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A memória como eco único de uma pandemia de silêncio

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Adeptos um ano de pandemia

Paulo Martins, adepto do Sp. Braga

«Naquele dia, não sei porquê, mas gravei a minha entrada no estádio a passar o torniquete. Como era hábito, fui com a minha mulher. Estava uma noite muito fria, com aquele microclima a complicar.

E quando chegámos às nossas cadeiras havia uma rosa. Como era dia da mulher, o Sp. Braga decidiu fazer uma surpresa a algumas adeptas. Até tirei foto da rosa no lugar.

Lembro-me que o Trincão marcou um dos golos e foi a última vez que tivemos oportunidade de o ver ao vivo com a camisola do Sp. Braga.

E isso só me faz pensar que pode acontecer uma coisa impensável: haver jogadores do Sp. Braga que chegaram esta época ao clube e que, se acontece saírem no final da temporada, nós não os veremos uma única vez ao vivo.

Num ano de centenário, que já seria especial por isso, não podemos acompanhar o trabalho fantástico que o Carvalhal está a fazer com esta equipa. E merecíamos.

Já vamos para a segunda final e não me lembro de falhar uma única final do Sp. Braga. Conseguimos oito finais nos últimos dez anos e agora vou falhar estas duas.

Vim para Braga aos 10 anos e desde que me lembro, para mim só existe Sp. Braga. E o estádio era como uma segunda casa. Sou sócio há 14 anos e fiz muitas amizades ali. Conheci o meu melhor amigo no estádio.

Normalmente, ia sempre com ele, a minha mulher e sogra. Temos quatro cadeiras seguidas. E as pessoas que ficam ali perto também já eram amigas. Ir ao futebol era também uma forma de estar com os amigos e é estranho agora estar sem vê-los.

E tenho receio de que não volte a ser igual. Que as pessoas que hesitavam em ir ao futebol no estádio juntem às questões habituais o medo da pandemia e as que estavam entre ir ou não ir desistam de estar no estádio.»

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Adeptos um ano de pandemia

Leandro Guerreiro, adepto do Portimonense

«Apesar de o jogo ser numa sexta-feira à noite em Braga, fui no meu carro com mais três amigos desde Portimão e voltei no mesmo dia. Foram oito horas para cada lado. E no mesmo fim de semana ainda fomos ver o futsal a Viseu.

Tenho 26 e desde os 18 ou 19, quando atingi a maioridade, comecei a ir a todo o lado. Só não vou quando o trabalho não permite mesmo.

Já batem as saudades. Não consigo ver o Portimonense pela televisão. Chateio-me e enervo-me por não estar lá a apoiar e estou sempre a sair da frente da televisão. Na TV é uma coisa diferente.

Sem nós lá a apoiá-los deixa de haver química. E tenho amigos que não vejo desde o último jogo em casa. Porque só nos víamos ao fim de semana lá no estádio.

Eu vestia sempre a mesma farda para ir ver o Portimonense; calças de ganga pretas, camisola e cachecol do clube, casaco da claque e panamá na cabeça.

E depois, como a malta diz, tenho uma das melhores goelas do estádio para gritar pela equipa.

Agora continuo a ter o stress da semana toda e depois não tenho o desafogo de poder ir à bola gritar.»

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Adeptos um ano pandemia

Márcio Leitão, adepto do Tondela

«Lembro-me de quase tudo sobre o último jogo. Começou às 15h30 e estava muito calor. Lembro-me de ver os adeptos do Boavista a protegerem-se do sol. Eu fiquei mesmo atrás do banco deles onde ficava sempre. Vê-se muito bem o jogo dali.

Nós marcámos primeiro pelo Ronan e o Boavista empatou uns três minutos depois. Era um jogo para ganhar, mas aquele ponto serviu para conseguirmos o objetivo.

Sempre que podia, ia aos jogos. Trabalho num pequeno restaurante em Tondela e sempre que conseguia sair a tempo, ia ver. Normalmente ia com o meu pai, que trabalha num restaurante da concorrência.

E quando tinha um fim de semana, já sabia que era para o Tondela. Já fui a quase todos os estádios com a equipa e quando não posso acompanhar vejo na televisão.

Mas sinto falta do ambiente ao vivo. De me encontrar com outros adeptos e ir até ao bar do estádio falar sobre como está o nosso Tondela. E sei que os jogadores também sentem a nossa falta. Futebol sem público é como comida sem sal. Não sabe tão bem.

Eu sou de Canas de Santa Maria, um lugar perto de Tondela, mas mudei-me para a cidade há cinco anos. E o Tondela para mim é tudo. Comecei a acompanhar quando estávamos na 3.ª divisão, depois 2.ª B e fomos sempre a subir.

