Thierry Henry abriu o jogo sobre os problemas de saúde mental que o afetaram durante a carreira e assumiu que, naquela altura, este era um tempo pouco abordado, mesmo balneário.

«Na minha época era muito mais difícil, totalmente tabu. Até no balneário. Chegavas: 'Estás bem? Sim'. Mesmo que as coisas não estivessem indo bem. 'Dormiste bem? Sim'. Mesmo que não fosse o caso. 'tens dores? Não'. Mesmo que estivesse com dor. Hoje, um jogador pode abrir-se mais. Mas se disseres: ‘Mentalmente, não estava bem’, o jogo seguinte vai exigir muito de ti. O que vão cantar os adeptos? Não é fácil aceitarem-te como és», disse, em entrevista ao L’Equipe.

O antigo futebolista francês recordou um episódio com o ex-selecionador Raymond Domenech.

«Viro-me e de repente não me consigo mexer. As reações naquele momento foram: 'Ele não quer jogar mais’. Não, eu tinha uma hérnia. Quantos jogos joguei sem parar durante três anos? Depois de um tempo, tens que parar. Sérgio Ramos joga todos os jogos há dezassete anos. É normal que em algum momento seu corpo envie um aviso», exemplificou.

Além do central do PSG, Henry assinalou ainda o caso de Neymar.

«Neymar falou muitas vezes nas últimas entrevistas sobre o seu bem-estar, sobre a pressão. O meu primeiro pensamento foi: 'Ele está bem?' Ele fala, mas podemos ouvi-lo? Ele pede ajuda, há coisas na cabeça dele, como em qualquer ser humano», frisou.

«Teríamos de lhe perguntar, não posso falar por ele. Mas quando falamos de Messi ou Neymar, jogadores excecionais, esquecemo-nos dessa dimensão. Quando Lionel chorou ao deixar o Barcelona, ​​não estava programado. Quando pensas que nunca vais sair de algum lugar e de repente acontece, cria um choque emocional. As pessoas dizem: ‘Tudo bem, tem tudo o que precisa em Paris’. Mas não é tão simples. Quando eu saí do Arsenal para o Barcelona demorei um ano para ficar bem. Cheguei lesionado, estava em processo de divórcio, tive que aprender um novo sistema», acrescentou.

Agora adjunto na seleção da Bélgica, a antiga estrela do futebol mundial reconheceu que os Mundiais são mentalmente «muito desgastantes, quer ganhes ou não».

«Leva tempo para seguir em frente. Aconteceu comigo. Desde o pós-1998. Em 1996 eu fiz o Euro (sub-18), 1997 o Mundial Sub-20 e Mundial de 1998. Resultado: uma hérnia. Não me esqueço que me mandaram de volta para os sub-21 porque, supostamente, já não me esforçava. Chorar era impossível. Não podia mostrar fraquezas», rematou.