Julho de 1993.
O Benfica tinha perdido Paulo Sousa e Pacheco para o Sporting e tinha recuperado João Pinto após um raide a Espanha, onde o avançado estava escondido após chegar a acordo com Sousa Cintra, tendo sido descoberto apenas após intervenção de Valentim Loureiro.
Pelo meio estava a caminho de acertar a venda de Paulo Futre para o Marselha, que nessa altura era campeão europeu em título e estava disposto a pagar por 900 mil contos (4,5 milhões de euros) para garantir a estrela portuguesa, que já anunciara não querer ficar na Luz.
Ora perante esta agitação toda, os adeptos estavam naturalmente revoltados e, para os tranquilizar, o presidente Jorge de Brito sentia que era necessário garantir um nome sonante.
Foi então que o Benfica apontou agulhas para o colombiano El Tren Valencia.
A Colômbia era nessa altura uma das seleções da moda. Tinha craques já consagrados como Valderrama e Faustino Asprilla, estava a brilhar na Copa América de 93 (que terminaria no terceiro lugar) e tinha promessas como Freddy Rincón e El Tren Valencia a dar nas vistas.
Pretendido por vários clubes europeus, El Tren chegou a ter tudo acordado com o Benfica.
Nesse sentido, a imprensa deu conta de um acordo para o avançado assinar por três anos, com o Santa Fé a receber 500 mil contos pela transferência.
O clube colombiano estava, porém, preocupado com as notícias de uma crise financeira na Luz e exigia garantias, que nunca foram dadas. Por isso El Tren nunca viajou para Lisboa.
«Lembro-me perfeitamente disso. A hipótese de me transferir para o Benfica gerou em mim uma grande expetativa. Não consigo entender bem o que se passou, mas sei que as coisas não se resolveram a contento», referiu mais tarde o jogador.
«Eu desejava que a transferência tivesse acontecido, mas o clube estava com problemas económicos. Julgo que era muito caro para o Benfica. Eles não possuíam dinheiro suficiente para me contratar. Estou convencido que foi essa a razão principal.»
Por isso, e para substituir El Tren, acabou por chegar Aílton, um avançado brasileiro que em meio ano tinha apontado quatro golos ao serviço do At. Mineiro.
O que é certo é que Aílton acabou por ser importante para a conquista do título, no ano que passou à história pelo 6-3 de Alvalade: fez 33 jogos, 14 golos e cinco assistências.
Mas não convenceu e na equipa seguinte foi cedido ao São Paulo.
Já El Tren Valencia transferiu-se nesse verão para o gigante Bayern Munique, onde chegou como grande contratação... mas também não convenceu. Após treze golos em ano e meio foi emprestado ao At. Madrid e no final dessa segunda época voltou à Colômbia.
A fama do ponta de lança era claramente exagerada e El Tren fez uma carreira bem mais discreta do que prometia. Só voltou à Europa para representar a Reggiana e o PAOK, aliás.
O Benfica não terá perdido muito, portanto. A não ser a habitual ilusão de início de época.
«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.