Estar tanto tempo sem ir ao estádio só me dá mais vontade de ir. Quando puder voltar, sei que ainda vou puxar mais pela equipa e incentivá-los.

Já sonhei que tudo tinha passado e que o estádio estava cheio. Sobretudo devido às saudades que todos têm.»

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Adeptos um ano de pandemia

Rui Pereira, adepto do Vitória FC

«Empatámos o último jogo em casa, porque foi o habitual de quando o Benfica vinha a Setúbal com excesso de confiança.

Para o Vitória, acredito que esse jogo seria o volte-face para os resultados negativos que estávamos a ter. Lembro-me que a seguir íamos à Madeira, mas a coisa acabou por descambar.

Nasci em Setúbal, fui para a Alemanha ainda pequeno, mas desde que voltei, acompanhei sempre o Vitória. Nos últimos três ou quatro anos de forma ainda mais regular. Se falhei meia dúzia de jogos, foi muito.

Eu ia a todo o lado atrás do clube e agora posso dizer que acompanho muito pouco. Porque não consigo ver futebol na televisão. Não consigo.

O vício de ir ao estádio é tão grande, que quando o jogo dá na televisão eu não consigo ligar-me ao jogo. Passa-me completamente ao lado.

E tenho mesmo saudades é do futebol de antigamente. O futebol à tarde para haver mais gente a poder ir.

Mas também sinto falta dos jogos fora. Dos dias em que assim que acordas já estás a viver para o jogo. Não é só durante os 90 minutos, mas o dia todo. O convívio. O jogo era uma reunião de amigos por um amor comum.

O apoio do chamado 12.º jogador faz muita falta e acho que agora todos reconhecem o grande papel dos adeptos. O aspeto monetário parece ser sempre o mais importante, mas espero que isto faça com que os adeptos passem a ser mais respeitados no futebol.

Para uma equipa como o Vitória, que está agora em crise, era muito importante ter os adeptos. Porque os jogadores correm mais quando têm apoio, mas também pelo encaixe financeiro que se consegue.

Tenho imensas saudades de ir ao estádio. Mas quando puder regressar, não sei como vou reagir. Eu não consigo imaginar ver o futebol sentado e a festejar sozinho, sem me abraçar a quem está à minha volta. Isso é que é a essência do futebol e temo que o não volte a ser como antes.»

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Adeptos um ano de pandemia

David Marques, adepto do Benfica

«O último jogo que fui ver do Benfica foi com o V. Setúbal no Bonfim, mas em termos de custos foi um jogo de Liga dos Campeões.

A meio da semana fui com o meu puto à Luz comprar bilhete, mas quando cheguei a casa não o encontrava em lado nenhum. Como uns amigos ainda iam comprar, pedi para comprarem outro para mim.

Quando vamos ao Bonfim temos o hábito de jogar uma futebolada num jardim que há mesmo em frente ao estádio. E já para não perder o bilhete, deixei-o no carro e só o fui buscar no fim do jogo.

Mas mesmo assim, consegui perdê-lo entre o carro e o estádio. Nas bilheteiras já não havia bilhetes e quando eu pensava que ia ter de voltar a Lisboa sem ver o jogo, encontrei uns rapazes que estavam a vender um bilhete porque um amigo tinha faltado.

Tive sorte. Mas nunca me tinha acontecido uma coisa assim.

Sou sócio desde os dois anos, desde 1986, e como tenho Redpass, em casa só falho um ou dois jogos por época.

Este ano está a ser difícil acompanhar à distância. Além da convivência com os amigos e o ambiente no estádio, faz falta gritar pela equipa – e mandar vir quando tem de ser.

Acho que a equipa se tem ressentido. Até li um artigo que mostrava que os clubes mais ligados ao povo são os que estão a ter piores resultados.

O Benfica sempre teve uma massa associativa muito forte e isso faz falta. Os famosos 15 minutos à Benfica, a força do Terceiro Anel…

Com a ausência tenho pensado se valerão a pena todos os sacrifícios que fazemos. Mas a paixão é tão grande que nem coloco em causa não continuar a ir mesmo número de vezes que ia antes da pandemia. Ou até mais devido às saudades.

Agora, resta-nos simular os encontros no estádio pelo Whatsapp. Às vezes lá alguém escreve: ‘já estou no Estádio, onde andam?’; ou ‘vamos lá buscar a última rodada antes do jogo começar’. É uma forma de minimizar a falta que nos faz ir ao estádio.»

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Adeptos um ano de pandemia

Marco Novais, adepto do Vitória SC

«Costumava comentar com os meus amigos que no dia em que o adepto se calar, o futebol morre. E agora o adepto foi obrigado a calar-se. A pior coisa que podem fazer é desvirtuar a paixão que está associada a um jogo de futebol.

