O melhor do mundo são as crianças, dizem-me. Contesto.

Não consigo compreender como melhor do mundo possa ser um pigmeu furioso de lágrima-puxa-risota e risota-puxa-birra, numa definição de Miguel Esteves Cardoso que aproveito abusivamente.

Por isso contesto. Protesto e contesto: o melhor do mundo são os idosos.

A sabedoria no fundo de um olhar marcado pelos anos, a experiência num cabelo branco endurecido pelo tempo, a sinceridade expressa num sorriso que a vida ensinou a valorizar.

Mais do que a violência com as crianças ou com as mulheres, choca-me a violência com os idosos.

As crianças vão crescer e podem vingar-se.

As mulheres vão vingar-se quase de certeza.

Os idosos não. Os idosos vão amargurar. Muitos deles antes de perdoar.

Por isso repito, o melhor do mundo são os idosos.

Não há um toque mais suave do que a mão da nossa avó, nem um gesto mais ternurento do que olhar do nosso avô.

Não há um conselho mais desinteressado ou um sorriso mais sincero do que de um idoso.

O sorriso. Sobretudo o sorriso.

No sorriso de um idoso cabem todas as virtudes do mundo.

A bondade, a cordialidade, o conhecimento, a austeridade, a honestidade, o carácter, a sensibilidade, a jovialidade de quem só está em dívida com a vida. Um sorriso aberto na terceira idade diz tudo.

O sorriso de Bobby Robson dizia tudo.

Quem o viu ao longe vai recordar os títulos: a Taça UEFA, a Taça das Taças, a Taça do Rei, a Taça de Portugal, os dois campeonatos pelo F.C. Porto, os dois campeonatos pelo PSV, as duas presenças em mundiais.

Nós que nos cruzámos com ele nos caminhos do futebol português, que o vimos vencer um cancro que lhe dava seis meses de vida, que nos habituámos a um homem generoso em todos os gestos, enfim nós, sabemos que a herança é bem mais valiosa do que isso.

A maior herança de Bobby Robson é uma imagem: cada vez que abria o sorriso, generoso e sereno.

O sorriso de quem chegou ao fim da vida de bem com o mundo. Como um homem de 76 anos deve chegar.

Há maior vitória do que essa?

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui regularmente