O Atlético de Madrid está de regresso aos «quartos» da Liga dos Campeões, depois de triunfar, nos penáltis, diante do Inter Milão. Numa noite de muitas emoções, há que apertar (bem) o cinto para rebobinar o filme deste duelo.

A história do segundo «round» entre Atlético Madrid e Inter Milão, nos «oitavos» da Liga dos Campeões, poderia ser contada ao som de The Doors. Num Metropolitano quase lotado – com 69.196 adeptos, um recorde – os aficionados dos «colchoneros» apelavam à reviravolta, na esperança de que os comandados de Simeone fossem capazes de reacender as aspirações de uma época abaixo das expectativas. Por isso, nas bancadas pedia-se: «Light My Fire».

Ao contrário da partida da primeira mão, na qual apenas o segundo tempo trouxe emoção ao Giuseppe Meazza, este reencontro entre «colchoneros» e «nerazzurri» – o terceiro na história – foi pleno de intensidade desde princípio.

Beneficiando do regresso de Griezmann, ausente por lesão nas últimas três semanas, a turma de Simeone lateralizou o jogo por Samuel Lino, confiando ao ex-Gil Vicente a missão de servir a dupla do ataque. Em todo o caso, foi do «pé canhão» do ala que surgiu a primeira oportunidade do encontro, aos 6m. Entre os postes, o elástico e veloz Sommer travou o remate.

Na resposta, aos 14m, Çalhanoğlu rasgou a defesa madrilena com um passe longo, servindo Dumfries, que agradeceu o corredor direito deserto e obrigou Oblak a aplicar-se em dose dupla.

Este era o espelho do duelo ao fim de 20 minutos. O Atlético Madrid apostava em investidas lateralizadas. Por sua vez, o Inter Milão replicava a estratégia, mas entregava a iniciativa do jogo aos adversários, aguardando erros na construção contrária. Nesta fase, Witsel, entre os anfitriões, e De Vrij, nos visitantes, eram os comandantes das respetivas linhas defensivas e, também, das ofensivas sobre os adversários.

Recorde, aqui, a história deste jogo.

Griezmann, em boa hora

Entre avisos, este duelo subiu de tom aos 33m, quando Di Marco inaugurou o marcador, numa jogada de laboratório, quase sempre ao primeiro toque, na qual Barella surgiu na área e serviu o compatriota.

Na resposta, Griezmann aproveitou a distração da defesa contrária – talvez ainda eufórica com o golo marcado – e repôs a igualdade. Assistido pela «rosca» do compatriota Pavard, o francês assinou o sexto golo na Liga dos Campeões.

Sem sinais de abrandar, o Atlético Madrid mostrou-se transfigurado, contrariando a ideia de que Simeone aposta apenas na defesa, e remeteu os italianos para a respetiva área. Era a mensagem subliminar para o que aconteceria no resto da partida.

Da ansiedade à loucura e ao desespero

Como sabe, o êxito «Light My Fire» é toda uma viagem, nove minutos plenos de intensidade e prazerosos. Algo idêntico aconteceu esta noite no Metropolitano, mas em 90 minutos. O «amasso» dos «colchoneros» parecia não terminar, com Sommer a travar as sucessivas investidas de Morata, Griezmann e Llorente.

Todavia, num raríssimo contra-ataque, aos 77m, Thuram ameaçou mudar a música e dar «play» a outro êxito, desta feita «Roadhouse Blues». Na cara do golo, e servido por Lautaro Martínez, o avançado desperdiçou a oportunidade de selar a qualificação dos «nerazzurri», rematando por cima. O espelho de uma noite desinspirada e alienada de Thuram.

Nesse momento, o desespero de Inzaghi parecia adivinhar a (provável) consequência de não capitalizar tal jogada.

Entregue este aviso, as bancadas do Metropolitano foram resgatar energias ao reduto mais puro da paixão «colchonera» e galvanizaram os anfitriões para «invadirem» a área contrária.

Já com Memphis Depay em campo – lançado aos 79m, em detrimento de Morata – o neerlandês mostrou como fazer render cada minuto em campo e lembrar um legado que se prometeu escrever em tempos, em Manchester. Se, aos 86m, Memphis afinou a pontaria, contra o poste, no minuto seguinte soltou a festa.

Poderia estar descoberta, por fim, a rota dos «quartos». De preferência ao som de «Break On Throught (To The Other Side)».

Na loucura da música, na euforia proveniente das bancadas, Griezmann esgotou as baterias para servir Rodrigo Riquelme. Contudo, o jovem madrileno, no coração da área, falhou o alvo, para desespero de Simeone, que caiu prostrado sobre o relvado.

«O que pensar? O que sentir?». Talvez fosse este o estado de espírito dos aficionados do Atlético Madrid aquando do derradeiro apito, que confirmou o prolongamento.

Oblak, a estátua que se impõe

Meia-hora especial, exige uma faixa ímpar. Portanto, que toque «Riders on the Storm». O sofrimento e a ansiedade impediram as equipas de arriscar o desempate na eliminatória. Em todo o caso, Sommer voltou a vestir a capa de herói aos 97m, perante o endiabrado Memphis Depay.

Entre os «nerazzurri», apenas o capitão Lautaro Martínez ensaiou uma resposta, aos 98m, quando, na sequência de um canto, pela direita, o argentino tirou tinta ao poste.

Na hora dos penáltis – e dos eternos heróis – Oblak voltou a justificar uma estátua à porta do Metropolitano. O guardião esloveno travou Alexis Sanchéz e Klaassen. Quanto a Sommer, ainda que o especialista tenha travado o remate de Saúl, foi na primeira fila que o suíço viu o capitão do Inter errar no momento proibido.

Perante Oblak, e com as aspirações «nerazzurri» sobre os ombros, Lautaro Martínez tanto quis colocar o remate, que «disparou» para a bancada.

Na prova mais capaz de oferecer momentos cinematográficos, de arrepiar, um dia alguém há de compilar as imagens deste jogo e revelar o plano que nos mostrará a «explosão» «colchonera» enquanto o remate de Martínez sobrevoa a trave.

Dois anos depois, o Atlético Madrid está de regresso aos quartos de final, juntando-se a Borussia Dortmund, Bayern Munique, Barcelona, Real Madrid, Man. City, Arsenal e PSG.

Apesar do cansaço, será difícil encontrar melhor motivação para preparar a receção ao Barcelona, e, quiçá, um fecho positivo de campeonato.

Por sua vez, o Inter Milão volta a conhecer o trilho das derrotas, quase meio ano depois. Os «nerazzurri», líderes confortáveis da Serie A, terão a lamentar as oportunidades desperdiçadas para voltar a sonhar com o Olimpo do futebol europeu.

Na manhã desta sexta-feira há sorteio dos «quartos» da Champions. Para acompanhar no Maisfutebol.

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