Agora, se calhar, um jogo é só mesmo 11 jogadores de cada lado e uma bola lá pelo meio. Mas o futebol não é isso.

Tenho 39 anos e sou sócio do Vitória desde que nasci. Durante dez anos fui líder de um grupo de apoio ao clube e pertenci ao Movimento Ultra de Guimarães durante 20 anos.

Corri centenas de estádios, em Portugal e na Europa, atrás do Vitória, sempre a apoiar, fim de semana após fim de semana. Era meter o cachecol ao pescoço e siga!

Para mim, era impensável ficar tanto tempo sem ir ao estádio. A única coisa que quero é poder voltar aos estádios. Voltar à normalidade e ir sempre atrás do Vitória.

Porque sinto falta de tudo. Do ambiente, da envolvência pré-jogo e durante os 90 minutos. Das concentrações para ir em conjunto para o estádio, já em apoio. De beber uma cervejinha antes de entrar.

Apoiar o Vitória era uma daquelas tarefas semanais da vida. Sem o peso da obrigação porque era para ir atrás de um amor.

São muitas as vezes que acordo depois de sonhar que voltei ao estádio. Mas depois tenho de assentar os pés no chão e perceber que ainda não é hora. Que o verdadeiro futebol ainda não voltou.

Porque o verdadeiro futebol não é este sem adeptos.»

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Adeptos um ano de pandemia

Miguel Ribeiro, adepto do P. Ferreira

«A última recordação que tenho do jogo no estádio é a derrota com o V. Guimarães. Mas tenho saudades desses tempos de ir ao estádio. Nunca imaginei uma situação assim.

Tenho 40 anos e acompanho o Paços desde sempre. Foi um espírito que me foi incutido pelo meu pai e que eu mantive sempre. Só tenho um clube. Até costumo dizer: «Dos grandes, sou do Paços.

Até tenho um bar no estádio e a maior coleção de camisolas do clube. São 70 camisolas, todas diferentes. Mais 100 cachecóis.

Na última subida do Paços, fiz uma promessa que ia aos 34 jogos. E cumpri. De Faro a Chaves, fui a todo o lado. E costumo ir a todos os jogos fora.

Fui um dos 40 adeptos que foram a S. Petersburgo quando jogámos a Liga dos Campeões. E posso dizer que foi mais emocionante ouvir o hino da Champions na Rússia do que quando jogámos ‘em casa’ no estádio do Dragão.

Sinto mesmo falta de berrar os golos no estádio. No outro dia veio um amigo ver o jogo comigo e berrei tanto que os mês vizinhos devem ter ficado tolos.

Não posso dizer que tenho pena de não poder ver o Paços no estádio nesta época, em que estamos tão bem. Porque o que me importa é ver o Paços bem. É sempre emocionante ver a equipa a jogar com um futebol tão bonito.

Só lamento já sentir alguma quebra em termos de apoio e falar de bola. As pessoas estão mais desligadas do que quando podíamos ir ao estádio, mas espero que possam voltar a ter aquele entusiasmo.

Isso e que consigamos vencer esta luta com o V. Guimarães pelo quinto lugar.»

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Adeptos um ano de pandemia

Tiago Sampaio, adepto do Desp. Aves

«Nem era suposto termos ido a Alvalade no último jogo antes de a pandemia fechar tudo. Nesse fim de semana jogava-se a final-4 de futsal feminino e o Desp. Aves estava lá.

Nós apoiamos todas as modalidades, e até já estávamos em último há muito tempo e quase condenados. Mas como perdemos nas meias-finais do futsal, ainda decidimos ir no dia seguinte a Alvalade.

Fomos uns vinte, entrámos perto dos 20 minutos e já tínhamos um jogador expulso. E antes do intervalo já estávamos a jogar só com nove. Era fácil bater no Aves.

Sinto falta do efeito terapêutico que o futebol tinha em nós. O convívio do futebol, a festa, beber uns copos.

Estar com aquelas pessoas que seguem o mesmo objetivo que nós, ajudava a libertar o stress.

Tenho 34 anos e desde os 16 que acompanho os jogos todos, seja em casa ou fora. Devo ter 95 por cento dos jogos do Aves nas pernas e nos pulmões.

Agora, com a equipa nas distritais, é mais fácil acompanhar nos jogos fora do que em casa. Porque o nosso estádio está feito para as competições profissionais e não dá para ver do lado de fora.

Nos jogos fora, temos ido a todos. Vemos em cima de balneários, de montes, do que for.

