O homem forte de André Villas-Boas para as finanças é o sócio n.º 3978 do FC Porto. «Bastaria esse currículo para o elevar», afirmou o candidato na apresentação que decorreu na sede de campanha, na Boavista, na tarde de quinta-feira.

Antes de puxar dos galões sobre a licenciatura e mestrado em administração de empresas ou pela experiência na última década como Chief Financial Officer da NOS, José Pedro Pereira da Costa dirigiu-se aos sócios evocando a sua condição de portista.

O seu pai é o sócio n.º 178 do FC Porto e fez história no clube. «Ele foi seis vezes campeão nacional de andebol [na década de 1960], quatro na vertente de sete e duas na de onze», refere com orgulho em declarações ao Maisfutebol, recuando em seguida no tempo: «Nasci em 1967, vivi no Porto até aos 8 anos. Depois do meu pai deixar de jogar, foi trabalhar para Lisboa e levou a família com ele, em 1975.»

Desses primeiros anos de vida, Pereira da Costa lembra o fervor clubístico que lhe foi passado pelo avô. Foi dele que se lembrou ao subir ao púlpito na sua apresentação como CFO da lista de Villas-Boas para as eleições de abril.

CFO de Villas-Boas apresentou as suas ideias aos sócios, na quinta-feira

«Tive a felicidade de ser inscrito como sócio por ele, em 1971. Nos meus primeiros anos de vida, o momento alto da semana era quando o meu avô me ia buscar para ir às Antas. Lembro-me de ter chorado no dia da morte de um dos mitos do clube [Pavão], do perfume futebolístico de Cubillas, das maravilhas que os meus tios me contavam do mágico Dale Dover [basquetebolista norte-americano que nos anos 70 encantou os azuis e brancos]», recordou, desfiando memórias: «Vivi em Lisboa em tempos em que era difícil ser portista. Mas lembro-me de ouvir o relato pela rádio aquele título com Pedroto, ao fim de 19 anos sem ser campeão, bem como das finais de Viena e de Tóquio. Assisti ao vivo às finais de Sevilha, Gelsenkirchen e Dublin. Algumas das maiores alegrias como portista têm a marca de água do André: essa final [da Liga Europa] de Dublin, os 5-0 a um dos nossos rivais [Benfica] no Dragão, a celebração do título nacional às escuras em casa desse rival, e a menos mediática “remontada” na meia-final da Taça de Portugal no mesmo estádio.»

«Peça fundamental» para Villas-Boas

Formando na Universidade Católica e com um mestrado tirado no INSEAD Business School, Pereira da Costa foi CFO da NOS SGPS durante os últimos dez anos, até dezembro de 2023, desempenhou funções similares na ZON Multimédia e na Portugal Telecom, onde permaneceu de 2003 de 2007, tendo sido também durante 16 anos membro não executivo do conselho de administração da Sport TV. Foi ainda membro do conselho de administração da Vivo (Telefônica Brasil), de 2001 a dezembro de 2002, e desempenhou funções de Diretor de Finanças Corporativas e M&A no Santander Corporate & Investment Banking, de 1997 a 2000.

Villas-Boas apresenta a experiência profissional da sua aposta para administrador financeiro como «algo nunca visto no futebol português» e aponta-o como «peça fundamental» para a sua candidatura.

Pereira da Costa analisou contas do FC Porto na sede de campanha de Villas-Boas

Pereira da Costa revelou surpresa com o convite, por não ter uma ligação conhecida ao clube, mas diz que não demorou a passar ao «sim incondicional». Agradeceu à mulher, Ana, e aos três filhos «todos portistas» – o filho é também sócio, as duas filhas são simpatizantes –, tendo passado de seguida ao diagnóstico «muito preocupante» sobre as contas da SAD e ao levantamento de algumas ideias sobre a estratégia futura como homem forte das finanças.

No discurso de apresentação, o candidato ao lugar que atualmente é ocupado por Fernando Gomes como CFO do FC Porto salientou os resultados negativos acumulados de 250 milhões de euros em 10 anos, o passivo de 530 milhões, a dívida de 310 milhões. Comparou com os rivais valores arrecadados em vendas de jogadores, receitas de bilheteira e merchandising, sublinhou o valor das despesas de representação de 1,4 milhões de euros, bem como os gastos de três milhões na rubrica de fornecimentos e serviços externos.

Em termos estratégicos, o homem das contas prometeu melhores resultados «na bilhética, no merchandising, nos sponsors ou na rentabilização do estádio», valorizar a formação e o «scouting», «diversificar fontes de financiamento» e «renegociar prazos mais longos, para aliviar a pressão sobre a tesouraria no curto prazo». Tudo isto com uma administração «mais ligeira em custo», comparando com os 3,6 milhões de euros entre remunerações fixas e prémios que custou a atual SAD no último exercício.

O contra-ataque de Pinto da Costa

Pouco mais de um par de horas após esse discurso, Pereira da Costa já era visado pela candidatura «Todos pelo Porto», de Pinto da Costa, que numa publicação no Facebook o acusou de «estar por trás de uma providência cautelar movida contra o FC Porto em 2016, quando o clube assinou com a MEO um contrato [pelos direitos televisivos] superior a 450 milhões euros – uma proposta que superava largamente a da NOS e que foi fundamental para a competitividade do clube na última década».

Ainda antes deste contra-ataque, Villas-Boas apontou baterias a uma gestão «gasta e antiquada» de um clube que «aparenta ser um quintal com uma galinha de ovos de ouro, que serve alguns enquanto o seu futuro está cada vez mais hipotecado».

Encarado como trunfo para as eleições de abril, Pereira da Costa teve na plateia presenças como a do advogado António Lobo Xavier ou do economista Luís Menezes numa apresentação que terminou com uma troca de presentes.

Momento ficou marcado pela troca de presentes entre Villas-Boas e Pereira da Costa

Villas-Boas ofereceu uma camisola do FC Porto com o nome José Pedro e o número 24. Pereira da Costa foi ao baú de memórias e trouxe de lá quatro relíquias do seu espólio de adepto para oferecer àquele que acredita será o futuro presidente: a primeira edição da revista Dragões, o programa da final da Liga Europa, conquistada em 2011 pelo FC Porto de Villas-Boas, e duas cassetes VHS com as gravações das finais de Viena e de Tóquio.

Ao fundo, soavam aplausos de uma sala cheia. No palco, ecoava uma canção de Pedro Abrunhosa: «Vamos fazer o que ainda não foi feito.»