Ao longo dos últimos anos, os vários confrontos entre o Sporting de Ruben Amorim e o FC Porto de Sérgio Conceição têm sido interessantes do ponto de vista tático-estratégico.

Dois treinadores/equipas com marcas bem caraterísticas (e diferentes entre si), que não abdicam da sua identidade, mas tentam sempre preparar estes jogos com nuances estratégicas para superar o adversário. Por isso há sempre alguma curiosidade em perceber esse lado estratégico que levam para o jogo.

1. FC Porto entrou a arriscar ficar em igualdade numérica atrás e com espaço nas costas

O FC Porto tenta fazer da pressão uma das suas principais armas para competir e se tentar superiorizar nestes jogos. Ao invés de um claro 4x4x2 no momento defensivo, apresentou-se com Galeno claramente mais baixo e praticamente encaixado na linha defensiva, tentando controlar Geny Catamo.  Zaidu surgia mais dentro e com a missão de acompanhar Edwards, seguindo-o por várias zonas do campo.

Na frente, para condicionar a construção a três do Sporting, Taremi descaía mais para a esquerda, para saltar na pressão sobre Quaresma, Evanilson pressionava o central do meio (Diomande) e Pepê alternava entre pressionar o central esquerdo (Inácio) e baixar para defender o seu corredor. Os médios do FC Porto surgiam muito altos, tentando condicionar a entrada da bola nos dois médios do Sporting.

Do lado direito, João Mário subia para pressionar à frente e o central direito acompanhava-o muitas vezes, também ele subindo para encostar em Pedro Gonçalves. Era clara, portanto, a intenção do FC Porto em condicionar a construção e criação do adversário, ainda que tivesse de arriscar ficar por vezes em igualdade numérica na linha defensiva e com algum espaço nas costas.

2. Sporting teve dificuldades em ligar o jogo de forma curta e explorou a solução Gyökeres

O Sporting respondia com a intenção clara de superar a pressão do FC Porto procurando rapidamente os jogadores da frente, especialmente Gyökeres. Sem conseguir ligar muitas vezes de forma curta com os médios, e com pouca possibilidade de circulação na linha de três, desde início se percebeu a intenção de superar a pressão através do avançado sueco.

Antecipava-se, de resto, que a capacidade do Sporting para tirar partido das suas características, e a estratégia do FC Porto para controlar essas características do adversário, poderiam ser fundamentais para o desfecho deste jogo. O que não se podia antecipar, porém, era que logo cedo (na primeira oportunidade e com o jogo ainda fechado) o Sporting sairia em vantagem, a partir de um movimento típico do Gyökeres.

3. Gyökeres (sempre ele) baixava a controlar o primeiro médio de construção e o FC Porto não conseguia fluir o jogo

Com bola, o FC Porto apresentava uma estrutura assimétrica. Galeno mais aberto e profundo, com Zaidu mais recuado. No outro lado, Pepê jogava mais dentro, com mais liberdade de movimentos. João Mário tinha a responsabilidade de dar profundidade ao corredor, embora nem sempre o tenha conseguido fazer.  Evanilson surgia mais fixo, enquanto Taremi tentava baixar para o espaço entre linhas sob a meia esquerda. 

O Sporting respondia tentando estar alto e definir os momentos mais intensos de pressão. Ao invés de usar a capacidade física de Gyökeres para uma pressão muito intensa sob os centrais do FC Porto, optou por fazer subir Pedro Gonçalves e Edwards para saltarem nessa pressão. Gyökeres baixava um pouco para controlar o médio adversário que recuava mais para construir, ajudando a fechar o espaço central juntamente com Morita e Hjulmand.

Ainda que o FC Porto até fosse conseguindo encontrar soluções na fase de construção para superar esta pressão, não conseguia depois fazer o seu jogo fluir tão eficazmente na fase de criação quando já estava no meio-campo adversário. Não conseguia ter muito jogo pela direita, poucas vezes explorava o posicionamento de Taremi e ia tentando forçar mais por Galeno.

Ora Galeno que – ainda tenha tido muitas solicitações, e em alguns momentos até ganhado as costas de Catamo – encontrou um Eduardo Quaresma muito eficaz na cobertura ao lateral e nas ações defensivas que teve contra o extremo portista. Por isso o FC Porto tinha mais bola, tinha alguma bola já no meio-campo do Sporting, mas enfrentava dificuldades em criar e desorganizar a estrutura adversária.

4. Pedro Gonçalves e Edwards partiam de zonas avançadas e exploravam o espaços nas costas do adversário

Do outro lado, o facto de Pedro Gonçalves e Edwards partirem de zonas mais altas defensivamente, fazia com que fossem jogadores que podiam ser logo explorados no momento de transição ofensiva, e o Sporting ia aproveitando isso.

Por um lado, com a competência da sua linha defensiva, a intensidade e a capacidade de luta dos médios, por outro lado com alguma dificuldade dos médios portistas em ligar o jogo, o Sporting ia criando problemas ao FC Porto em situação de ataques rápidos a partir de bolas ganhas no seu meio-campo, e com hipótese de explorar vantagens sobre a linha defensiva portista.

Era um jogo com poucas oportunidades, jogado longe das balizas, com o FC Porto a ter mais bola, mas com dificuldade em criar, e o Sporting com mais situações de perigo a partir do momento em que ganhava a bola e explorava o espaço nas costas do adversário.

5. Expulsão de Pepe tornou ainda mais difícil para o FC Porto controlar as transições do Sporting

Logo no início da segunda parte, o FC Porto ficou com menos um jogador e passou a ter mais dificuldades, tendo de se ajustar para 4x4x1. Isto não alterou muito a toada de jogo, mas tornou o futebol mais aberto. A equipa de Sérgio Conceição tentou manter o seu registo de pressão, procura pelo golo e mais bola, mas ficou ainda com mais dificuldades em controlar as transições de Sporting.

Foi numa dessas transições que acabou por sofrer o segundo golo, e depois disso por permitir várias situações de golo ao adversário. Tentou mexer pelas características dos jogadores, mas o Sporting foi-se fechando bem, arriscando menos e controlando o jogo.