Já depois de começar este confinamento, fomos jogar com o Baltar em Folgosa da Maia e lá estávamos a apoiar. Estivemos uns 40 minutos até virem as autoridades, educadamente, pedir-nos para sairmos porque não podíamos estar ali.»

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Adeptos um ano pandemia

Ivo Ferrão, adepto do Sporting

«As coisas no Sporting não estavam fáceis, mas longe de imaginar que ia ficar tanto tempo sem ir ao estádio. Andava cansado de tanta coisa que estava a acontecer com a questão Varandas-Bruno [de Carvalho], mas não pensava deixar de ir ver os jogos.

O Sporting é uma doença, mas uma doença boa. Tenho Gamebox desde que o novo estádio existe e antes também já tinha lugar cativo no velho.

Nunca estive tanto tempo sem ir ao estádio e é estranho ver o futebol na televisão. É estranho não ir beber uma cerveja e comer qualquer coisa com o meu grupo de amigos que ia sempre aos jogos, não estar lá a cantar, a apoiar e criticar também quando tem de ser.

Dos que íamos regularmente, éramos uns dez. Combinávamos o encontro no mesmo cafezinho de sempre e depois íamos até às rulotes beber uma cerveja e comer alguma coisa.

Depois, entrávamos sempre à última da hora, mesmo quando o jogo estava a começar. Foi um ritual que apareceu e que se foi mantendo.

Uma vez decidimos ir mais cedo e perdemos com o Benfica 1-0 e até brincávamos que tinha dado azar. Por isso, entrávamos sempre à última – se bem que os resultados não melhoraram muito com isso.

Estar tanto tempo sem poder ir dá que pensar. Mas é só futebol e poder manter o ritual no futuro quererá dizer que temos alegria e saúde.

É muito estranho estar a assistir ao longe a esta época em que o Sporting é líder como nunca foi e nós não podemos estar lá. Mas o sportinguista sempre tem de sofrer. Seja pelos maus resultados, seja por agora não poder viver de perto isto.

A questão Varandas-Bruno continua muito presente, mas a equipa está unida e a jogar bem e nós somos obrigados a partilhar as alegrias num grupo de Whatsapp. Não podemos estar todos no estádio aos saltos e abraços.

Mas a minha expectativa é que os abraços voltem rapidamente. No futebol e fora dele, os abraços têm de voltar. Será estranho festejar sem abraços.

Ainda não penso no título. Nós sportinguistas estamos vacinados para o pior. Parece que há sempre alguma coisa a acontece para não ganharmos campeonatos.

Por isso, apesar de as coisas parecerem encaminhadas, eu sinto que ainda estão longe. Quando faltarem três jornadas, se mantivermos os dez pontos de vantagem, aí penso como irei festejar. Porque vou festejar de certeza, nem vá só para a rua gritar que nem maluquinho.»

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Valquirio Barcelos e Belchior Botelho, adeptos do Santa Clara (Foto: Liga Portugal(

Valquírio Barcelos, adepto do Santa Clara

«Estive nos três teste-piloto feitos nos Açores para o regresso do público aos estádios e sinto que sou um privilegiado. E foi espetacular. Sentia-se a emoção das pessoas e riso na cara de todos - mesmo com a máscara – por estarem de volta.

Todos têm respeitado as regras e acho que tem sido um prémio aos açorianos pelo bom comportamento.

Eu sou da ilha Terceira, mas lembro-me da subida do Santa Clara em 99, num jogo que ganhámos 4-3. Já gostava do clube e em 2004 quando vim para S. Miguel tornei-me adepto fervoroso.

Tenho lugar cativo no estádio e vou a quatro ou cinco jogos no continente. E nos jogos fora, eu e um amigo vestimo-nos sempre de vaquinha. E a verdade é que sempre que nos vestimos assim, o Santa Clara não perdeu.

É uma forma gira de quebrar o gelo com os adeptos das outras equipas. O futebol é festa e darmo-nos bem com toda a gente.

É disso que sinto mais falta. Do convívio e festa do futebol. De ir à tasca ao pé do estádio beber uma cerveja e comer uma bifana, falar de futebol e dos jogadores. Mas também de puxar pela equipa e de gritar os golos.

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Adeptos ano pandemia

Bruno Santos, adepto do Gil Vicente

«Sou de Guimarães, mas nunca tive grande sentimento pelo Vitória. Mas em 2006, quando me mudei para Barcelos, senti logo um carinho muito especial pelo Gil Vicente. Um pouco empurrado pela minha esposa, inicialmente, admito.

Agora, sou líder da claque enão falho um jogo, seja em casa ou fora. Por isso, ao ter de ver os jogos na televisão fico mesmo chateado. As emoções não passam da mesma forma.

