O dia seguinte nem sempre é o melhor, pelo menos quando se trata de André Villas-Boas, AVB em Inglaterra. No rescaldo do prematuro despedimento do Chelsea, as falhas do treinador português são dissecadas nesta segunda-feira pelos jornais ingleses, numa saída que não deixa saudades a jogadores e jornalistas. O milionário russo dono dos «blues» também não escapa às críticas e ao embaraço.

«No final resumia-se a isto: ou Roman Abramovich despedia os 25 jogadores da equipa sénior ou optava pela solução mais barata e despedia o treinador. O balneário e o jovem treinador tornaram-se incompatíveis, por isso, o cálculo era simples de fazer», escreve Matt Lawton, editor correspondente do Daily Mail.

«Seria sempre difícil para um treinador mais novo que algumas das estrelas da equipa, sobretudo num balneário forte como o do Chelsea», reconhece, ainda.

Mas, para Matt Lawton, AVB foi vencido na área que mais gosta: a comunicação ou, no caso, a falta dela: «Para um indivíduo inteligente e que domina várias línguas, faltavam a Villas-Boas capacidades básicas de comunicação. Fracassou na gestão dos jogadores quando queria deixá-los de fora, em particular Frank Lampard. No domingo, ele estava já muito isolado, ainda que alguns jogadores jovens continuassem do seu lado.»

Sobrevivência vs lealdade

Também Richard Williams, redator-chefe do Guardian, destacou na sua coluna que AVB foi vítima dos seus jogadores, com o instinto de sobrevivência a impor-se ao da lealdade.

«É um surpreendente grau de influência exercido pelos jogadores, particularmente quando o seu patrão é um dos homens mais ricos do mundo. Evidentemente, Roman Abramovich, que pode fazer o que quiser com sua fortuna, prefere ouvir os sussurros dos seus empregados a confiar a longo prazo num treinador que contratou para fazer do Chelsea uma equipa vencedora», argumenta.

E não foi por ser português. «O seu domínio quase perfeito da língua inglesa deita por terra a teoria de que a única barreira entre treinadores estrangeiros e o sucesso na Premier League é a incapacidade de comunicar com os jogadores e com o exterior», acrescenta Richard Williams.

Para este editor do Guardian, AVB «cometeu tantos erros no Chelsea que é difícil saber por onde começar». Como não ter apostado nos jogadores a formação e, simultaneamente, alienado os veteranos, que nunca gostaram da forma como Anelka e Alex foram mandados treinar com as reservas até encontrarem clube.

Mourinho podia ter explicado

Já Paul Hayward, redator-chefe do Daily Telegraph, chama a atenção para outros problemas que não AVB, como os diretores do clube e o departamento de contratações.

«Quem, por exemplo, gastou uma fortuna em Fernando Torres? Não foi André Villas-Boas. Quem pediu a contratação de Juan Mata, uma das melhores aquisições do plantel? AVB», lembra, apontando o dedo ainda a vários responsáveis do clube pelos maus resultados: «Olhando para o reinado de Roman Abramovich perguntamo-nos como conseguiu fazer um cêntimo na vida. (...) Leva em consideração a opinião de demasiadas pessoas, poucas das quais estão a servi-lo bem.»

Mas o pior de tudo foi mesmo a gestão de Frank Lampard. «Villas-Boas foi hipócrita no apoio a John Terry, acusado de racismo, e depois queria fazer de Frank Lampard o maior obstáculo ao progresso da equipa. Por outras palavras, criou inimigos sem os esmagar, um erro fatal, como José Mourinho lhe poderia ter explicado», explica.

Para os treinadores, Paul Hayward diz que a situação do Chelsea não podia ser mais clara: «Aceitar o cargo, vigiar as costas e esperar pelo cheque do despedimento.»