Se calhar por isso é que valorizo tanto as pessoas que não dão o mesmo valor ao dinheiro que eu. Pessoas que olham para uma nota de vinte euros e dizem que não vale mais de quinze. Gosto de gente assim, de princípios e convicções. Para eles o meu aplauso.
Nesta altura era capaz de aplaudir Kaká. Afinal de contas, o brasileiro recebeu uma proposta milionária do Manchester City e preferiu ficar no Milan. Não fica a ganhar pouco, seguramente, mas fica a ganhar bem menos do que se fosse para Inglaterra.
Era capaz de aplaudir, mas não aplaudo. Pelo menos para já. O tempo e Pimenta Machado ensinaram-se a ser prudente. Por isso prefiro esperar para ver até que ponto a verdade de hoje não é mentira amanhã. Não leve a mal, leitor, só não quero ser desiludido.
Nesta altura os muitos fãs de Kaká que estão a ler estas linhas já começaram a escrever um comentário insultuoso. Peço-lhe pelo menos que me deixem defender. Obrigado. Vou ser breve. As desilusões não vivem solteiras: dependem do tamanho das expectativas.
Bonito, não é? Foi uma pequena verdade que aprendi quando partilhei uma boleia com Confúcio. Ora o problema aqui está precisamente nas expectativas. Kaká disse, por exemplo, que seguiu o coração, que teve um sinal de Deus e que a sua casa é o Milan.
Ora tudo isso vem muito bem e combina perfeitamente com uma pessoa como Kaká. Ficam bem ao lado um do outro. Mas eu continuo a preferir esperar para ver. Esperar para ver, por exemplo, se no Verão não irá aceitar uma proposta do Real Madrid.
Não que o brasileiro não mereça aceitar uma boa proposta ou não mereça um novo desafio. Merece tanto quanto outro qualquer jogador. A questão aqui é outra: as palavras do jogador foram uma declaração de amor eterno. Acho que me entendem. Não quero ser desiludido. Sobretudo quando se criam expectativas.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as segundas e quintas-feiras
RELACIONADOS
Opinião: 2009 vai ser um ano fantástico (ou então não)
Opinião: 2008, o ano em que a História passou a correr pela Terra
Opinião: Obrigado, raios a partam
Opinião: Não incomodem, estou a tentar desprezar o Barça
Opinião: Vieira não cozinha, mas faz chá
Opinião: Scolari, o meu D. Sebastião do futebol português
Opinião: O Brasil-Portugal como ele não devia ser visto
Opinião: O futebol sabe tratar quem lhe quer bem
Opinião: O futebol são eles, o inferno são os outros
Opinião: De Portugal para o Mundo, yes he can't
Opinião: É a vida, é
Opinião: Drogba, mais do que o melhor do mundo
Opinião: de Alvalade para parte incerta
Opinião: sim senhor, este tipo é genialmente simples
Opinião: estão a rir-se de quê?
Opinião: é possível não gostar de Quique?
Opinião: Dos fortes não reza a história
Opinião: o craque das nossas vidas
Opinião: E você, ama a sua camisola?
Opinião: Ronaldo, sim, mas até que ponto?
Opinião: Scolari no Chelsea? Duvido
Opinião: Valdano, um homem na cidade errada
Opinião: E ela aceitou, Domenech?
Opinião: Laranja, que te quero mecânica
Opinião: É uma casa portuguesa, com certeza
Opinião: John Terry, apenas um tipo como nós
Opinião: Quaresma, a trivela e as curvas do futebol