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Portugal: o guia

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Seleção feminina de Portugal voltou a treinar em relvado na Nova Zelândia (Hernâni Pereira/FPF)

Análise

Foi no último suspiro do 13º jogo que Portugal conseguiu a primeira presença de sempre no Mundial. Nenhuma seleção fez tantos jogos no caminho para a Nova Zelândia e Austrália. Após dez encontros na fase de grupos, onde Portugal foi segundo atrás da Alemanha, e duas vitórias no play-off europeu frente a Bélgica e Islândia, Carole Costa marcou aos 90+4 minutos do play-off intercontinental frente aos Camarões o penálti que levou Portugal a um Mundial pela primeira vez. «É o dia mais feliz das nossas vidas», disse a defesa, uma das mais veteranas jogadoras da seleção, a recordar também nas celebrações as gerações anteriores de jogadoras «que batalharam por este momento».

O apuramento representa o ponto mais alto e o principal sinal da evolução do futebol feminino português, que levou nos últimos anos às primeiras presenças da seleção nacional em Campeonatos da Europa, em 2017 e 2022, e agora na inédita qualificação para o maior palco de todos.

Esse crescimento fez-se em torno de um grupo base de jogadoras que fizeram este percurso em conjunto e têm muitos anos de seleção – sete das jogadoras que estão no Mundial têm 100 ou mais internacionalizações. A elas juntam-se várias outras jogadoras com experiência internacional e também algum sangue novo, com o talento de Kika Nazareth a sobressair.

Seis das convocadas para o Mundial jogaram na última temporada em clubes estrangeiros. O tricampeão nacional Benfica, com nove jogadoras, é o clube mais representado nas escolhas do selecionador Francisco Neto, que manteve para o Mundial a lógica de apostar maioritariamente no grupo que já conhece bem.

«Esta é uma seleção carregada de ambição, com muitas jogadoras com percurso incrível connosco. Nesta lista temos 12 jogadoras que estiveram no Europeu de 2017, 19 que foram ao último Europeu. São atletas que têm crescido na adversidade, mas mostram serem capazes de dar resposta. Por isso estamos onde estamos», diz Francisco Neto.

Com jogadoras que se conhecem de olhos fechados e bases táticas de referência já consolidadas, num sistema em 4x4x2 (losango) ou 4x3x3, Portugal ainda procura ganhar experiência competitiva ao mais alto nível, assumindo que para isso precisa de jogar com as melhores. A principal força da equipa é provavelmente a coesão, o espírito de grupo que tem levado a seleção a quebrar barreiras.

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Francisco Neto no Portugal-Bélgica

O selecionador: Francisco Neto

Francisco Neto tinha 32 anos quando assumiu a seleção feminina. Em nove anos conduziu Portugal pela primeira vez a grandes competições, dois Europeus e agora o Mundial, potenciando na seleção o impulso que a modalidade ganhou nos últimos anos.

Ligado ao futebol desde criança, a acompanhar o pai, que treinava o clube da sua terra natal, começou o percurso de treinador aos 20 anos, na formação e na coordenação técnica de vários clubes, e terminou a formação de treinador com uma das melhores notas do curso – à frente por exemplo de Sérgio Conceição, o treinador do FC Porto.

Diz que o futebol não se distingue pelo género e recentemente falou com humor sobre a forma como lida com as jogadoras. «Ao intervalo, quando tenho de mandar um pontapé no balde, bato à porta do balneário e elas dizem que não posso entrar. Isso permite-me contar até 10 e acalmar-me um pouco. Acho que às vezes fazem de propósito.»

Já renovou contrato até 2027, mas por agora concentra-se no Mundial, assumindo que a seleção precisa de trabalhar na forma de lidar com equipas do nível de EUA e Países Baixos. «Sabemos que vamos estar muitas vezes sob pressão e é impossível estar 90 minutos só a defender. Queremos conseguir ter a bola, dominar algumas partes do jogo e crescer nesse momento. Temos vindo a trabalhar nisso, estamos melhores, mas queremos crescer para poder competir com essas equipas», diz.