Sinto muita falta do público nos estádios. Normalmente, eu passo a maior parte do tempo de costas para o jogo. Vou metendo o olho de lado de vez em quando para ir vendo o jogo, mas tem de ser para puxarmos pelo Gil.

O nosso grupo é de cerca de 70 elementos e é muito unido no apoio ao clube.

Com o confinamento, para não juntarmos muita gente, temos ido às saídas da equipa para os jogos, mas à vez. Vão dois ou três apoiar de uma vez, na semana a seguir vão outros dois ou três. Combinamos num grupo que temos e vai lá alguém só mesmo com a bandeira para não haver confusão.»

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Adeptos um ano pandemia

Ângelo Sá, adepto do Famalicão

«Quando o Famalicão foi jogar com o Belenenses ao Jamor já se ouvia falar do vírus. Mas nunca imaginei que um ano depois ainda estivéssemos em confinamento. Na altura falou-se da possibilidade de haver jogos à porta fechada, mas parecia impensável. Quanto mais este cenário durante tanto tempo.

Tenho 39 anos e ia sempre ao estádio ver o futebol. Mais regularmente, talvez há uns 25 anos. Acompanhei desde os distritais até às subidas da última década.

Não é só o jogo que nos faz falta. É tudo. O antes, o durante e o depois dos jogos. O convívio com os amigos, o estar com todas aquelas pessoas que gostavam e apoiavam o mesmo que nós, o puxar para que o clube vencesse.

Em dia de jogo, notava-se a cidade a fervilhar. E sinto que somos a equipa mais prejudicada com esta situação. Todas são, claro, mas éramos muito fortes no nosso estádio, que estava sempre cheio, e agora somos a equipa com pior registo em casa.

Não tendo uma equipa muito forte, o apoio dos adeptos é ainda mais importante, ainda para mais este ano, que temos uma equipa praticamente toda nova.»

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Adeptos um ano de pandemia

Tó Carvalho, adepto do Belenenses

«Quando jogámos com o Famalicão já estávamos a preparar a saída do fim de semana seguinte, mas a pandemia fez isto parar tudo.

Não é nada fácil. Tenho 55 anos e sou sócio do Belenenses há 41 anos – mas não acompanho a equipa que está nas distritais. Ia a todo o lado. Jogos no continente, era a minha vida, com o meu filho e a minha mulher, que apoia o Belenenses por arrasto.

Tenho tantas histórias de jogos em que íamos, nem que chegássemos depois às três da manhã. Uma vez, depois de um jogo em Chaves, cheguei a Lisboa às 6h, com uma reunião em Oeiras às 8h30. Foi só tomar um banho e seguir para a reunião – com óculos de sol para disfarçar…

Estou mortinho para poder voltar àquele clima que se vive antes e durante o jogo. Aquela ansiedade de sair atrás da paixão que sentimos pelo nosso clube. Estar a ver um jogo pela TV é uma doença para mim.

Falta o chegar ao estádio antes da equipa, para os receber com apoio, transmitir-lhes aquela força e ficar, como tantas vezes, esperá-los no final sempre para dar aquela palavra aos jogadores.»

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Adeptos um ano pandemia

Luís Santos, adepto do Marítimo

«Lembro-me, com uns cinco ou seis anos, ver o meu irmão a pintar tarjas de apoio ao Marítimo. Ele pertencia à claque Brigadas, fundada no Liceu do Funchal, e foi quem me passou aquele entusiasmo.

Sou sócio dos desde os 12 anos e sempre fui ver o Marítimo. Muitas vezes ia com os meus amigos e como nem todos eram sócios, mas não podia ficar ninguém para trás, enquanto uns tinham a tarefa de distrair os seguranças que estavam no peão, os outros saltavam o muro para poderem ver o jogo.

Quando estudei em Lisboa ia ver os jogos todos no continente. Uma vez fui com uns amigos à Reboleira e festejámos um golo do Marítimo. Os adeptos do Estrela não gostaram muito e o ambiente ficou pesado. Tivemos de ser acompanhados pela polícia até à estação.

Sinto falta de vestir a camisola do Marítimo, entrar no estádio e puxar pela equipa.

E acima de tudo, do orgulho que era receber as equipas do continente e vermos a afirmação da Madeira no todo nacional. Pôr em sentido equipas grandes. E para isso, os adeptos eram parte fundamental.

Este ano as coisas estão mais difíceis e acredito que plenamente que estaríamos completamente diferentes. Mas nós acreditamos até ao último segundo. Porque o Marítimo habituou-nos a grandes conquistas.

