelo pé de Zeca, que fez o 2-0. Entre um golo e outro, o Sporting nada fez e foi para o descanso com Diego a defender um livre de Carriço e com diferença a dobrar no placard. Visto de outro lado, Manuel Fernandes mudou o Vitória quando Zeca entrou. O camisola 17 inspirou a equipa e deixava os sadinos a 45 minutos e dois jogos da final do Jamor.

Levezinho ainda saiu da lâmpada

O Vitória percebeu o último sinal da primeira parte. Com 2-0 no marcador, o leão tinha de reagir. Se o conseguia, era outra pergunta. Certo é que o sadinos não iam facilitar a vida ao Sporting. Manuel Fernandes mandou as linhas recuar, concentrou o Vitória e perguntou ao leão se conseguia rugir.

Paulo Sérgio alargou o campo, tirou Evaldo e meteu Vukcevic. O Sporting jogava com três centrais, já depois de Polga ter feito a bola bater na barra. Depois de alguns contra-ataques mal conduzidos, o Vitória assumiu de vez: Zé Pedro entrava para controlar não fosse o diabo tecê-las. O diabo ou Liedson, que saltou da lâmpada para um golo de génio, daqueles que levam o treinador sadino a sorrir quando fala de um avançado tão grande na história leonina como o próprio Manuel Fernandes.

O 2-1 colocava dúvidas no marcador e a «táctica do desespero» vista com Paulo Bento (era quase sempre com três centrais que o agora seleccionador jogava, quando o leão precisava recuperar de tamanha desvantagem) surtia efeito no resultado e na exibição.

O Sporting ia à luta até final...mas perdeu, porque do outro lado esteve um Vitória com um coração de leão (Manuel Fernandes), que contagia o Bonfim com o amor pelo jogo, tão grande como o que tem pelo adversário que fez tombar nesta noite. Está a dois jogos do Jamor¿