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TATIANA PINTO (GETTY)

A Figura: Tatiana Pinto

«Tenho aqui um prémio individual, mas isso hoje não é importante, pois ganhei tudo, ganhei o apuramento para o Mundial.» A eleição de melhor em campo no play-off que levou Portugal ao Mundial foi mais um marco numa grande época de Tatiana Pinto, a médio que vive aos 29 anos a melhor fase da carreira.

Tati, como muitas da sua geração, jogou com rapazes até à adolescência, quando não havia equipas femininas de formação. Depois de passagens pelo Sand, na Alemanha, e pelo Bristol, em Inglaterra, jogou cinco épocas no Sporting e em 2021 mudou-se para o Levante.

Na última temporada, a médio dinâmica que enche o campo foi uma das figuras da equipa que terminou em terceiro na Liga espanhola, com 12 golos e três assistências. Em final de contrato, deixou o Levante e tem várias opções em vista – o Arsenal e o PSG são apontados como hipóteses.

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Kika Nazareth (Getty)

Estrela em ascensão: Kika Nazareth

Kika Nazareth já é mais do que uma promessa. Aos 20 anos, é um fenómeno de talento e criatividade e tem tudo para ser a grande estrela do futuro no futebol português.

Na qualificação para o Campeonato do Mundo participou em 10 jogos, seis deles a titular, e marcou três golos. Agora, depois de mais uma época de alto nível com a camisola do Benfica, a fase final do Mundial pode ser a oportunidade para a sua afirmação plena na seleção.

Ela encara o Mundial com a descontração que a caracteriza, em campo e fora dele. «Parto com um sorriso na cara e a acreditar, sempre. Temos de olhar para nós e ver o potencial e o talento que temos, há que acreditar. Gosto sempre de sonhar e acreditar. Estou confiante. Se passarmos a fase de grupos, o objetivo é ganhar tudo.»

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Ana Borges

Sabia?

Ana Borges, recordista de internacionalizações por Portugal, jogou três épocas no Chelsea, onde venceu a Liga e a Taça de Inglaterra, antes de regressar a Portugal para jogar no Sporting. José Mourinho estava então em Londres, na segunda passagem pelos Blues, e um dia deu-lhe um conselho, contou Ana Borges ao Maisfutebol. «A minha treinadora disse-lhe que eu era muito boa mas não gostava de ginásio. Ele disse-me para lhe dizer que eu não precisava de ginásio. Precisava era de bola no pé.»

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Benfica-Sporting - Lusa

O futebol feminino em Portugal

Em março, o dérbi feminino entre Benfica e Sporting levou 27.211 pessoas ao Estádio da Luz, pulverizando o anterior recorde de 15.032. Isto seria impensável há menos de dez anos.

É mais um marco no crescimento do futebol feminino em Portugal, alimentado pela aposta e investimento da Federação portuguesa e pela entrada em cena de alguns dos grandes clubes, como Sporting, Benfica ou Sp. Braga. Uma Liga mais forte lançada em 2016 motivou o regresso a Portugal de algumas das melhores jogadoras e captou mais atenção mediática, com jogos transmitidos no canal da Federação.

Há mais competições em vários escalões e com as raparigas incentivadas a jogar, ao contrário do que aconteceu durante muito tempo, há cada vez mais meninas no futebol – quatro vezes mais do que há dez anos. Ainda assim, é um processo muito recente e continua a haver um mundo de distância para o futebol masculino, desde logo nos praticantes – em mais de 200 mil jogadores federados, entre futebol e futsal, apenas cerca de 15 mil são mulheres.

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Portugal festeja o 1-0 ante a Bélgica, apontado por Diana Silva

Objetivo realista

«Queremos chegar ao último jogo da fase e grupos, com os EUA, a depender de nós para passar à fase seguinte. Se chegarmos já qualificados, melhor ainda.» Francisco Neto define assim o objetivo: Portugal não quer ficar pela Nova Zelândia, quer chegar à Austrália, onde se jogam os oitavos de final. Mas num grupo tão exigente essa representaria uma incrível proeza para Portugal, 21º do ranking FIFA e 18º entre as seleções presentes no Mundial. Depois dos últimos lugares nos grupos nas anteriores presenças em Europeus, o objetivo mais realista será o terceiro lugar.
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