Depois de mais uma época em que andou ali entre o clássico trio de candidatos e garantiu um lugar no pódio, o Sp. Braga continua a querer mais. E apostou forte para a nova temporada, aquela em que só o campeão nacional terá entrada direta na Liga dos Campeões, renovada e com mais dinheiro ainda para distribuir. Uma época em que além disso há apenas um segundo lugar de acesso às pré-eliminatórias da liga dos milhões.
A aposta não se traduziu apenas em termos de investimento - que foi forte, entre reforços e retenção de jogadores que já estavam no plantel. Também se avalia por aquela que tem sido, pelo menos até agora, uma muito mais contida política de saídas, num clube que nos últimos anos se destacou como vendedor. Salvaguardando, claro, alguma saída até ao fecho do mercado entre os jogadores referência do plantel. Iuri Medeiros e Sequeira foram até aqui as principais baixas, numa lista que inclui Uros Racic, Mario González ou Schettine. Tormena também se prepara para deixar Braga.
A lista de reforços não é longa, mas é forte. Uma mão cheia de caras novas para acrescentar qualidade, mas também profundidade, versatilidade e experiência. Chegou José Fonte, o veterano internacional português que completará 40 anos em dezembro e é uma garantia de liderança em campo. E ainda o também internacional Rony Lopes, tal como Fonte um negócio a custo zero, para aquela que será a sua primeira experiência como sénior em Portugal, depois de jogar em alguns dos principais campeonatos europeus.
A contratação que dá a medida do investimento do Sp. Braga foi a do médio internacional uruguaio Rodrigo Salazar, um reforço que vem da Bundesliga, num negócio de cinco milhões de euros. Uma aposta forte, a que se juntam as contratações em definitivo de Bruma, Niakaté e Victor Gomez e que, tudo somado, representa valores recordes de gastos num defeso para os arsenalistas.
No mercado nacional, o Sp. Braga virou-se de resto para Barcelos, com as contratações do lateral Adrián Marín e do médio Vítor Carvalho, que foi titular na estreia oficial da época, a vitória sobre o Backa Topola na primeira mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. «Tivemos o cuidado de contratar pouco, mas bem. Fomos ao detalhe», resumiu o treinador Artur Jorge, destacando o perfil que o clube procurou nos reforços: «O percurso que tiveram nas suas carreiras e estarem habituados a ganhar identificam-nos com a identidade da nossa equipa.»
O Sp. Braga quer ganhar e dar mais um passo no sonho de chegar ao título de campeão nacional. Já tinha um plantel forte, apostou ainda mais e reforçou a ideia de que a Liga pode ser cada vez mais uma luta a quatro.
Classificação da época passada: 3º
Melhor classificação: 2º (2009/10)
Presenças na I Divisão: 67
Objetivo: Consolidar a ambição da luta pelo título
O desafio era grande. Quando assumiu o banco do Sp. Braga na época passada, Artur Jorge não tinha um currículo recheado. Mas estava preparado, como demonstrou ao liderar a equipa em mais uma época sólida, que terminou com o terceiro lugar no campeonato e alguns registos históricos para o clube - incluindo o recorde de pontos e golos na Liga -, bem como a presença na final da Taça de Portugal.
«Estou na cadeira de sonho desde o início da temporada. Esperei pacientemente e trabalhei arduamente para cá chegar», disse no final da época, precisamente antes da final do Jamor.
Já tinha estado no Estádio Nacional como jogador, ele que foi capitão e pilar da defesa do Sp. Braga ao longo de mais de uma década, em mais de 250 jogos com a camisola do clube. Depois de terminada a carreira, foi em Braga que centrou o percurso de treinador. Orientou os vários escalões de formação do clube, mais os sub-23 e a equipa B, além de ter assumido a equipa principal a fechar a temporada 2019/20.
Para a segunda temporada à frente da equipa, Artur Jorge promete mais ambição, assumindo o sonho do título de campeão nacional, como todos os adeptos bracarenses. E também o objetivo de chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões, onde o Sp. Braga só esteve duas vezes, a última delas em 2012/13. «Tive abordagens para sair este ano do clube», revelou: «Mas há duas questões que me prendem. Uma é a paixão pelo clube e a outra é poder dizer que quero muito estar na fase de grupos da Liga dos Campeões com o Sp. Braga. Foi uma enorme dedicação para aqui chegar e não me apetecia deixar isto para mais ninguém.»
Entradas: Adrián Marín (Gil Vicente), Vítor Carvalho (Gil Vicente), Rodrigo Zalazar (Schalke 04), José Fonte (Lille), Rony Lopes (Sevilha)
Saídas: Uros Racic (fim de empréstimo, regressa ao Valência), Iuri Medeiros (Al-Nasr), Bruno Rodrigues (Desp. Chaves); Sequeira (Pendikspor), Rodrigo Macedo (Moreirense, empréstimo)
Rodrigo Salazar era um alvo apetecível no mercado europeu, depois da descida do Schalke. E o Sp. Braga ganhou a corrida pelo médio uruguaio, assumindo um investimento forte – cinco milhões de euros que representam a terceira contratação mais cara do clube, depois de Bruma e Abel Ruiz.
Chega a Braga como internacional pelo Uruguai. Foi chamado por Marcelo Bielsa, o novo selecionador que está apostado na renovação da seleção, e estreou-se em junho deste ano, com impacto imediato: marcou dois golos na vitória por 4-1 sobre a Nicarágua num jogo particular.
Rodrigo nasceu em Albacete, onde jogava o pai, antigo médio com longa carreira no futebol espanhol. Podia ter escolhido representar a Espanha, como fez aliás o seu irmão Kuki, dois anos mais velho e que jogou no Deportivo da Corunha na época passada, que representou a «Roja» nos sub-17.
Foi no Albacete que Rodrigo começou a formação, antes de se transferir para o Málaga, onde chegou à equipa B. Em 2019 deixou Espanha para assinar pelo Eintracht Frankfurt, onde nunca jogou pela formação principal e passou por vários empréstimos. Depois de uma época na Polónia voltou à Alemanha para representar o St. Pauli.
Essa época na 2. Bundesliga confirmou o potencial de Zalazar e valeu-lhe uma mudança para o Schalke, onde foi protagonista em 2021/22 da campanha que terminou com a subida à Bundesliga, com 32 jogos e sete golos. Foi ele aliás o autor do golo que garantiu a subida, precisamente frente ao St. Pauli, na penúltima ronda. E na derradeira jornada marcou um golo do outro mundo, na vitória sobre o Nuremberga que garantiu aos Schalke o título de campeão da 2. Bundesliga.
Cá está ele
Assinou em definitivo com o Schalke, mas o regresso do clube à Bundesliga durou pouco. O Schalke acabou despromovido, no fim de uma temporada também menos exuberante para Zalazar, com 23 jogos e dois golos marcados. E Zalazar optou por rumar a Braga, atraído também pela perspetiva de jogar a Liga dos Campeões.