Trás-os-Montes também tem tomba-gigantes: na circunstância, o Mirandela. Com todo o mérito, fez tombar o histórico V. Setúbal, numa tarde de festa e muita emoção. O Campo de São Sebastião tornou-se pequeno para tamanha festa, ele que na última época viveu uma desilusão directamente proporcional.

Na altura a formação transmontana foi heróica do primeiro ao último minuto, mas caiu nas grandes penalidades perante um Beira Mar que marcou cedo e foi depois muito afortunado. A experiência serviu de lição, e desta vez o Mirandela fez tudo ao contrário: marcou cedo e soube sofrer até ao fim.

Um vitoriano em Mirandela: «Peço desculpa»

A vitória fez-se muito de nomes, de resto. Primeiro, e antes de tudo, Ricardo. O guarda-redes internacional voltou a jogar por uma equipa portuguesa mais de quatro anos após ter saído para o Bétis, mas não foi feliz: uma hesitação tão normal nele permitiu a Paulo Roberto ganhar a bola e fazer um golo fácil.

O golo inverteu os papéis relativamente ao que o Mirandela tinha feito no ano anterior: desta vez era o adversário que tinha de correr atrás do resultado. O que fez emergir outro nome essencial nesta história: Manú. Trata-se de um guarda-redes de 21 anos, natural da terra, como Eduardo ou Paulo Lopes.

Manú, o miúdo que sonha ser Eduardo Paulo e Lopes

Através de uma tranquilidade notável, sobretudo nas muitas bolas altas, transmitiu serenidade à equipa. Em três ou quatro intervenções de grande nível, segurou a vantagem mínima. Ao lado dos brasileiros Gabriel e Paulo Roberto (um ponta de lança de inegável qualidade), foi a figura do jogo.

Esta história não termina porém sem referir mais dois nomes: Rafael Lopes e Hugo Leal. Nos quinze minutos finais, e quando o V. Setúbal se preparava para o assalto final, foram expulsos, ambos por vermelho directo. Nada a dizer: o primeiro por palavras ao assistente, o segundo por uma agressão a Gabriel.

Mirandela celebra com alheiras (e até o Setúbal foi à festa)

Com apenas nove jogadores, e apesar da muito boa vontade, o V. Setúbal foi pouco mais do que inofensivo. Nem nas bolas paradas assustou. O Mirandela que ainda teve a melhor ocasião para marcar, num remate à trave de Rui Borges, foi gigante e fez a festa: a vitória foi mais cristalina do que água.

Ficha de jogo:

Estádio São Sebastião, em Mirandela

Espectadores: cerca de 3 mil

Árbitro: Carlos Xistra, de Castelo Branco

Assistentes: José Lima e Jorge Cruz

MIRANDELA: Manú; Gabriel, Rondinele, Ramalho e Marco Lança; Ericson e Rui Lopes (Carlão, 64m); Rui Borges, Pedró (Bertinho, 74m) e Kuca (Persi, 90m); Paulo Roberto.

Suplentes não utilizados: Armando, Jonas, Edu e Ricardo Costa.

V. SETÚBAL: Ricardo; Michel (Henrique, 75m), Thiago Veras, Anderson do Ó e Igor (Miguelito, 63m); Neca, Bruno Amaro e Hugo Leal; Jorge Gonçalves, João Silva e Pitbull (Rafael Lopes, 46m).

Suplentes não utilizados: Matos, Ney, Pedro Mendes, Bruno Gallo e Henrique.

GOLOS: Paulo Roberto (3m)

Disciplina: cartão amarelo a Kuca (12m), Bruno Amaro (44m) e Persi (90m). Cartão vermelho para Rafael Lopes (77m) e Hugo Leal (80m).