Com dados concretos para o fazer: tenho pelo menos um tio e um primo que não percebem nada de tácticas e duvido mesmo que conheçam onze jogadores para fazer uma equipa.
São menos dois, portanto. Se lhe acrescentarmos Carlos Queiroz já são três.
É pouco? É, seguramente. Muito pouco. A função de treinador continua a estar estupidamente inflacionada.
Por cada lugar há uns bons milhares de candidatos para o preencher.
E há Luís Campos no desemprego. O que, parecendo que não, é coisa para dar cabo da cabeça a quem tem um clube para treinar.
Por isso ser treinador em Portugal não é apenas levar uma equipa à vitória. Não. Ser treinador em Portugal é ser genial.
Ou pensam eles que é ser genial.
Para um treinador que se preze, não basta ganhar: há que ganhar com uma estratégia engenhosa, só ao alcance de alguém com uma aptidão notável.
É claro que de vez em quando surgem excepções. Trapattoni, por exemplo, foi campeão no Benfica com apenas onze jogadores. Dois ou três dos quais jogadores medianos.
O Real Madrid de Fabio Cappelo roubou o título ao Barcelona de Figo, Baía, Ronaldo, Guardiola, Blanc e Stoichkov com onze jogadores e uma arma secreta chamada Victor.
Os jogadores jogavam nas posições naturais e a estratégia era a mesma independentemente do adversário. O que parece um bom caminho para a vitória.
Parece, sim, mas... é demasiado simples para um treinador português. E simples são os outros. Simples somos nós. Um treinador profissional tem que ver mais longe.
Colocar um médio-ofensivo na esquerda da defesa ou um médio-defensivo na direita do ataque.
Tirar um extremo para colocar um trinco na cobertura ao segundo avançado e esperar que ele cubra o avançado e preencha a direita do ataque.
Enfim, as possibilidades são infinitas. Importa é ser genial.
Os resultados não aparecem? Não, mas a estratégia era boa. Sobretudo foi bem pensada.
Tenho para mim, aliás, que os treinadores em Portugal sonham com uma vitória e um aplauso: sim senhor, este tipo é simplesmente genial.
Eu, que sou um gajo mais modesto, sobretudo quando não é o meu trabalho que está em avaliação, sonho com uma vitória e um título: sim senhor, este tipo é genialmente simples.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as quintas-feiras
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