À partida para o Mundial, a situação nunca foi tão clara: nove dos onze lugares parecem cimentados, os outros dois são imprevisíveis. Não por falta de opções, muito pelo contrário. Zlatko Dalic tem 3 ou 4 jogadores a competir pelas mesmas posições (extremo direito e ponta-de-lança) e vai decidir quem escolhe jogo a jogo, dependendo do adversário e da forma dos jogadores. O que é particularmente agradável, dado que, no passado, o treinador era conhecido por experiências desnecessárias.
«Não vou mudar a forma como jogo», disse antes dos jogos decisivos da Liga das Nações, prova em que a Croácia venceu o grupo com França, Dinamarca e Áustria. «Quando tens um meio-campo como o nosso, queres mover a bola e criar oportunidades através da posse. Temos de jogar desde trás, somos mais perigosos quando os nossos médios não têm de recuar para ter a bola. Vamos pressionar quando possível e, quando não for, defendemos em bloco.
O 4x3x3 (4x1x4x1) é a primeira opção de Dalic, com o 4x2x3x1 como recurso. E apesar do meio-campo juntar mais de 300 internacionalizações entre eles, tem havido mudanças nas restantes posições. Particularmente na defesa, com centrais de 22 e 20 anos, respetivamente. São muito móveis e mais confortáveis em posse do que os seus veteranos antecessores. A maior parte dos vice-campeões do mundo de 2018 foi substituída, e há 'reforços' importantes em relação ao último Euro, como Josip Sutalo e Borna Sosa.
De certa forma tudo encaixou bem para Zlatko Dalic. Passou por alguns tempos deprimentes, por derrotas embaraçosas desde o último Mundial, com sinais de complacência e alguma tensão a apoderarem-se da equipa. Contudo, conseguiu reagrupar e ajustar a equipa com novidades, emergindo com confiança renovada e aprovação do público (embora sem a veneração de 2018). A sua personalidade, compara à de um padre, e o persistente discurso de «humildade» parecem ter cansado um pouco, mas não é apenas falatório. Que o diga Ante Rebic, do AC Milan, que não faz parte da equipa desde 2020.
Clichés à parte, como a ideia de envelhecer como um bom vinho, o capitão de 37 anos ainda é merecedor do estatuto de líder da equipa, sendo a sua maior estrela. Vão vê-lo a trabalhar e a correr tanto quanto os seus colegas mais novos. E se o tempo o abrandou um bocado, não teve impacto na sua velocidade de pensamento e na sua criatividade, que são tão incríveis quanto alguma vez foram.
Marcelo Brozovic costumava ser pouco fiável, inconsistente, e sem uma posição definitiva na equipa. Agora é praticamente o oposto de tudo isso. Com o tempo, Brozovic assentou no papel de âncora (ou pivot), e a Croácia beneficiou muito, até porque não tinha esse tipo de jogador, pelo menos antes do Mundial 2018. É aí que a sua aparentemente interminável resistência combina melhor com as suas capacidades físicas e técnicas. Virtualmente insubstituível.
O lado negro do Mundial já foi documentado em vários setores da imprensa, embora sem sugerir que os jogadores se devessem preocupar com essas coisas. Nenhum deles falou, na verdade. Nem propriamente os adeptos. No que toca aos dirigentes, não só enviaram a seleção para Doha em março, para um torneio, como depois, em setembro, arranjaram um equipa de jogadores sub-23 para outro particular com a seleção do Qatar. A Croácia venceu por 3-0.
Originalmente um poema do século XIX, da autoria de Antun Mihanovic, um diplomata tornado poeta, e composto por Josif Runjanin, na altura um jovem cadete militar que também fazia música. Ganhou popularidade no século XX, e quatro dos 14 versos originais foram adaptados ao hino nacional intitulado «Lijepa naša domovino» («A nossa linda terra natal»). As letras não falam de guerra, nem de Deus, e o hino pode ser resumido no verso «A nossa terra é tão boa e nós adoramo-la». Desde 1991, (alguns) políticos e (todos os) atletas cantam o hino com a mão direita no peito.
«O que faz um defesa quando vê Ivica Olic a fazer fintas de corpo?», era a piada no auge da carreira do avançado. «Ele espera educadamente até Olic terminar e depois tira-lhe a bola». Talvez Olic tivesse dificuldade em ultrapassar mobília de jardim com a sua qualidade de drible, mas corria mais do que qualquer um. Ou pelo menos tentava, uma e outra vez. Os adeptos adoravam-no por isso, porque era genuinamente um jogador 'à moda antiga', um verdadeiro lutador. Fez uma transição quase imediata para os bancos, já que desde 2017 que tem sido adjunto de Dalic, com exceção feita a uma breve passagem como treinador do CSKA de Moscovo, no ano passado.
Textos de Aleksandar Holiga, que escreve para o Telesport.