Eu lembro-me de ver o Marítimo dar um banho de bola à Juventus, uma equipa que era metade da seleção de Itália. Com Peruzzi, Roberto Baggio, Del Piero, Ravanelli…

Só espero que as TV’s não consigam cumprir a vontade que têm de fazer com que o futebol deixe de ter adeptos. Isso não pode acontecer.

O futebol só é o desporto-rei graças aos adeptos. Sem eles, não há futebol. Os estádios sem adeptos são monumentos sem significado algum.»

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Adeptos ano pandemia

Cajó, adepto do Moreirense

«Quando jogámos com o Marítimo eu comentava com os meus amigos que tendo em conta o que se começava a ouvir sobre o vírus, talvez o futebol tivesse de passar a ter menos gente. Mas nunca me passou pela cabeça que parasse mesmo e chegássemos a este ponto.

Tenho 27 anos e acompanho o Moreirense desde que nasci. Desde que que jogávamos em campos de terra. Ia com o meu pai e a minha mãe e se falhasse dois jogos numa época era por estar doente.

O meu pai morreu recentemente, mas o ritual de ir com a minha mãe ver o Moreirense mantém-se. Equipamo-nos os dois a rigor e vamos. A minha mãe foi das primeiras sócias do clube e já ia antes de casar com o meu pai. Passaram-me os dois esta herança de família que é o Moreirense e que espero continuar para os meus filhos.

Sinto falta de tudo: desde o cheiro da relva, aos jogadores, ou às pessoas que eram a nossa família do futebol, aquelas que ficavam sempre ao nosso lado. No fundo era como ir à missa e ver as mesmas caras.

Ir ao futebol era mesmo uma coisa sagrada. Nunca aprendi a ver futebol na televisão. É como se me matassem.

Tenho pensado como vai ser o regresso ao estádio e há uma coisa de que tenho a certeza: vou esforçar-me ainda mais para respeitar os adversários.

Não é que já não o fizesse, mas este tempo afastado do futebol tem-me feito pensar que temos de mudar a forma como vemos os adversários. A rivalidade é uma coisa tão boa que não se pode estragar com falta de respeito.

Acho que não há nada melhor do que receber as pessoas dos outros clubes no nosso estádio com respeito para aquela festa. Acho que isso é a parte mais bonita do futebol.»

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Adeptos um ano de pandemia

João Terroso, adepto do Rio Ave

«Tenho 55 anos, sou das Caxinas e o Rio Ave é o meu clube do coração desde sempre. E o único.

O meu pai e a minha mãe já eram do Rio Ave e, depois de ter saído de Portugal muito novo, voltei com 13 anos e desde então acompanho o clube sempre que posso. Só não vou mais vezes porque passo algum tempo fora do país por causa do trabalho.

Os meus filhos, de 33 e 21 anos, são sócios desde que nasceram. Sempre lhes incuti o meu amor pelo clube. Por isso, é muito especial quando vou com eles e com aminha mulher ao estádio. Temos quatro cadeiras seguidas e eles também já levam as namoradas.

Sou um adepto daqueles mesmo ferrenhos. Apesar de ter 55 anos, não gosto de ver o jogo sentado. Gosto de estar em pé a apoiar. Está a ser muito difícil passar sem ir ao estádio. Era o meu hobby.

Para mim é sempre especial. Visto sempre a camisola do Rio Ave, o cachecol e um chapéu na cabeça. Se é para ir ao futebol não é como se fosse ao cinema.

Gosto muito de futebol, mas é na televisão. No Estádio só gosto de ir ver o meu Rio Ave. Às vezes uns amigos convidam-me para ir com eles e recuso sempre. Se não é o Rio Ave, não gosto de ir. Vi uma vez a seleção nacional, mas de resto só o Rio Ave.

Estive no último jogo do Rio Ave com público, no Estádio do Dragão e foi uma alegria. Empatámos 1-1 com um golo do Taremi e foi muito bonito porque nesse dia eramos muitos. Uns 250 ou 300, o que para nós, e com o jogo a dar na televisão, é muita gente.

Esta ausência de um ano só me está a dar mais vontade de voltar ao estádio. Nunca na vida pensei que pudesse estar tanto tempo sem ir ver um jogo. Esta pandemia trocou-nos as voltas todas.»

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Adeptos um ano pandemia

Daniel Duarte, adepto do FC Porto

«A recordação mais viva que tenho desse jogo é de ter saído do Dragão chateado por causa do Taremi. Foi ele que marcou o golo do Rio Ave que lhes deu o empate.

De vez em quando bate mesmo a saudade e até acontece sonhar que voltei ao Dragão. E normalmente, vou lá no dia seguinte só para matar as saudades daquela sensação de estar perto do estádio. Tenho ido lá muitas vezes dar o meu passeio.

