E no final houve Taça! E uma festa imensa que fez do Municipal de Barcelos uma extensão da Póvoa com uma brisa de mar a provocar um arrepio na espinha.

O Varzim agigantou-se para tombar o Sporting numa batalha desigual, que só podia ser vencida com garra, abnegação e a fortuna que protege os audazes, como que inspirados nos heróis da faina.

No final, houve gente feliz com lágrimas, esfregando os olhos por ver à sua frente um leão moribundo tombar diante dos Lobos do Mar.

Mesmo a 30 quilómetros de casa, em terreno emprestado e contra um dos grandes, que ainda há dias disputava a Liga dos Campeões e joga dois escalões acima, o Varzim estava em maioria nas bancadas. A força que daí vinha fez a equipa acreditar e bater-se durante 90 minutos, renovando a crença à medida que os ponteiros do relógio avançaram.

E assim se fez Taça, num jogo que começou sem Ricardo Esgaio, que comprometeu na passada quarta-feira contra o Marselha e nem sequer integrou os convocados. Ruben Amorim chamou ao onze um trio habitualmente não utilizado: Israel, Marsá e Sotirios, estes dois primeiros a fazerem o segundo jogo a titulares e o último numa estreia absoluta nessa condição.

Ainda assim, um Sporting que vive noutra realidade mostrava poder de fogo perante uma equipa da Liga 3. Começou mais perigoso, com Edwards a acelerar jogo e a romper, além de Porro e Nuno Santos projetados nas alas.

As diferenças, que pareciam evidentes no início foram-se esbatendo ao longo da primeira parte. E se o Sporting ameaçou, naturalmente, mais vezes a baliza de Ricardo Nunes (esse mesmo que representou o FC Porto), o Varzim teve as suas oportunidades antes do intervalo. Em particular aos 34m, quando Israel salvou o golo, quando Joãozinho aparecia sozinho nas costas da defesa leonina.

Para fazer frente ao 3-4-3 de Amorim, Tiago Margarido apostou num 5-4-1, com o possante Onyeka na frente. E ao intervalo a estratégia parecia resultar. Defender, claro, sem nunca perder a vontade de atacar.

Com o resultado em aberto, Amorim trocou ao intervalo Sotirios por Pedro Gonçalves e com uma hora de jogo lançou Fatawu e Ugarte para os lugares de Porro e Edwards, que até estavam a ser dos mais inconformados.

Meia-hora para o fim e o Varzim acreditava. Vilela recém-entrado apareceu na área para tentar à meia-volta desfeitear Israel, aos 68m. Dois minutos depois, o «escândalo» acabaria mesmo por consumar-se, quando o capitão João Faria, barcelense de gema, apareceu na área para inaugurar o marcador.

1-0 para o Varzim! Surpresa e uma festa imensa nas bancadas.

O resto foi resistir, com garra. Muita garra. Lutando por cada bola. Até um final apoteótico com toda a gente de pé a contar os minutos, à medida que o Sporting encostava a equipa às cordas. No entanto, cada vez com menor discernimento, incapaz de mostrar ideias para contornar o sobrepovoamento do meio-campo poveiro.

Resistir até vencer. Se não estava em crise depois de um mau arranque na Liga e duas derrotas frente ao Marselha que podem comprometer a Liga dos Campeões, o Sporting acabou de ficar, com este tombo monumental na Taça de Portugal.

A noite é do Varzim. Um clube assim, com décadas de uma notável história, com milhares adeptos fervorosos, com uma equipa lutadora, merece voltar ao patamar mais alto do futebol português.

É aí o lugar deste Varzim.

«Ala-arriba!»