Parecendo que não, aquela eliminação foi o melhor que os benfiquistas, particularmente os mais crédulos, podiam pedir. E como é que agradeceram? Com lágrimas. Estou comovido. A gratidão deixa-me assim.
É verdade que o jogo afastou o Benfica da Taça de Portugal. Raios o partam por isso. Mas não é nada que os adeptos não possam esquecer e ultrapassar.
A eliminação da época passada, por exemplo. De certeza que poucos adeptos se recordam dela. Espera lá. A época passada não foi um bom exemplo. Peço desculpa.
Há certamente outros exemplos mais felizes. O que importa é que foi apenas uma eliminação. Não é grave. É pelo menos recuperável. Para o ano, mas é.
Bem mais importante do que isso, o jogo puxou o Benfica das nuvens. Havia no ar um certo 6-0 que parecia estar a mudar o mundo. E isso, sim, era grave.
Numa altura em que os encarnados necessitam de vencer 8-0 o Metalist, para seguir em frente na Taça UEFA, aquele 6-0 parecia uma brincadeira do destino.
Pior do que uma brincadeira, parecia uma brincadeira de mau gosto. Era mais ou menos como Moretto jogar na Taça e pensar que por isso já era o titular da baliza.
Mas a brincadeira não termina aqui. O Metalist perdeu com o Estoril. Ou seja, o Metalist perde com uma equipa da Honra e o Benfica marca seis a uma equipa da Liga.
Em dois dias apenas, a vida parece ganhar um certo encanto. O destino sabe ser mesmo cruel. Vale ao Benfica - ou aos benfiquistas mais crédulos, lá está! - que no Mar há gente habituada a curvar o destino.
Sejamos honestos, acreditar que pode atingir-se algo épico, encher o estádio de euforia e depois cair com estrondo na dura realidade é bem pior do que uma eliminação.
Por causa de coisas como essa é que as pessoas se suicidam. E com toda a razão. Onde está a raiz do problema? Está ao lado de todas as outras raízes: na terra.
Que foi para onde o Leixões puxou o Benfica. No fundo o jogo com o Marítimo criou uma ilusão infundada que ia terminar em depressão. A eliminação com o Leixões evitou essa depressão. Não se perdeu tudo no Mar, portanto.
Acho que lhe merecem um agradecimento sincero. Embora aquela eliminação... raios a partam.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as semanas
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