Tenho 23 anos e sou sócio do FC Porto há 17. Ir ao futebol é uma coisa que me faz mesmo muita falta. Só por um motivo mesmo muito forte é que não ia ao Dragão, onde tenho lugar anual desde 2004.

Sinto falta de tudo. Sobretudo de festejar os golos. E daquela cerveja antes de entrar. Costumo ir cedo, gosto de entrar uma hora antes e ver o aquecimento.

Costumo ir com a minha família. Eu, o meu pai, o meu irmão, a namorada dele, dois ou três primos e um ou dois tios. Temos as cadeiras todos juntos e esses são os mais habituais, mas às vezes vão mais.

Agora dá-me muita raiva não poder estar. E a equipa sente a falta. Esta época tem-se sentido muito a falta do público.

Tenho a certeza de que com o Dragão cheio, o FC Porto não tinha empatado este jogo com o Sporting. Já com a Juventus fiquei com a ideia de que não teríamos sofrido aquele golo, mas nesse jogo ainda ganhámos.»

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Adeptos um ano de pandemia

Ricardo Gaia, adepto do Boavista

«Para quem, como eu, acompanha o Boavista para todo o lado há uns 25 anos, desde os meus 14 ou 15, era impossível imaginar que aquele jogo em Tondela seria o último durante tanto tempo.

Já vi mais vezes o Boavista na televisão esta época do que se calhar tinha visto no resto da minha vida.

Sinto falta da rotina de ir a um jogo, do convívio, de apoiar a equipa. É difícil, para uma pessoa acompanhou até os seis anos da travessia no deserto quando andámos pela 2.ª divisão B estar afastado.

Mas até por essa experiência, acredito que quando as pessoas puderem voltar, vão ainda gostar e apoiar mais o Boavista. Porque isso aconteceu comigo nessa altura, se calhar também pela revolta do que nos fizeram.

E não tenho dúvidas de que a ausência de público no estádio está a refletir-se no rendimento de muitas equipas e no do Boavista, de certeza.

Se houvesse adeptos no estádio não acredito que o Boavista estivesse na situação em que está. Porque estaríamos a empurra-los e a pressionar os adversários, que também faz parte. Com os estádios vazios ninguém pressiona ninguém.

Até nos jogos-treino havia sempre gente. Agora conseguimos ir a algumas saídas de hotéis e assim, mas não é a mesma coisa. E como temos tantos jogadores novos no plantel, a maioria deles nem conhece a realidade do que é o Boavista, ou o impacto que tem de ter o Bessa cheio.

O futebol sem adeptos não tem lógica, mas quando pudermos voltar ao estádio vamos estar tão sedentos que ainda vamos apoiar mais. Costuma dizer-se que só quando se fica sem algo é que se dá verdadeiro valor, e eu acho que isso se vai notar quando voltarmos a poder estar nos jogos.

Já me aconteceu, em vésperas de jogos, sonhar que estava outra vez no estádio. Mas depois acordava de manhã e afinal ainda não podia ir.»

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Adeptos um ano de pandemia

Élio Arenga, adepto do Farense

«Sinto tanto a falta do inferno do S. Luís. De ver o estádio cheio de gente. É muito doloroso estar afastado e saber que os jogadores também sentem a nossa falta. Mas a verdade é que a saúde tem de vir primeiro.

Tenho 36 anos e desde que me conheço como gente que acompanho o Farense. Comecei por ir com o meu pai e continuo a ir sempre que jogamos em casa e quando o trabalho permite ir fora.

Voltar à Liga era um sonho, o outro é ver o estádio cheio. Ainda não foi possível, mas eu sei que vai acontecer. Este clube centenário merece isso.

Faz-me falta aquele nervosinho que continuo a sentir sempre que entro no estádio com o meu cachecol ao pescoço – quantas vezes já voltei a casa para o ir buscar por me esquecer…

Esta ausência tem-me feito pensar que temos de dar ainda mais valor ao clube da nossa terra. E vou fazer cada vez mais aquilo que já fazemos muito no meu grupo de amigos: tentar levar sempre alguém pela primeira vez.

Já conquistámos muita gente assim que ao ver aquele ambiente único, que não existe em mais nenhum estádio, fica rendido.

Para quem estava habituado a ir semana sim, semana não, é normal que o subconsciente vá buscar esse desejo e já me aconteceu sonhar que estava de volta ao estádio.

Só peço que o regresso venha rápido, por favor. É muito complicado estar afastado, ver que o clube está mal na classificação, precisa da nossa ajuda e não podemos ajudar.»

