Messi ganhou a Bola de Ouro. Ponto final, parágrafo.

É merecido? É sim senhor. Nada a opor. O argentino acrescentou o nome a uma lista que já sublinhava Figo, Zidane, Ronaldo, Kaká, Cannavaro, enfim. Uma lista cheia de bons rapazes, portanto.

Ora aqui chegados, sim, tenho alguma coisa a opor: o que é feito dos desalinhados? Dos desarranjados, desordenados e desmazelados? O que é feito de Maradona, George Best, Garricha, Gascoigne e Romário?

O que é feito de Vítor Baptista? O que é feito até de António Oliveira?

O século XXI, senhores, matou a loucura. Matou o extremismo, o radicalismo e o encanto pelo abismo. Esqueceu-se que cresceu empurrado pelo talento rebelde, posiciona-se no campo dos bons costumes e pára às cinco para tomar chá.

O futebol da actualidade é todo bem-arranjadinho. Todo tolerante, pacífico e razoável. Tem boas maneiras, veste bem e é cavalheiresco. Pensa como um militante de esquerda e actua como um militante de direita. Isso, sim, é muito triste.

No futebol do novo milénio não há espaço para rebeldes nem insurgentes. Não há espaço à revolta, ao tumulto e à fúria. No futebol de hoje só cabem bons pais de família, cidadãos sensatos e embaixadores da Unicef.

Itália, por exemplo. Ostraciza Cassano e anseia por Beckham. Não é normal. Não é normal, não é natural e não é saudável. Faz-lhe mal à saúde. Cria uma personalidade reprimida e um carácter recalcado. O futebol não é isso.

O futebol é sobretudo génio. Explosão, irascibilidade, vertigem. É erro, até: mas erro humano. É a violência da paixão. Foi nessa loucura à flor da pele, nesse descontrolo emocional, nesse equilíbrio polémico que cresceu e se multiplicou.

O século XXI matou a loucura, e mata todos os dias o futebol. Paz à sua alma.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreverá aqui regularmente