Estreante em Mundiais, o Vietname será uma das equipas menos experientes em competição na Nova Zelândia e Austrália. A seleção nacional só foi criada em 1990 e jogou o seu primeiro encontro oficial em 1997. Por essa altura nasciam muitas das jogadoras que são atualmente os pilares da equipa. No entanto, a equipa conseguiu grandes progressos, tendo recentemente subido do 42º para o 32º lugar do ranking da FIFA (e da oitava para a quinta posição na Ásia). Nos últimos 10 anos o futebol feminino vietnamita testemunhou uma evolução à velocidade da luz, com a seleção a conquistar os Jogos do Sudoeste Asiático quatro vezes seguidas. As suas conquistas na região são uma rampa de lançamento sólida para a afirmação do Vietname no palco internacional. O Vietname garantiu formalmente o lugar no Mundial depois dos intensos play-offs da Taça da Ásia feminina de 2022, onde venceu a Tailândia e Taiwan. Embora haja ainda muito a fazer quanto ao desenvolvimento do futebol feminino, o Vietname consegue manter um campeonato nacional em que participam sete equipas. Também assistimos às primeiras jogadoras a saírem para o estrangeiro na história do futebol feminino vietnamita, como Huynh Nhu para Portugal, onde joga no Länk Vilaverdense, e Tran Thi Hong Nhung para a Tailândia. Espera-se que a presença da seleção no Mundial represente um impulso para o crescimento do futebol feminino, de modo a que o Vietname consiga encurtar o fosso para as equipas mais fortes da Ásia. «Não definimos ambições altas, mas podemos aprender muito neste torneio», disse o selecionador Mai Duc Chong ao site da FIFA. «É uma oportunidade para competirmos frente a adversárias muito boas e podermos aprender com a sua experiência, qualidades e técnica. Também temos de ser mentalmente fortes. Vamos respeitar todos os adversários, mas não temos medo.» No seu primeiro Mundial, o Vietname vai jogar em contra-ataque. A força desta equipa reside no facto de ter um par de alas rápidas (Tuyet Dung e Thanh Nha) e uma avançada ágil que também é uma boa finalizadora (Huynh Nhu). Este estilo de jogo ajudou a seleção vietnamita a marcar um golo frente à Alemanha num jogo particular em Frankfurt, em junho.
O Mundial será o último torneio de Mai Duc Chung como selecionador feminino do Vietname, correndo a cortina sobre uma carreira gloriosa tanto com a seleção feminina como com a equipa masculina. Foram contratados vários treinadores estrangeiros, mas antes de Chung nenhum conseguiu tornar realidade o sonho de levar o Vietname ao Mundial. Ele é conhecido como «duplo» (ou bombeiro de serviço), uma vez que, claramente vezes de mais, assumiu temporariamente o comando das seleções masculina e sub-23 do Vietname em tempos de crise, até ser encontrado novo treinador.
Aos 21 anos, Nguyen Thi Thanh Nha já soma 27 internacionalizações pelo Vietname, com sete golos marcados. Venceu duas medalhas de ouro nos Jogos do Sudoeste Asiático, jogou os quartos de final da Taça da Ásia e vai ser fundamental neste Mundial. Avançada astuta e versátil, Thanh Nha – que já é uma estrela nas redes sociais vietnamitas – não é uma finalizadora, mas a sua velocidade é extremamente impressionante. No particular na Alemanha em que o Vietname perdeu por 2-1, demonstrou a sua rapidez de movimentos antes de marcar à equipa que ocupa o segundo lugar do ranking mundial.
Num tempo em que a naturalização de atletas se tornou comum e acontece em todos os cantos do mundo, a seleção feminina vietnamita destaca-se por não ter jogadoras naturalizadas ou estrangeiras. Toda a equipa se formou a nível doméstico e a maioria das jogadoras joga em clubes vietnamitas. Huynh Nhu é a única das convocadas para o Mundial a jogar futebol fora do país.
O futebol é o desporto mais popular no Vietname, mas o futebol feminino não está em pé de igualdade com o masculino. Com exceção da seleção, que atrai atenção considerável, a maioria dos jogos de clubes só levam algumas centenas ou um milhar de adeptos aos estádios. O futebol feminino vietnamita ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir a profissionalização e melhor comercialização, de modo a atrair mais atenção.
Integrado no Grupo E com as seleções dos Estados Unidos, campeã em título, e dos Países Baixos, finalista vencida em 2019, o Vietname não é um candidato realista a um dos dois primeiros lugares. O objetivo mais provável é limitar o número de golos sofridos e tentar algo mais no outro jogo, frente a Portugal, que também é estreante em Mundiais.
Texto de Minh Chien Tu