O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

NUNO FERREIRA, PREMIERSHIP ACADEMY (CANADÁ)

«Caros amigos e leitores!

Hoje irei dissipar algumas dúvidas sobre a minha atual situação e também abordar como foi o trabalho neste ultimo verão!

Estou a escrever este texto um dia após ter assinado contrato com um clube de Montreal, mas isso deixo para a próxima crónica, em dezembro divulgarei todos os detalhes.

Por agora vou apenas focar-me no que andei a fazer durante o ultimo verão após ter terminado os torneios com a PFC Academy, em julho.

Terminados os torneios no início de julho em Portugal surgiu uma proposta vinda de Montreal (Canadá) de uma academia inglesa chamada de PremierShip, projeto esse, segundo o líder, ligado ao FC Liverpool.

Foi-me oferecida a possibilidade de ir trabalhar com eles durante o verão juntamente com outros treinadores britânicos ligados ao FC Liverpool, Manchester City e Cardiff City. Achei interessante o projeto e resolvi aceitar.

Foi uma decisão difícil de tomar, uma vez que tinha sido convidado para um projeto de futebol feminino em Portugal. Mas, perante as dificuldades económicas do nosso país (a minha esposa no início da gravidez, ela própria acabada de montar um ATL chamado Estudaki na Ramada, em Odivelas), achei que não teria ainda as condições necessárias para voltar a Portugal.

No dia 22 julho comecei a trabalhar então com a Premiership. A Academia era solicitada por dois clubes de Montreal para prestar vários serviços, ou seja, os clubes pagavam a academia para colocar lá os treinadores para treinarem as equipas de competição.

Além disso os treinadores tinham de dinamizar o programa com os jovens de 5-8 anos. Os típicos summercamps também estavam em agenda. A Academia também fazia “tours” a Inglaterra, ou seja, alguns jovens iam visitar os clubes e podiam fazer um treino nos centros de estágio de alguns clubes ingleses. Para lá de tudo isto a academia também era solicitada por pessoas adultas para sessões de fitness.

Se no início achei interessante o projeto, aos poucos fui ficando algo desanimado e desconfiado.
É sempre enriquecedor trabalhar com outras mentalidades, no entanto, considero que a escola portuguesa será sempre superior à escola inglesa.

O conceito “kick and run” ainda está muito enraizado na cultura inglesa, apesar de essa mentalidade aos poucos estar a evoluir. A escola portuguesa privilegia a técnica, a posse de bola, a relação com a bola é muito diferente do conceito “kick and run”. Haverá muito por dizer sobre este assunto.

Lentamente fui-me deparando com situações pouco claras no seio desta academia, especialmente no seu relacionamento com a Associação de Futebol local e nas inúmeras queixas que os meus colegas faziam sobre o presidente. Isso levantou-me sérias duvidas em relação à honestidade da pessoa que me convidou para este projeto.

Apesar de desconfiado, fiz o meu trabalho. Quando chegou o fim do verão, todos os outros treinadores foram para casa e o presidente propôs-me ficar em Montreal a trabalhar em “full time”, fazendo treinos de Indoor em dois clubes locais.

Regressei a Portugal em setembro para descansar duas semanas e decidi voltar a Montreal, uma vez que as opções não eram muitas.

Achei por bem apenas verbalizar o meu acordo com a academia, sem ter nenhum contrato assinado, sempre achei que estar com esta academia era apenas uma situação temporária, ao mesmo tempo poderia estabelecer outros contactos no Canadá.

Desde julho até agora fui construindo a minha reputação em Montreal, sempre com a esperança de conseguir algo melhor.

E graças a Deus, com o esforço do meu trabalho no campo e fora dele, no dia 27 de novembro assinei contrato com um clube de Montreal e além disso fui convidado para outro projeto em que acumularei as funções. De uma assentada Deus deu-me dois trabalhos. Sobre isto falarei na próxima crónica.

Para terminar, gostaria deixar claro que sempre fui uma pessoa que ajudou os outros sem pedir nada em troca. Muitas vezes ajudei treinadores (colegas) a arranjar clube, jogadores, empresários, massagistas e até diretores.

Nunca, em circunstância alguma, me viram a vangloriar desse feito, sempre fui muito discreto. Todos aqueles que eu ajudei sabem quem são. Nem sempre é possível ajudar a quem me solicita. Eu também fui ajudado algumas vezes e muitas vezes negado e agradeço do fundo do coração a todos os que me ajudaram também.

Não sou ingrato, fico-me por aqui. Take care guys

Nuno Ferreira»