Ora com licença, aqui vai: expandir. Abrir um negócio.
Uma papelaria, um talho, uma barraca na feira popular, tanto faz, não é importante.
Importante é ter uma actividade por conta própria, declarada nas finanças e com contabilidade organizada.
O objectivo, claro, é evitar ser profissional de futebol. Pode continuar a ser jogador, com tudo a que tem direito, mas sem o rótulo de profissional.
Afinal possui outra actividade. Passa recibos verdes com retenção na fonte e está isento dos pagamentos à Segurança Social.
Nesse momento, e tenho para mim que esta é uma informação segura, a vida do jogador tornar-se-á muito mais simples.
Afinal de contas não há pior cruz para quem joga futebol do que ser profissional.
Pepe, por exemplo. Perdeu a cabeça no jogo com o Getafe. Apesar disso qual é a crítica que lhe se faz?
Que não soube comportar-se como um profissional de futebol e que teve um comportamento indigno para um jogador profissional.
Nesta altura imagino como a vida de Pepe seria bem mais simples se fosse, sei lá, um profissional de seguros. Ou um profissional de hotelaria.
Nesse caso poderia perder a cabeça à vontade, era um ser humano e tinha direito a vinte segundos de loucura.
Um jogador que perde a cabeça, não tem um comportamento digno para um profissional de futebol.
Reage a um insulto, não tem um comportamento digno para um profissional.
Tem uma altercação no trânsito, não tem um comportamento digno para um profissional.
Eu, que estou farto de ver gente perder a cabeça no trânsito, estranho tudo isto.
Acho que um momento de descontrolo acontece todos. Eu, pelo menos, já perdi a cabeça e não gosto sequer de me lembrar.
Por isso sou incapaz de crucificar Pepe. O sentimento de culpa fará o trabalho por mim.
Não quero, entendam-me, desculpar a atitude do jogador. Ele próprio já reconheceu que foi um comportamento grave e intolerável.
Como seria com qualquer outro ser humano. Não é por ser um profissional de futebol que a atitude de Pepe adquire maior gravidade.
Perdeu uma vez a cabeça, acho que isso não o transforma propriamente num Avelino Ferreira Torres.
A não ser, claro, que os profissionais de futebol estejam proibidos de ser tomados por uma reacção nervosa.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as semanas
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