Para terminar a época 23-24, uma final da Taça com um confronto entre FC Porto e Sporting, duas equipas e treinadores com um conhecimento profundo entre si. Isto depois de se terem defrontado pela última vez há cerca de um mês, num jogo que, embora tenha terminado empatado, foi pautado por maior superioridade tático-estratégica da equipa portista. Era de imaginar, por isso, que o FC Porto fosse apresentar uma estratégia similar, enquanto Ruben Amorim poderia introduzir alguma nuance tática para surpreender e superar o adversário. E assim foi.

1. FC Porto entrou com um losango que evitou que médios do Sporting ligassem jogo

Mais uma vez, o FC Porto defensivamente começou num bloco medio-alto, sem pressionar de imediato a construção da linha defensiva de três do Sporting, definindo bem os timings para saltar nessa pressão.  

Praticamente usava um losango de pressão no centro, composto por Varela, Nico González à esquerda, Pepê à direita e Evanilson na frente, com a função de controlar os três defesas e os médios adversários.  Contando com uma forte coordenação entre estes quatros jogadores, para tentar condicionar a construção do sporting, evitar jogo interior e que os médios conseguissem ligar o jogo.  

Francisco Conceição e Galeno estavam preocupados em fechar os corredores laterais e recuar para a linha defensiva, se fosse necessário, quase colocando a equipa em alguns momentos próxima de um 6-3-1.

2. Sporting apresentou nuance: Morita nas costas dos médios portistas

Perante as dificuldades que teve com esta estratégia adversária no jogo anterior, o Sporting levou para esta final uma nuance posicional: alterou a sua construção três defesas mais dois médios, para três mais um. Morita nesta fase posicionava-se não ao lado de Hjulmand, mas sim numa linha mais alta, nas costas dos médios portistas.

Com isto o Sporting tentava confundir a coordenação da pressão adversaria, criar mais dúvidas e ganhar um jogador entre linhas para ligar o jogo.

No lado oposto, na construção do FC Porto, o Sporting defendia sem surpresas num 4x4x2, sendo menos intensa do que o habitual a pressão sobre as centrais portistas: jogava na mesma num bloco alto, mas esperava mais antes de saltar nessa pressão.

3. Pote na linha de Gyökeres e Nuno Santos mais alto, para não deixar a bola entrar em Varela

Pedro Gonçalves subia para a linha de Gyokeres e Nuno Santos jogava mais alto, alinhando com os médios, e baixando depois para fazer a linha de cinco defesas quando o adversário entrava no meio-campo ofensivo, de forma a condicionar a construção mais curta da equipa portista. A primeira linha de pressão, juntamente com um médio que subia, tentava evitar a entrada da bola nos médios portistas, especialmente em Varela.

Com isto tínhamos um jogo muito equilibrado, jogado mais no meio-campo e longe das balizas, com poucas oportunidades e com pouca fluidez dos processos ofensivos. Não foi por isso surpresa que os golos tenham surgido de erros (falha marcação do FC Porto numa bola parada e erro individual de Geny Catamo).

4. Galeno em diagonais nas costas da defesa sportinguista (até que uma acabou com o equilíbro)

Este equilíbrio, curiosamente, só acabou por mudar após um lance ofensivo que a equipa portista ia explorando: ao invés de ter Galeno a dar muita largura e profundidade na esquerda, colocou-o mais vezes no corredor central e com o objetivo de fazer diagonais nas costas da linha defensiva sportinguista, aproveitando o arrastamento dos centrais do Sporting, perante os movimentos de apoio de Evanilson.

Quando a equipa não conseguia construir curto, procurava estes movimentos à profundidade, sendo que um desses lances acabaria por resultar na expulsão de St. Juste. O que mudou o registo do jogo.

5. Sporting reorganizou-se em 5x3x1 e deixou o FC Porto construir facilmente

O Sporting teve de refazer a sua linha defensiva e passou a jogar em 5x3x1, abdicando de construir mais curto e organizando o seu jogo ofensivo com um futebol mais direto na primeira fase, à procura de Gyokeres. Com isso não manteve um bloco tão alto.

O FC Porto, em resposta, ia construindo com facilidade, fazendo os seus médios terem mais bola e possibilidade de organizar jogo, instalando-se no meio-campo ofensivo. Com isso passou a dominar e a controlar a final. Fez entrar mais um avançado (Taremi) ao intervalo e tentou sufocar o adversário.

O jogo passou então a ser jogado muito próximo da área do Sporting, que foi sabendo defender-se com oito jogadores muito próximos e baixos, deixando Gyokeres na frente para receber bolas no momento em que a equipa a ganhava (transição ofensiva)

De resto, tentava também aproveitar as bolas paradas para criar perigo, o que foi fazendo ao longo de todo jogo: o FC Porto sentiu-se sempre desconfortável nestes lances. Instalada no meio-campo adversário, a equipa de Sérgio Conceição tentava entrar dentro área adversária, com circulação segura, muitas combinações e dinâmicas nos corredores, envolvendo os alas, laterais e avançados: Pepê defendia como lateral, mas ataca muito e por dentro (quase como um médio mais).

6. Sporting volta a falhar onde costuma ser forte: nos movimentos à profundidade do adversário

Cada equipa fazia o que lhe competia, portanto. O Sporting defendia com tudo e, talvez percebendo a dificuldade em mudar a dinâmica do jogo, mexia para tentar defender-se melhor. Cada vez procurava mais reforçar a sua muralha à volta da área.  

O FC Porto forçava de várias formas, com cruzamentos, com remates de fora, com combinações, com lances individuais. Por outro lado, anulava as tentativas de transição e ganhava os duelos com Gyokeres. Ia forçando muito e tendo vários lances de perigo, tentando derrubar constantemente a muralha defensiva, o que acabaria por acontecer no prolongamento, de penálti, após um movimento à profundidade.

O jogo acabou assim por ser muito influenciado em dois lances que surgiram em movimentos à profundidade, nos quais a linha defensiva do Sporting de Ruben Amorim costuma ser muito forte: hoje, porém, mostrou dificuldades em defender esses lances.

O Sporting tentou reagir, tirou um defesa para jogar em 4x3x2, procurou dividir mais o jogo e chegar-se à frente, o que tornou o jogo mais aberto. A equipa de Ruben Amorim procurava arriscar e pressionar mais, mas não teve capacidade para alterar o resultado.