João Félix começou o ano no Atlético Madrid. Fez o último jogo pelo clube a 8 de janeiro, por sinal frente ao Barcelona. Pelo meio saiu por empréstimo para o Chelsea, voltou a Madrid, viu os longos meses de verão passar com o futuro por definir, arriscou tudo na declaração de amor ao Barcelona, cumpriu o sonho de jogar de «blaugrana», voltou a ser feliz em campo e numa semana marcou ao FC Porto e apontou o golo da vitória frente ao clube que ainda é dono do seu passe.

2023 ainda não acabou, mas já tem que contar para uma vida na carreira do jogador que há quatro anos deixou o Benfica rumo ao Atlético Madrid sob o peso de uma transferência de 120 milhões de euros e que vive desde então sob enorme pressão mediática, proporcional ao talento e às expectativas. Ao fim de três épocas e meia no At. Madrid, a ideia de que aquele era um casamento destinado a não dar certo acentuou-se e no verão a relação chegou mesmo a um ponto de rutura.

Aos 24 anos, João Félix está bem em Barcelona e o sentimento é recíproco. Mas está a prazo. Ainda tem contrato com o Atlético Madrid e o que acontecerá no final da época ainda é uma incógnita. Para já, no entanto, é aproveitar. Como o próprio João Félix escreveu nas redes sociais depois da vitória sobre o FC Porto, a citar Johan Cruyff: «Vão e desfrutem.»

De Madrid a Londres, da seleção nacional a Barcelona, o Maisfutebol fez uma cronologia dos momentos mais marcantes do carrossel que tem sido 2023 para João Félix.

8 janeiro – O último jogo pelo Atlético, frente ao… Barcelona

João Félix chegou ao Mundial depois de meia época que agudizou a sua inadaptação ao Atlético de Madrid. No Qatar, entrou logo com uma grande exibição frente ao Gana, selada com um golo. Só não foi opção no último jogo da fase de grupos, com Portugal já apurado, foi protagonista na goleada à Suíça nos oitavos, com duas assistências, e jogou os 90 minutos na despedida com Marrocos. De volta a Espanha, fez apenas mais dois jogos pelo Atlético. A 29 de dezembro marcou na vitória sobre o Elche. Voltaria apenas a ser utilizado a 8 de janeiro, precisamente frente ao Barcelona. Titular, saiu aos 73 minutos nessa vitória blaugrana decidida num golo de Dembelé. Somava então o 20º jogo da época pelo Atlético, apenas o nono a titular.

11 janeiro – A saída para o Chelsea

A pressão em torno do nome de João Félix era cada vez maior no Atlético, com Simeone a ser confrontado com o tema a cada conferência e a responder o de sempre, com algumas variações. «Tem talento e a equipa precisa das suas qualidades», dizia o técnico, enquanto acrescentava que «ninguém é imprescindível». Havia que encontrar uma saída e ela estava em Londres. A 11 de janeiro, depois de renovar com o Atlético de Madrid por mais dois anos, até 2027, Félix chegava ao Chelsea, por empréstimo.

12 janeiro – O vermelho na estreia de azul

João Félix estreou-se pelo Chelsea um dia depois de chegar. Titular na visita ao Fulham de Marco Silva, entrou em campo disposto a mostrar o que podia dar. E mostrou, mas também foi longe de mais. Aos 58 minutos, entrou com tudo sobre Tete e foi expulso. Tinha menos de cinco meses para tentar afirmar-se em Inglaterra, logo ali perdeu um, com os três jogos de suspensão decorrentes do vermelho direto.

11 fevereiro – Regresso com… o único golo do Chelsea num mês

Da abordagem da imprensa à estreia a vídeos dos bastidores da sua chegada ao Chelsea ou dos treinos, partilhados pelo clube, o foco continuava intenso sobre João Félix. Ele alimentou a expectativa no regresso após a suspensão, marcando o golo do empate frente ao West Ham. Que foi… o único do Chelsea no mês de fevereiro, o que dá a medida do estado do clube naquela época. Félix fez ao todo 20 jogos e marcou quatro golos pelo Chelsea, que pelo meio ainda mudou de treinador – Frank Lampard sucedeu a Graham Potter - e acabou a temporada num inacreditável 12º lugar na Premier League.

30 maio – Fim de linha no Chelsea e futuro de novo indefinido

O futuro não passava pelo Chelsea. Foi o presidente do At. Madrid, Enrique Cerezo, quem anunciou que Mauricio Pochettino, o novo treinador dos Blues, não contava com Félix. Dias depois, Diego Simeone dizia que o português iria voltar: «Terá de voltar a trabalhar connosco e, obviamente, nós vamos estar dispostos a dar-lhe o melhor para que possa melhorar naquilo que acharmos importante.» No mesmo dia, Félix reconhecia que não sabia ainda o que iria fazer, mas deixava desde logo a ideia que o futuro poderia não passar pelo regresso a Madrid: «Ainda não sei onde vou jogar na próxima época. Agora, vou aproveitar as férias.»

