A equipa que impressionou o mundo ao atingir, de forma surpreendente, os quartos de final do Mundial 2019, está de volta, com o mesmo núcleo duro de jogadoras e algum sangue novo. Pode ser a última oportunidade para esta geração dourada deixar a sua marca, mas, de certa forma, o Campeonato da Europa pode ser ainda mais difícil do que um Mundial. E a Itália aparece apenas como nona favorita no torneio para as casas de apostas.
Na fase de qualificação a Itália só perdeu pontos para a Dinamarca, vencedora do grupo, sofrendo só cinco golos e marcando 35, num grupo que incluía Bósnia-Herzegovina, Malta, Israel e Geórgia. Nove desses golos foram marcados por Cristiana Girelli, avançada da Juventus. O apuramento só ficou confirmado no último jogo, frente a Israel, em Florença. As Azzurre precisavam de vencer por dois golos de diferença para terminarem entre as melhores segundas classificadas e evitarem os play-offs. Venceram por 12-0!
«Os italianos têm de nos apoiar e torcer por nós no Campeonato da Europa», disse a selecionadora Milena Bertolini. «No entanto, temos de trabalhar muito. Será um belo Euro, pela qualidade de jogo, e mais uma oportunidade para o futebol feminino crescer. Temos de lá chegar tão preparadas quanto possível, fazendo sacrifícios. Mas elas sabem isso. Esta seleção tem muita alma.»
Do ponto de vista tático, a Itália joga normalmente em 4x3x3, com Manuela Giugliano como uma criadora de jogo em profundidade no meio-campo. O trio ofensivo, liderado por Girelli, é dinâmico e móvel, trocando frequentemente de posições.
Entre os princípios de jogo mais importantes para Milena Bertolini estão uma defesa que avança com bola, a permutabilidade de papéis e o movimento constante das jogadoras. Bertolini assumiu o cargo em agosto de 2017, e até agora atingiu sempre os seus objetivos. Primeiro a qualificação para o Euro 2019, em França, após uma ausência de 20 anos, atingindo depois os quartos de final. E agora o Euro 2022. A par destes resultados impressionantes, ela elevou o nível da equipa e deu confiança às jovens jogadoras que despontam.
A melhor marcadora da equipa na qualificação, com nove golos. A número 10 da Itália. A vencedora do prémio de melhor jogadora da Serie A em 2020 e 2021. A única italiana a marcar cinco golos na última edição da Liga dos Campeões feminina, incluindo um tento frente ao Lyon, nos quartos de final.
Cristiana Girelli é uma ameaça constante para qualquer defesa. «Se fosse 15 anos mais nova, sonhava com a Bola de Ouro», disse a jogadora de 32 anos. «Nunca digo nunca, mas estou feliz por jogar, por me divertir e continuar a marcar golos. Este é o meu sonho.»
Quando a Itália jogou os quartos de final do Mundial, em 2019, Arianna Caruso tinha apenas 19 anos. Alguns meses mais tarde, ela estreou-se com a maglia azzurra e parece agora pronta para se afirmar como uma peça central no meio-campo da Itália.
Caruso, que é também uma goleadora, apesar de jogar no meio-campo, foi titular em dois dos três jogos da Itália na Algarve Cup de 2022.
«Sempre andei com uma bola», recordou numa entrevista. «O meu pai era árbitro e a minha mãe não queria que eu fosse ver os jogos dele. No entanto, lembro-me de estarmos lá um dia e de lhe gritarmos: ‘Sabemos onde vives, um dia vamos pegar fogo à tua casa’!»
Uma rapariga com sentido de humor, claramente.
Nascida em 1964, Carolina Morace fez mais de 150 jogos pela seleção italiana e marcou mais de 100 golos. Ao longo da carreira, ela venceu 12 campeonatos, duas Taças de Itália e foi por 12 vezes melhor marcadora da Serie A. E apontou mais de 500 golos, um recorde italiano, incluindo futebol masculino e feminino. Uma vez marcou quatro golos pela Itália, em Wembley.
Eleita melhor jogadora do Euro 1997, foi a primeira mulher a treinar uma equipa profissional masculina, o Viterbese, em 1999. Em 2015 tornou-se a primeira mulher nomeada para o Hall of Fame do futebol italiano. Em 2020 escreveu um livro, “Fuori dagli schemi”, no qual fala abertamente sobre a sua história de amor com a sua mulher, Nicola Jane Williams. «Não peçam autorização para fazerem o que querem. Simplesmente façam-no», disse numa entrevista.
Os anos 90 foram os dias de glória do futebol feminino italiano. As Azzurre chegaram por duas vezes à final do Europeu, em 1993 e 1997. A seleção, liderada pelo treinador Sergio Guenza, perdeu frente à Noruega e Alemanha, não conseguindo agarrar um primeiro troféu. A seguir, alguma coisa correu mal.
Depois de atingir as meias-finais em seis dos sete primeiros Campeonatos da Europa, a Itália nunca mais voltou a chegar tão longe, perdendo frente à Alemanha nos quartos de final, tanto em 2009 como em 2013. Em 2017, elas foram últimas no grupo, atrás de Alemanha, Suécia e Rússia.
O Grupo D, com França, Itália, Bélgica e Islândia, não é fácil de prever. Os quartos de final são o objetivo mínimo para as Azzurre. Depois… por que não sonhar?
Texto original de Luca Bianchin e Giulio Saetta, La Gazzetta dello sport