Prometo ser breve. Estou com um bocadinho de pressa e o leitor provavelmente também está. Por isso vou tentar não demorar mais de dois minutos. Antigamente eram 120 segundos, agora, com pressa, serão uns 48 segundos, 50 no máximo.

A verdade é que o tempo está sem tempo. A vida passa a correr e, com ela, também o futebol passa a correr. A não ser quando a bola chega aos pés de Ronny. Mas essa é outra história e o melhor é mesmo não perder tempo com ela.

Antigamente o futebol durava uma vida. Ou pelo menos uma infância. O calcanhar de Madjer em Viena. O míssil de Carlos Manuel em Estugarda. O segundo golo de Jordão em Marselha. Acompanharam-me durante anos.

Impossível esquecer a perfeição do gesto de Madjer a abrir o Domingo Desportivo. Ou a corrida louca de Carlos Manuel no genérico dos jogos da selecção. Logo após o sinal da Eurovision de transmissão internacional.

Mas esses eram outros tempos. Hoje não há tempo. Há um tempinho. À excepção dos médicos privados, já ninguém tem uma hora para nós. Têm dois minutos. Ou trinta segundos. Entre o ginásio e a reunião da Associação de Pais.

O futebol, também ele, vai desgovernado. Em excesso de velocidade. Há jogos segunda-feira. Terça e quarta. Quinta-feira. Sexta, sábado e domingo. À excepção das decisões do Conselho de Justiça, que se arrastam durante meses para nosso bem, é impossível recordar alguma coisa por mais de dois dias.

Por isso admito que já não me lembro bem do golo de Derlei em Sevilha. Ou da acrobacia de Micolli em Liverpool. Ou do que quer que seja que o improvável Miguel Garcia fez em Alkmaar. Quer dizer, nesta voracidade alucinante de jogos nem me lembro se o Sporting jogou em Alkmaar. É provável que sim. Quando tiver um tempinho prometo pensar nisso.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as quintas-feiras