«A crise veio para ficar», disse José Maria Brandão de Brito, economista do BCP, referindo que «provavelmente» o mundo vai assistir a uma «recessão nas economias ocidentais».
A evolução do sector financeiro e a maneira como se conseguir ajudá-lo a ultrapassar as actuais dificuldades vão definir se as principais economias mundiais passarão por um período de «estagnação/recessão normal» ou por uma «recessão profunda», acrescentou o mesmo analista.
A actividade económica vai abrandar e as pessoas vão ter menos dinheiro para gastar em bens e as empresas menos fundos para investir.
É de esperar que os EUA entrem numa degradação progressiva do mercado, com consequências negativas sobre o sector imobiliário, vendas a retalho e redução de importações, pondo pressão sobre economias emergentes como a chinesa, coreana ou vietnamita.
Além disso, como lembra Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, com altas taxas de juro, que incluem prémios de risco elevados, e com o aumento do incumprimento do crédito, vai haver exigências adicionais sobre as famílias e as empresas, reflectindo-se necessariamente na actividade económica.
«Vamos começar agora a ver o contágio (da crise financeira) à economia real", disse.
Impacto difícil de prever
Num contexto de tanta incerteza e em que o sistema financeiro, que é um dos principais propulsores económicos, se está a «redesenhar», «é difícil dizer» qual o impacto na economia real, segundo Cristina Casalinho.
O sistema financeiro tem funcionado como grande motor das economias e agora «vai deixar» de assumir esse papel.
«O crédito barato e acessível vai desaparecer», prognosticou a analista do BPI. As empresas vão também sentir dificuldades acrescidas em se financiar com instrumentos alternativos, como mostra o caso da colocação de papel comercial da General Electric (não conseguiu ser colocada porque não havia compradores).
Quanto à resposta que a Europa está a dar à crise financeira, José Maria Brandão de Brito preferiu não fazer comentários, dizendo apenas «não é certo que se encontre uma solução à primeira, mas é fundamental encontrá-la».
Cristina Casalinho nota que apesar da «dissonância política» na Europa, tem havido «conjugação de esforços na execução» de algumas medidas para ajudar o sistema financeiro.
Os europeus, a uma ou várias vozes, têm conseguido «dar respostas a problemas concretos», considera a economista-chefe do BPI.
No entanto, a inexistência de um Tesouro europeu dificulta a tarefa das autoridades europeias, ao mesmo tempo que o facto dos países da União Europeia terem prémios de risco diferentes também introduz «distorções» no saneamento das linhas de crédito locais.
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