«Estou cansada como um cão, mas lutámos umas pelas outras. Não me rala nada como ganhámos, vamos ao Europeu.»
As palavras são de Lia Wälti, momentos depois da vitória da Suíça sobre a Rep. Checa nos penáltis, em abril de 2021, que garantiu a qualificação para o torneio deste verão. Tinha sido uma noite terrível a daquela segunda mão, terminando 1-1, tal como a primeira mão, e levando a decisão para os penáltis. Para piorar as coisas, Malin Gut e Coumba Sow falharam as duas primeiras grandes penalidades para a Suíça. Mas então avançou a guarda-redes Gaëlle Thalmann, que defendeu dois penáltis, enquanto a checa Katerina Svitkova acertou na trave.
A qualificação era muito importante para a Suíça e para o selecionador Nils Nielsen. Depois de falhado o apuramento para o Mundial 2019, nova ausência significaria para a equipa uma distância cada vez maior das melhores seleções. E para a Federação suíça é importante que a equipa feminina, como a masculina, se qualifique para as grandes competições. Os homens só falharam uma desde 2004; as mulheres têm algum atraso para recuperar no que diz respeito a consistência.
Foi a atual selecionadora da Alemanha, Martina Voss-Tecklenburg, quem mudou a mentalidade da seleção feminina suíça. Quando assumiu o cargo, em 2012, ela lançou uma estrutura totalmente nova, incluindo programas de deteção de jovens talentos. O resultado foi a qualificação da Suíça para a sua primeira fase final, o Mundial do Canadá em 2015, a que se seguiu o apuramento para o Euro 2017.
Várias jogadoras foram recompensadas com transferências de vulto para o estrangeiro e em 2017 estrelas como Lara Dickenmann e Ramona Bachmann tinham-se tornado conhecidas para um público suíço mais vasto. Antes da era Voss-Tecklenburg, só havia uma mão cheia de adeptos a acompanhar os jogos.
A Suíça viaja para Inglaterra com mais esperança do que expectativa. Mas uma coisa é certa: Nielsen sabe que pode contar com as suas jogadoras para darem o máximo. «Este é um grupo de jogadoras incrível», disse ele depois da dramática noite de Thun. «Têm tanta personalidade, é ótimo trabalhar com elas.»
O dinamarquês assumiu a seleção em 2018, logo depois de a Suíça ter falhado o apuramento para o Mundial 2019. Ele orientou a seleção dinamarquesa entre 2013 e 2017, levando-a à final do Campeonato da Europa no último ano sob o seu comando. Isso valeu-lhe o segundo lugar no prémio da FIFA de melhor treinador do futebol feminino. Nascido na Gronelândia, Nielsen mudou-se para a Dinamarca aos cinco anos de idade. Em 2018 tinha aceitado um emprego na China, mas demitiu-se pouco tempo depois, porque o seu filho sentiu dificuldades respiratórias no ambiente poluído de Pequim. Isso abriu a porta para Nielsen assumir a seleção suíça.
Lia Wälti é a trave mestra e a líder da seleção suíça. A médio de 29 anos tornou-se capitã em 2018 e chega ao Europeu a atingir a marca das 100 internacionalizações. Sempre se esforçou para evoluir, e mudou-se para a Alemanha aos 20 anos, para jogar na Bundesliga pelo Turbine Potsdam. Na segunda temporada já era capitã de equipa. Em 2018 transferiu-se para o Arsenal, onde se afirmou na Women’s Super League. Pouco antes do Europeu, Lia falou sobre as diferenças entre as seleções masculina e feminina: «Há jogadoras que têm de tirar licenças sem vencimento dos seus empregos para poderem estar nos estágios da seleção. Isso é um problema. Só queremos ter condições e infraestruturas iguais às dos homens.»
Provavelmente o maior talento entre as avançadas suíças. Começou a jogar futebol seguindo as pisadas dos seus irmãos mais velhos e aos 10 anos já era bem claro que queria tornar-se futebolista profissional. Conseguiu-o ainda adolescente, ao deixar o centro de performance de Biel para jogar no Lucerne, na primeira divisão suíça. «É a primeira a subir ao relvado para o treino e a última a sair», disse o antigo treinador do Lucerne, Glenn Meier. Aos 18 anos passou a representar o Friburgo, na Bundesliga. Estreou-se pela seleção aos 17 anos e espera que este torneio represente o seu grande momento de afirmação.
Quando terminou a sua carreira internacional de 17 anos, Lara Dickenmann era a recordista de internacionalizações (135) e golos (53) pela Suíça. Ela estreou-se em 2002, aos 16 anos, e saiu como capitã e como uma lenda. Em torno de Dickenmann, a seleção evoluiu de um grupo de amadoras para uma equipa de jogadoras profissionais. Uma parte crucial dessa evolução deve-se à carreira de sucesso de Dickenmann a nível de clubes. A antiga jogadora, agora com 36 anos, venceu por duas vezes a Liga dos Campeões e conquistou 23 títulos com as camisolas do Lyon e do Wolfsburgo. Quando fez o seu último jogo, em 2021, ela disse: «Antes, tinha dito que não devia chorar. Mas não correu muito bem.»
A Suíça só se qualificou por uma vez para o Europeu, em 2017. Tinha então como objetivo chegar aos quartos de final, mas depois de perder o primeiro jogo, frente à Áustria, andou sempre atrás do prejuízo. No entanto, venceu a Islândia e chegou ao último jogo, com a França, com hipóteses de apuramento. Mas, apesar de ter jogado com uma a mais durante um longo período, o jogo terminou empatado e a Suíça foi eliminada.
O grupo, com Portugal, Suécia e Países Baixos, é muito difícil. O primeiro jogo, frente a Portugal, é vital. Se a Suíça empatar ou perder, o sonho de passar a fase de grupos praticamente cairá logo por terra.
Textos de Bettina Brülhart, que escreve para o Blick.