«Nunca foi tão difícil», disse o selecionador sueco, Peter Gerhardsson, antes de anunciar a convocatória para o Europeu. «Desde 2017, quando eu o Magnus (Wikman, o treinador-adjunto) chegámos, nunca a concorrência esteve a este nível. E não estou a falar apenas do onze titular, mas de toda a equipa. Vai ser duro para algumas das raparigas que vão ficar de fora.»
A profundidade da equipa é um dos motivos por que a Suécia chega à competição com expectativas altas. A qualificação para o Europeu nunca foi um problema para a equipa de Peter Gerhardsson. Integrada no Grupo F, com Islândia, Eslováquia, Hungria e Letónia, a Suécia somou algumas vitórias muito robustas pelo caminho – embora tenha perdido dois pontos frente à Islândia, num 1-1 em Reiquejavique. «Até ao fim do apuramento, nunca sabemos a importância que terá um ponto», disse Gerhardsson depois do jogo. «Talvez este seja o ponto crucial.» Depois, foi com uma vitória em casa sobre a Islândia, por 2-0, que a Suécia assegurou o bilhete para Inglaterra.
Países Baixos, Portugal e Suíça, as adversárias do grupo, terão de estar alerta para a força da Suécia nas bolas paradas. Cinco defesas contribuíram com 10 dos 40 golos suecos na qualificação, muitos deles a partir de situações de bola parada. Em comparação, a melhor marcadora da Suécia foi a avançada Anna Anvegård, com cinco golos.
Gerhardsson não tem receio de mudar o seu sistema de jogo, mas é provável que a equipa jogue em 4x4x3 ou 3x4x3 – embora tenha apostado recentemente num 5x3x2 frente à Irlanda, em jogo de qualificação para o Mundial. A espinha dorsal da equipa joga em conjunto há muito tempo – jogadoras como Hedvig Lindahl, Magdalena Eriksson, Caroline Seger e Kosovare Asllani – e, depois do desgosto na final dos Jogos Olímpicos do ano passado, quando a Suécia perdeu nos penáltis, desta vez elas querem ir mesmo até ao fim.
O treinador de 62 anos assumiu a equipa depois do Euro 2017, e conquistou medalhas nas duas competições em que orientou a Suécia até agora (bronze no Mundial 2019 e prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio). Antes de se tornar treinador, Peter foi jogador de primeira divisão, representando o Hammarby, entre outros clubes, entre 1978 e 1987.
Antes de assumir a seleção feminina, orientou a equipa masculina do Häcken. Quando foi nomeado selecionador feminino a reação foi um pouco do tipo “Peter quem?”, e algumas jogadoras tiveram de googlar o seu nome para descobrir quem ele era.
Cinco anos mais tarde, pode tornar-se no treinador de maior sucesso da Suécia, se a seleção for campeã da Europa. Gerhardsson adora música e tal qualquer coisa como 1500 CDs e 1700 vinis.
Há muitas jogadoras que podiam encaixar nesta definição, mas se tivermos de escolher uma, será Stina Blackstenius. Ela cresceu como pessoa e como jogadora no último par de anos – e isso tem sido claro em campo. Em janeiro de 2022 trocou o Häcken pelo Arsenal e integrou-se na perfeição, desenvolvendo uma parceria soberba com Vivianne Miedema, numa época em que as Gunners lutaram pelo título da WSL até à última jornada.
No podcast de Hedvig Lindahl, “Hela vägen mot målet”, Blackstenius falou sobre a forma como a sua personalidade evoluiu. «Hoje já não me sinto tímida e isso é uma sensação muito boa. No fim de contas não me sentia confortável em ser a pessoa cautelosa que era, e tinha inveja das pessoas para quem era fácil ser mais extrovertido. Ainda sou introvertida em muitos aspetos, mas gosto da sensação de ser mais para a frente.»
No ano passado, Johanna Rytting Kaneryd falhou por pouco os Jogos Olímpicos, apesar de vir de uma época soberba pelo seu clube, o Häcken. Mas ela parece ter usado essa desilusão para melhorar o seu jogo e subir vários patamares, porque desde o torneio olímpico tornou-se regular na seleção, e é hoje um elemento importante do ataque da equipa de Gerhardsson.
O percurso da jogadora de 25 anos até ao topo não tem sido linear, mas ela diz que os contratempos a fizeram «crescer mentalmente como jogadora». «Quero vencer tudo aquilo em que participo», diz.
Com qualidades semelhantes às da inglesa Lauren Hemp, ou seja, uma jogadora rápida e determinada que gosta de enfrentar as adversárias no um para um, ela parece apostada em ter um bom verão.
Há muitas jogadoras que tiveram grande impacto no jogo feminino na Suécia, como Lotta Schelin, Victoria Sandell Svensson, Pia Sundhage ou Hanna Ljungberg, para nomear apenas algumas. No entanto, aquela que sobressai em relação às outras é Caroline Seger, que ainda faz parte da seleção. Em 2021, ela tornou-se a jogadora mais internacional de sempre pela Suécia, contando homens e mulheres, e já superou os 220 jogos pela seleção. Estreou-se pela Suécia em março de 2005. Ela superou a devastadora experiência de ter falhado um penálti decisivo frente ao Canadá, na final olímpica de Tóquio, há um ano, para prosseguir a sua fantástica carreira.
Fora de campo tem sido uma enorme influência também, lutando e ganhando a batalha pela igualdade salarial para as seleções masculina e feminina (embora ainda não estejam incluídos os bónus das grandes competições).
A Suécia pode orgulhar-se da sua história no Campeonato da Europa, tendo vencido a primeira edição, em 1984, e atingido sempre os quartos de final, pelo menos. O ouro no torneio inaugural continua a ser o único da Suécia – feminino ou masculino. Para além disso, a Suécia também chegou a três finais, todas perdidas (1987, 1995 e 2001). No último Europeu, a Suécia sentia que tinha uma grande oportunidade de vencer a competição, mas foi eliminada nos quartos de final pelos Países Baixos, que conquistariam o título.
Tendo em conta que, há um ano, a Suécia atingiu a final olímpica basicamente com a atual equipa, são altas as expectativas de que possa. pelo menos, chegar à final, sendo o ouro um objetivo realista.
Texto original de Amanda Zaza, do Fotbollskanalen.se