O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, criticou esta segunda-feira o Governo e o PS por se colocarem «ao lado das entidades patronais» e não dos trabalhadores na greve na central de incineração Valorsul, escreve a Lusa.

«O mal é um governo que se diz socialista estar do lado das entidades patronais. (...) que pena é que estes deputados sejam só vistos do lado dos grandes chefes e dos banqueiros», criticou.

Jerónimo de Sousa falava em conferência de imprensa no final da reunião do Comité Central do PCP que aprovou os documentos a propor à Conferência Económica e Social do próximo fim-de-semana e analisou a situação política e social.

Questionado pelos jornalistas sobre o ocorrido no aterro de Mato Cruz, onde a intervenção policial forçou os grevistas a abrir os portões, o líder comunista afirmou que «poderá ou poderá não ter havido» carga policial, mas criticou as declarações do ministro da Administração Interna, Rui Pereira, sobre o assunto.

«A própria declaração do ministro da Administração Interna é interessante porque houve um reconhecimento que os trabalhadores têm direito a fazer greve e que os piquetes têm direito a esclarecer os motivos da greve», afirmou.

O ministro referiu que «todos os trabalhadores portugueses têm direito a fazer greve e a constituir piquetes para esclarecer os trabalhadores sobre quais são os fundamentos e objectivos do exercício do direito à greve».

Jerónimo de Sousa assinalou que a lei da greve fala em «persuadir» e não «esclarecer», frisando que os grevistas têm ainda o direito de persuadir os outros trabalhadores a aderirem ao protesto.

«A associação sindical ou a comissão de greve pode organizar piquetes para desenvolver actividades tendentes a persuadir os trabalhadores a aderirem à greve, por meios pacíficos, sem prejuízo do reconhecimento da liberdade de trabalho dos não aderentes», citou.

Sobre o assunto, o Comité Central do PCP condenou igualmente «a opção do Governo ao tomar partido pela administração da empresa» por «dar cobertura à actuação das forças de segurança».

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, declarou hoje que não existiu nenhuma agressão nem carga policial sobre os trabalhadores da Valorsul em greve desde terça-feira e que a GNR se limitou a actuar com eficiência.

Esta madrugada, a GNR afastou uma centena de grevistas que bloqueavam a entrada dos camiões que iriam descarregar lixo no aterro sanitário de Mato da Cruz, concelho de Vila Franca de Xira.

A greve dos trabalhadores da Valorsul começou terça-feira passada.

«Inadmissível» diz CDU

Os vereadores da CDU nas autarquias de Lisboa, Amadora, Vila Franca de Xira, Loures e Odivelas classificaram de «inadmissível» a utilização das forças da GNR «contra os trabalhadores da Valorsul», em greve desde terça-feira.

Esta madrugada, a GNR afastou uma centena de grevistas que bloqueavam a entrada dos camiões que iriam descarregar lixo no aterro sanitário de Mato da Cruz, concelho de Vila Franca de Xira.

Os eleitos da CDU nos concelhos de Lisboa, Amadora, Vila Franca de Xira, Loures e Odivelas declararam, em comunicado, que «consideram inadmissível a utilização, por parte do Governo, das forças da GNR contra os trabalhadores da Valorsul no seu legítimo direito à greve e à defesa dos seus direitos».

Os autarcas «manifestam as suas preocupações ambientais pela forma como estão a ser depositados os lixos, sem qualquer tratamento, no aterro sanitário, num verdadeiro atentado à saúde pública».

Responsabilizam também «os presidentes de Câmara do PS pela pressão exercida contra os trabalhadores em greve e exigem que estes tomem posição para que se inicie uma verdadeira negociação».

Os vereadores exigem ainda «uma rápida resolução do conflito, por parte do Governo, através de uma negociação séria, dado que a Administração da Valorsul se mostra incapaz de o fazer».