10 julho – O 7 perdido e o regresso em modo rutura ao Atlético Madrid

A 7 de julho, o Atlético Madrid anunciava que Griezmann era o novo dono da camisola 7, o número que tinha sido de João Félix nas quatro épocas anteriores. Um sinal forte de quebra da relação com o português, reforçado com as primeiras impressões da pré-temporada. Félix voltou aos treinos a 10 de julho, mas logo na primeira sessão trabalhou com os dispensáveis e a imprensa deu conta de uma saída intempestiva do treino e de uma discussão com o diretor desportivo «colchonero». A tensão era evidente, amplificada pelo intenso escrutínio mediático, que fazia notícia, por exemplo de um colete atirado ao chão no treino.

18 julho – A declaração de amor ao Barcelona

«Adorava jogar no Barcelona.» João Félix assumiu uma aposta de risco, com uma declaração a oferecer-se de corpo e alma ao Barça: «Foi sempre o meu sonho desde criança. Estava, obviamente, consumada a rutura com o Atlético, com fontes do clube a falarem em «falta de respeito» e Diego Simeone a endurecer o tom: «Ninguém, mas ninguém, está acima do At. Madrid.»

14 agosto – Vaias e insultos no Metropolitano

O Barcelona queria João Félix, mas para isso tinha de gerir o complicado processo de equilíbrio das contas do plantel. Enquanto isso, o português continuou no Atlético. E quando começou a Liga, sem ter sido utilizado na pré-temporada, foi para o banco na primeira jornada, frente ao Granada. A vaia com que o Metropolitano o recebeu e os insultos que ouviu no final do jogo consumaram a rutura. Ainda foi para o banco em mais uma partida, mas não voltou a jogar de rojiblanco.

1 setembro – Barcelona, mesmo em cima do apito final

No último dia do mercado, João Félix concretizava finalmente o sonho. Chegava a Barcelona, na companhia de outro português, João Cancelo. Mais uma vez, apenas por empréstimo, e depois de ter renovado por duas épocas com o At. Madrid.

3 setembro – 10 minutos na estreia e indiscutível na seleção

A estreia pelo Barcelona aconteceu logo dois dias depois de chegar, quando saiu do banco a dez minutos do final frente ao Osasuna. A seguir, João Félix juntou-se à seleção nacional, indiscutível nas escolhas de Roberto Martínez mesmo depois do verão atribulado que viveu e do pouco tempo de jogo. Félix esteve em todas as convocatórias do novo selecionador. Fez oito jogos na campanha para o Euro 2024, seis deles a titular, marcou três golos e foi o nono jogador mais utilizado por Martínez. O técnico ainda recentemente falou do português e, entre elogios rasgados ao seu talento, considerou que ele evoluiu em Inglaterra e tem agora mais maturidade: «Provavelmente só agora é que começa a ter a idade para lhe exigirmos o que lhe era exigido no passado.»

16 setembro – A felicidade reencontrada em Barcelona

O impacto de Félix em Barcelona foi imediato. Ao primeiro jogo a titular apontou o seu primeiro golo, na partida seguinte bisou frente ao Antuérpia. Agora, era de novo pelo que jogava que João Félix fazia manchetes. Com Espanha rendida, João Félix era feliz outra vez. «O ambiente da equipa é fantástico, o clube é gigante e a forma de jogar é simples, um ou dois toques», dizia, a evocar uma máxima «cruyffiana». Que não seria a única: «Às vezes fazer o simples é o mais complicado. A um ou dois toques, todos jogam bem e a bola circula mais rápido.» Xavi, o treinador do Barcelona, resumia tudo em poucas palavras: «O talento tinha de sair de alguma maneira e o dele está a sair.»

28 novembro – Voltar a ser feliz frente ao FC Porto

Nem tudo foram rosas. Numa época irregular do Barcelona, João Félix nem sempre conseguiu fazer a diferença, sob uma pressão mediática que não lhe dá tréguas. Depois de dois meses sem marcar, Félix voltou aos golos num momento especial. Frente ao FC Porto, velho rival desde os tempos do Benfica, na vitória construída em português, a par de João Cancelo, que apurou o Barcelona para os oitavos de final da Liga dos Campeões. Depois do golo apontou para o símbolo do Barça e fechou a noite a citar Cruyff: «Vão e desfrutem.»

3 dezembro – A lei do ex num guião de filme

Minuto 28 do clássico, jogada coletiva do Barcelona, um passe de Raphinha, um primeiro toque e depois outro a bater Oblak. O grande golo ao clube que é dono do seu passe, a celebração em cima do painel publicitário, de braços abertos na direção dos adeptos, uma grande exibição e uma ovação quando foi substituído. O guião perfeito no reencontro com o Atlético Madrid, aquele que os «colchoneros» temiam. O presidente do clube tinha deixado a esperança de que ele não festejasse se marcasse, mas aquele foi um momento espontâneo de descarga emocional, como disse Félix no final: «Acabas por entrar no calor do jogo e foi como um alívio por tudo o que vivi no verão passado. Só as pessoas próximas a mim sabem como foi, sobretudo a minha família. Isto foi para eles.»