José Mourinho deixou o Inter de Milão, logo após a conquista da Liga dos Campeões, no Santiago Bernabéu, de forma abrupta, mas agora, já como treinador do Real Madrid, refere-se aos «neroazzurri», tal como fez quando deixou o Chelsea, como os seus jogadores. O treinador diz que não é pessoa para coleccionar recordações, que deixa as medalhas e as bolas para o filho, mas define-se como um guardador de emoções e de fortes amizades. Fica explicado o sentido abraço a Materrazi que correu o mundo.

«Não sou um falso Midas, mas na temporada de 2009/10 ganhei todos os troféus e o sucesso deve-se aos resultados da minha equipa. Por isso não posso esquecer os meus antigos jogadores. Tive uma equipa fantástica, com jogadores fantásticos. São jogadores que na próximo temporada podem ganhar tudo. Podem ganhar o campeonato, a taça, tudo, menos a Champions. Não esqueço os meus jogadores do Inter», referiu.

A empatia com os jogadores tem sido, ao longo da sua carreira, uma das melhores armas de Mourinho. Foi assim no F.C. Porto, no Chelsea , no Inter e vai ser assim, agora, no Real Madrid. «O futebol é mais do que táctica, mais do que treino e jogar bem. O futebol joga-se com um grupo de homens que são todos diferentes, mas que formam uma família. Os jogadores passam a ser minha segunda família. Só com estes níveis de empatia é que se podem atingir resultados que ninguém espera. Com os jogadores, normalmente, consigo esse tipo de empatia que faz com que sejam os meus jogadores para sempre. Ainda hoje falo de jogadores do Leiria e do Porto e falo dos meus jogadores. Senti esta época a alegria de jogadores que já não são meus jogadores, mas que continuam a ser os meus jogadores. É isso que quero fazer no Real Madrid», referiu.

Marco Materazzi, central do Inter, é um desses jogadores, apesar de ter sido pouco utilizado por Mourinho. «Alguns dos meus antigos jogadores deixam saudades. Não sou uma pessoa de guardar recordações. As bolas não são minhas, são do meu filho, as medalhas não são minhas, são do meu filho. Eu guardo mais essas coisas. Ouvir o Materazzi dizer-me que se te vais embora não jogo mais e eu dizer-lhe que tem de jogar porque ainda tem muito para dar. São essas coisas que ganho», contou.

A comunicação social italiana, como não podia deixar de ser, esteve bem representada na conferência de imprensa. Quem ganhou mais com a passagem de Mourinho pelo «cálcio»? O treinador ou o futebol italiano? «Sou um treinador que melhora todos os dias. Trabalhei em Itália dois anos e aprendi muito. É importante ter a humildade de aprender todos os dias. O campeonato italiano é muito difícil, saio mais rico e melhor treinador depois de dois anos em Itália e espero dizer o mesmo depois de realizar o meu trabalho no Real Madrid. Um treinador é mais rico e mais culto quando trabalha em campeonatos diferentes. O futebol italiano é campeão do Mundo e da Europa a nível de clubes. O futebol italiano, com todos os seus problemas, vive um momento de grande orgulho», destacou.

A verdade é que a saída de Mourinho deixou um enorme vazio no Inter que está com dificuldades em encontrar um sucessor. O técnico português contou que não deixou nenhum conselho a Maximo Moratti nesse sentido, mas garante que deixou uma estrutura bem montada para o futuro. «Não falei com o presidente sobre o próximo treinador. O Inter tem uma equipa de futuro, tem três ou quatro jogadores que têm poucos anos de futebol para dar, mas é uma equipa que foi construída para ter êxito hoje e amanhã. Para uma equipa ser campeã da Europa precisa de um grande treinador, mas o Inter está bem estruturado. Se o treinador que chegar for inteligente terá grandes possibilidades de ter êxito, só tem de aproveitar o que está feito. Vai ser um treinador com grande sorte porque lhe ofereci a possibilidade de ganhar três títulos: Supertaça italiana, Supertaça Europeia e Mundial de Clubes».