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Adeptos um ano de pandemia

João Gonçalves, adepto do Nacional

«Joguei no Nacional entre 1964 e 1978 e fui capitão de equipa em cerca de metade desse tempo. Só não me lembro de jogar a guarda-redes e defesa esquerdo. Mas era sobretudo médio.

Depois ainda fui treinador e campeão de juniores com uma equipa que tinha o Ivo Vieira e o Bruno Abreu como estrelas.

E sou sócio há quase 40 anos. A minha idade? Tenho 50 mais 26, parei de contar depois dos 50.

O futebol foi sempre uma paixão. Do que sinto mais falta é do carinho que recebia no estádio. Toda a gente me tratava por ‘capitão’. Era mesmo muito acarinhado pela massa adepta.

A pandemia tem muito que se lhe diga, mas acredito que vou voltar ao estádio. Esperemos é que isto acabe.

Para já, vou vendo os jogos em casa e sofrendo sozinho.»

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EUA: os jogadores 15 nov 2022, 00:38
Irão: os jogadores 14 nov 2022, 23:24
Uruguai: o guia 11 nov 2022, 18:42
Gana: o guia 11 nov 2022, 15:09
Brasil: o guia 10 nov 2022, 21:39
Qatar: o guia 7 nov 2022, 10:43
Portugal: os jogadores 2 nov 2022, 00:32
Portugal: o guia 1 nov 2022, 23:42
Alemanha: o guia 25 jun 2022, 00:45
Bélgica: o guia 25 jun 2022, 00:00
Dinamarca: o guia 24 jun 2022, 23:55
Irlanda do Norte: o guia 24 jun 2022, 16:02
Áustria: o guia 24 jun 2022, 14:13
França: o guia 24 jun 2022, 00:00
Países Baixos: o guia 23 jun 2022, 23:24
Portugal: o guia 23 jun 2022, 20:41
Inglaterra: o guia 23 jun 2022, 11:38
Suécia: o guia 23 jun 2022, 00:00
Suíça: o guia 23 jun 2022, 00:00
Itália: as jogadoras 22 jun 2022, 20:04
Suíça: as jogadoras 21 jun 2022, 23:28
Bélgica: as jogadoras 21 jun 2022, 23:17
Noruega: as jogadoras 20 jun 2022, 23:35
França: as jogadoras 20 jun 2022, 14:32
Dinamarca: as jogadoras 19 jun 2022, 22:20
Suécia: as jogadoras 17 jun 2022, 00:10
Islândia: as jogadoras 16 jun 2022, 23:17
Finlândia: as jogadoras 16 jun 2022, 15:14
Inglaterra: as jogadoras 16 jun 2022, 01:24
Portugal: as jogadoras 31 mai 2022, 18:34
Polónia: a análise 11 jun 2021, 23:48
França: a análise 11 jun 2021, 13:53
Eslováquia: a análise 11 jun 2021, 00:00
Espanha: a análise 11 jun 2021, 00:00
Escócia: a análise 10 jun 2021, 22:40
Croácia: a análise 10 jun 2021, 22:39
Inglaterra: a análise 10 jun 2021, 22:39
Portugal: a análise 10 jun 2021, 22:01
Suécia: a análise 10 jun 2021, 21:14
Ucrânia: a análise 10 jun 2021, 01:20
Áustria: a análise 10 jun 2021, 01:19
Rússia: a análise 9 jun 2021, 00:11
Finlândia: a análise 9 jun 2021, 00:10
Suíça: a análise 8 jun 2021, 00:11
Turquia: a análise 8 jun 2021, 00:11
Finlândia 7 jun 2021, 00:24
Escócia 7 jun 2021, 00:23
Suíça 7 jun 2021, 00:23
Suécia 7 jun 2021, 00:23
Dinamarca 7 jun 2021, 00:23
Espanha 7 jun 2021, 00:22
Ucrânia 7 jun 2021, 00:22
Itália 7 jun 2021, 00:22
Países Baixos 7 jun 2021, 00:22
Bélgica 7 jun 2021, 00:21
Turquia 7 jun 2021, 00:21
País de Gales 7 jun 2021, 00:20
Macedónia do Norte 7 jun 2021, 00:20
Rep. Checa 7 jun 2021, 00:20
Polónia 7 jun 2021, 00:20
Croácia 7 jun 2021, 00:19
Áustria 7 jun 2021, 00:19
Hungria 7 jun 2021, 00:19
Rússia 7 jun 2021, 00:19
Alemanha 7 jun 2021, 00:18
Eslováquia 7 jun 2021, 00:18
Inglaterra 7 jun 2021, 00:18
França 7 jun 2021, 00:17
Portugal 20 mai 2021, 23:45
100 anos do Sp. Braga 18 jan 2021, 23:51